terça-feira, 30 de novembro de 2021

Livro da Semana: O MULATO, de Aluísio Azevedo

Raimundo: homem de olhos azuis, no auge dos seus 26 anos de idade. Cabelos muito pretos e lustrosos. Pele morena e amulatada, mas fina. Dentes claros que reluziam a negrura de seu bigode. Pescoço largo e estatura alta, elegante, com sobrancelhas muito desenhadas no rosto. Gestos nobres, educados, sóbrios, despidos de pretensão. Falava em voz baixa. Vestia-se de bom gosto e amava as artes, em especial, a literatura. Essas são as características do protagonista de um dos primeiros romances naturalistas da literatura brasileira, O Mulato, publicado pelo maranhense Aluísio de Azevedo em 1881.

Quando lançado, o Brasil passava por reajustes em sua “ordem social”, contexto bem delineado nesta obra dividida em 19 capítulos. Nos romances de Aluísio de Azevedo, encontramos uma radiografia sociológica de cenas do cotidiano brasileiro em meados do Segundo Reinado e nos primeiros momentos de uma nação republicana, mergulhadas em suas contradições desde que era colônia europeia, saqueada cotidianamente. Graças ao seu posto de escritor, dramaturgo, ilustrador e cronista, o autor circulou por diversos espaços da sociedade e com a experiência, adquiriu a destreza ideal para flertar com as temáticas presentes em sua obra.

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Com ressonâncias de Émile Zola¹, Aluísio de Azevedo deixa minar em seu enredo tópicos como a abolição da escravatura, os papeis desempenhados pela igreja na política e no bojo da sociedade, as manifestações naturalistas/realistas nas artes, reflexo dos assuntos cotidianos, o declínio da economia açucareira e a vertiginosa urbanização, tema este que desagua posteriormente em O Cortiço. Parte integrante de uma nação tomada pelo analfabetismo, Aluísio de Azevedo foi um dos poucos escritores que “viveu” por conta da sua produção, tendo se dedicado ao campo da diplomacia depois que já havia considerado suficiente o tempo de dedicação ao terreno pouco fértil da ficção, algo que lhe traria apenas reconhecimento póstumo.

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São Luís, por sinal, é mais que um espaço cênico, pois de tão viva, se impõe como personagem. Por suas ruas, homens e mulheres negros cumprem as suas tarefas. No interior das casas, as pessoas brancas gozam de seus privilégios. Sobre as mulheres, as que não estão recolhidas em seus afazeres domésticos, ocupam um posto pouco respeitado por circular em sociedade. Com narração atmosférica, imersiva, O Mulato apresenta ao leitor um clima fúnebre em diversas passagens, até mesmo nos momentos de descontração. É a prévia da tragédia que se estabelecerá na vida de Raimundo, um homem que para alguns recalcados, não merecia prover de tanta pompa, afinal, era “um negro e deveria se pôr em seu devido lugar”.

De uma atualidade hedionda, todas as características descritas sobre Raimundo, como percebemos, não o torna um privilegiado. Ele sofre as agruras do racismo velado, estruturado e espalho como um rizoma pela sociedade, já naquela época. Imagina, então, a vida dos mulatos da contemporaneidade? Um caos, não é mesmo? Só não acha isso quem vive em torno do mito da democracia racial brasileira, história tão cabulosa quanto o tal “sonho americano”. O cinema, o teatro, a televisão, a publicidade, e atualmente, as redes sociais, demonstram diariamente histórias semelhantes ao destino de Raimundo e Ana Rosa, personagens moldados no âmbito literário, criados com base em tensões da realidade.

Ademais, O Mulato é uma publicação que fez um ousado projeto de divulgação, algo pouco comum na época. Aluísio de Azevedo preparou o terreno de São Luís para o seu lançamento, tendo em vista algumas estratégias incomuns até mesmo no Rio de Janeiro, o “centro de todas as coisas” no Brasil em caminhada para o final do século XIX. Cartazes, panfletos e outros recursos na imprensa tornaram o romance uma sensação antes mesmo de sua disponibilidade para os poucos leitores que naquele momento, detinha a possibilidade de acompanhá-lo. A recepção não foi calorosa e teve até crítico mandando o escritor fazer trabalhos braçais e abandonar a escrita, haja vista a vulgaridade de sua temática, desrespeitosa com elementos políticos e religiosos da sociedade maranhense.

