quinta-feira, 8 de outubro de 2020

LIVRO DA SEMANA: MAYOMBE, de Pepetela

Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, mais conhecido pelo pseudômino de Pepetela, publicou o romance Mayombe em 1971, retratando a história dos guerrilheiros do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) numa guerra que durou de 1961 a 1974.
Se conhecer e se reconhecer. Essa é a experiência principal pelas quais passam os personagens de Mayombe. Aliás, Mayombe é o nome da selva onde os guerrilheiros do MPLA empreitam sua luta contra o domínio português, para sair da condição de colonizados. Esse espaço, a selva, tem uma importância muito grande no que diz respeito à conscientização desses homens, não mais como pertencentes a etnias/tribos diferentes, desarticulados na luta pela independência, mas agora, se reconhecendo como um só povo lutando por uma só nação! É enfrentando as condições totalmente inóspitas da selva que surge esse reconhecimento de si mesmo como cidadão de um país e o sentimento de nacionalidade, independente das origens étnicas/tribais de cada um.
Um aspecto interessante dessa obra é que embora haja um narrador onisciente que conduz a trama, os outros personagens também ganham voz para contar suas experiências e para que possamos ver vários lados de uma mesma verdade.
Para saber mais sobre essa obra, seu enredo e contexto histórico acesse:
- Em “Mayombe”, selva faz surgir o “homem novo” angolano”/site Jornal da USP/ https://bit.ly/30Juw7s
- Mayombe (romance)/wikipedia.org/ https://bit.ly/36LciWU

Assista aos vídeos abaixo sobre esse romance angolano e suas características.

       (Fonte: canal Ler Antes de Morrer - Isabella Lubrano/YouTube/https://bit.ly/34FWp1g)

                   (Fonte: canal Pandora Vestibulares/YouTube/https://bit.ly/3dcF2cE)

                   (Fonte: canal Leio, Logo Escrevo/YouTube/https://bit.ly/2GuXzFa) 

UM POUCO DE CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICO-SOCIAL

Mapa da África no início do século XX (Fonte: mercadopopular.org/https://bit.ly/30P68Bz) 

A GUERRA COLONIAL
O tema central do romance é a guerra pela independência da Angola. O conflito entre diversos grupos angolanos com as tropas portugueses durou mais de 13 anos. A luta armada teve diversas frentes e elementos. Os grupos que defendiam a independência da Angola tinham características muito diferentes entre si.
Além de visões políticas opostas, os grupos que lutavam pela independência também tinham suas bases fundadas em diferentes regiões e eram apoiados por grupos étnicos diversos.
O MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) foi um dos primeiros grupos. Formado por maioria Mbundu, tinha laços com o Partido Comunista português e pregava o marxismo-leninismo. O FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola) era outro grupo importante, com forte apoio dos Bakongos e dos Estados Unidos.
Após a independência, o MPLA assumiu o poder e, pouco tempo depois, o país entrou em guerra civil. Boa parte desse entrave se deu porque o FNLA não aceitava o regime comunista. Mesmo tendo uma união tácita durante a guerra da independência, a luta na Angola foi complexa, com diversas nuances e conflitos internos.
O romance do Pepetela trata sobre uma frente do MPLA na região da Cabinda, de maioria bantus, e que também busca a independência de forma paralela à Angola. Isso gera certa desconfiança por conta dos guerrilheiros, dentre eles, só um é da etnia bantu
.

O TRIBALISMO
Um dos principais aspectos do Mayombe é o tribalismo. A Angola era composta por inúmeras tribos que foram subjugadas e unidas sobre o mando de Portugal em um único país.
Diversas línguas compunham o leque linguístico de Angola. O português era a língua oficial que, de certo modo, unia todos, porém, ela não era a língua materna dos falantes e nem todos falavam português fluentemente.
A unificação de diversas tribos sobre o país da Angola gerou um processo chamado tribalismo. Antes de serem angolanos, os cidadãos eram de determinadas tribos. A herança étnica gera desconfiança entre membros de diferentes tribos.
"Somos nós, com a nossa fraqueza, o nosso tribalismo, que impedimos a aplicação da disciplina. Assim nunca mudará nada."
Em Mayombe os conflitos gerados pelo tribalismo se misturam aos próprios conflitos gerados pela organização do MPLA. Os guerrilheiros desconfiam entre si por conta das tribos de origem uns dos outros e as relações políticas e de poder dentro da organização também se misturam com essa desconfiança.
Apesar de alguns guerrilheiros serem "destribalizados" (seja por terem passado muito tempo na Europa ou terem crescido em Luanda ou terem país de tribos diferentes). A maioria deles sente-se pertencente à determinadas tribos e as relações entre si acabam passando por uma espécie de filtro tribal.

(Fonte: culturagenial.com/https://bit.ly/2GuvDRL)

QUEM É PEPETELA?

Pepetela (Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos) nasceu em 29 de outubro de 1941, em Benguela, cidade angolana. Com 15 anos de idade, foi para a cidade de Lubango, onde iniciou seu engajamento político.

Em 1958, mudou-se para Portugal, onde estudou no Instituto Superior Técnico e na Universidade de Lisboa. Durante os quatro anos que viveu nesse país, participou de discussões na Casa dos Estudantes do Império, uma espécie de albergue para estudantes das colônias portuguesas, onde grupos de estudantes anticolonialistas e antifascistas refletiam sobre política e cultura.

O escritor não aceitou a obrigação de alistar-se no exército português e, por isso, exilou-se em Paris, na França, onde viveu por seis meses. Depois, foi para a Argélia e, ali, formou-se em sociologia.

Também fez parte do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), além de ter sido um dos fundadores do Centro de Estudos Angolanos. Assim, de 1969 a 1974, tomou parte na luta armada. Como guerrilheiro, era chamado de Pepetela (“pestana”, em umbundo, uma língua bantu), nome de guerra que se transformou em seu pseudônimo literário.

Durante a guerrilha, Pepetela também foi responsável pela propaganda a favor da luta armada pela independência, ocorrida em novembro de 1975, quando se tornou o vice-ministro da Educação (cargo que ocupou até 1982) e participou da fundação da União dos Escritores Angolanos (UEA). Então, passou a trabalhar como professor de Sociologia na Universidade de Luanda, além de dedicar-se à escrita literária e tornar-se o primeiro escritor angolano a receber o Prêmio Camões. (Fonte: brasilescola.uol.br / https://bit.ly/34ysvfy) 

Para ler uma biografia mais completa acesse  https://bit.ly/34Egpl1 (wikipedia.org)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários publicados neste blog são MODERADOS. Portanto, só serão publicados os comentários que estiverem de acordo com nossos termos. Por favor, antes de publicar, leia nossos TERMOS DE USO, abaixo listados.
1. Publique somente comentários relacionados ao conteúdo do artigo.
2. Comentários anônimos não serão publicados bem como aqueles que apresentem palavras e/ou expressões de baixo-calão, ofensas ou qualquer outro tipo de falta de decoro.
3. Os comentários postados não refletem a opinião do autor deste blog.

ANO 2024 - Bem-vindos!

CARDÁPIO DO MÊS - Abril 2024

O projeto CARDÁPIO DO MÊS tem por objetivo chamar a atenção dos usuários da Sala de Leitura para determinadas obras que a cada mês são sel...