¹ Émile Zola foi um consagrado escritor francês, considerado criador e representante mais expressivo da escola literária naturalista além de uma importante figura libertária da França

(Fonte: CAMPOS, Eduardo. Crítica / O Mulato, de Aluísio de Azevedo. Disponível em: pontocritico.com / https://bit.ly/3G5N7gt)

OUTRAS RESENHAS SOBRE ESTA OBRA

- Resenha - O Mulato. Disponível em: interesses-sutis.blogspot.com / https://bit.ly/3lmlh7A

O Mulato - Aluísio Azevedo (Resumo). Disponível em: mundovestibular.com.br / https://bit.ly/3limxsw

PARKER, Pedro. Resenha sobre o livro O Mulato. Disponível em: pedro-parker.medium.com / https://bit.ly/318a9UB

VÍDEO-RESENHAS SOBRE ESTA OBRA

O Mulato, de Aluísio Azevedo

(Fonte: canal Ler Antes de Morrer - YouTube / https://bit.ly/3ljzimk)

O Mulato, de Aluísio Azevedo
(Fonte: canal Diego Cardoso - Cultura e Ação - YouTube / https://bit.ly/3ljA4Qg)

O Mulato: um negro não poderia se dar bem no século 19
(Fonte: canal Lendo com o Leão - YouTube / https://bit.ly/3ljA4Qg)

O Mulato, de Aluísio Azevedo

(Fonte: canal Guia de Linguagens - YouTube / https://bit.ly/3llqP2m)

QUEM FOI ALUÍSIO AZEVEDO?

Aluísio Azevedo (1857-1913) foi um escritor brasileiro. "O Mulato" foi o romance que iniciou o Movimento Naturalista no Brasil. Foi também caricaturista, jornalista e diplomata. É membro fundador da cadeira nº. 4 da Academia Brasileira de Letras.

Aluísio Azevedo (Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo) nasceu em São Luís, Maranhão, no dia 14 de abril de 1857. Em 1871 matriculou-se no Liceu Maranhense e dedicou-se ao estudo da Pintura.

Com 19 anos foi levado pelo irmão, o teatrólogo e jornalista Artur Azevedo, para o Rio de Janeiro. Começou a estudar na Academia Imperial de Belas-Artes, onde revelou seus dons para o desenho. Logo passou a colaborar, com caricaturas para os jornais "O Mequetrefe", "Fígaro" e "Zig-Zag".

Escola Literária

Com a morte do pai, em 1879, Aluísio volta para São Luís e começa a carreira literária para ganhar a vida. Publica seu primeiro "Romance Romântico", Uma Lágrima de Mulher (1879), onde se mostra exageradamente sentimental para satisfazer um público ávido pelo romantismo.

Em 1881, publica O Mulato, romance que iniciou o “Movimento Naturalista no Brasil”. A obra denunciava o preconceito racial existente na burguesia maranhense e provocou uma reação indignada da sociedade, que se viu retratada nos personagens, mas o livro foi um sucesso de vendas.

No dia 7 de setembro de 1881, Aluísio Azevedo volta para o Rio de Janeiro decidido a se dedicar à vida de escritor. Publicou inúmeros contos, crônicas, romances e peças de teatro, nos folhetos dos jornais da época, na maioria obras de feição romântica, cujos enredos conduziam ora a tragédia ora ao desenlace feliz, entre eles: Memórias de Um Infeliz (1882) e Mistério da Tijuca (1882).

Durante os intervalos da sua intensa produção literária, Aluísio Azevedo procurava escrever livros sérios e mais trabalhados. Surgem suas obras mais importantes, que pertencem à fase “Naturalista” do escritor, entre elas: O Homem, Livro de Uma Sogra, O Cortiço e Casa de Pensão.

Preocupado com a realidade cotidiana, seus temas prediletos foram: a luta contra o preconceito de cor, o adultério, os vícios e o povo humilde. Na obra O Cortiço, Aluísio retrata o aumento da população no Rio de Janeiro e o aparecimento de núcleos habitacionais, denominados cortiços, onde se aglomeravam trabalhadores e gente de atividades incertas. O grande personagem do romance é o próprio cortiço.

Carreira diplomática

Em 1895, com quase quarenta anos, Aluísio vence um concurso para cônsul e ingressa na carreira diplomática, servindo na cidade de Vigo, na Espanha, no Japão, na Inglaterra, Itália, Uruguai, Paraguai e Argentina. Durante todo esse período não mais se dedicou a produção literária. Vivia com a argentina Pastora Luquez, junto com os dois filhos, Pastor e Zulema, por ele adotados.

Aluísio Azevedo faleceu em Buenos Aires, Argentina, no dia 21 de Janeiro de 1913. Seis anos depois, no governo de Coelho Neto, a urna funerária de Aluísio Azevedo foi transferida para São Luís, sua terra natal.

(Fonte: ebiografia.com / https://bit.ly/3pbVdgG)

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