quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Livro da Semana: A FALÊNCIA, de Júlia Lopes de Almeida

Quando o livro A FALÊNCIA, de Júlia Lopes de Almeida, chegou à Sala de Leitura de nossa escola não dei muita importância porque ao relembrar as aulas de literatura brasileira de minha graduação em Letras e, desse modo, sendo pretensamente conhecedor dos bons autores nacionais, tanto o título quanto sua autora me eram totalmente desconhecidos. Sendo assim, com base em minha falta de informação, coloquei-o na estante de literatura brasileira em um lugar sem muito destaque, longe dos grandes nomes nacionais. Um tempo se passou, e, de repente, vejo esse livro compondo a lista de títulos nacionais indicados por um dos vestibulares mais importantes do Estado de São Paulo.
 Fui, então, pesquisar sobre ele e descobri que sua autora, Júlia Lopes de Almeida, é mais um exemplo, dentre tantos outros, da tentativa de apagamento da figura feminina no âmbito profissional, cultural e intelectual. Em sua época, final do século XIX, Júlia já agia como crítica da sociedade em que vivia, sendo feminista sem o saber (o termo nem existia em sua época). Escreveu romances com características realistas e naturalistas, como A FALÊNCIA, sua obra mais conhecida. Portanto, foi uma escritora bem-sucedida, que defendeu a educação para as mulheres, o divórcio e o voto feminino.Vivendo em numa sociedade em transição, que passava de escravocrata à capitalista, em um período pós-monarquia e que recentemente havia abolido, pelo menos oficialmente, a escravidão, Júlia Lopes de Almeida traz à luz, em seu livro A FALÊNCIA, temas como a submissão e dependência financeira das mulheres em relação a seus maridos, misoginia, religião, preconceito racial, casamento por conveniência social e financeira, mulher em um relacionamento extraconjugal e outros assuntos que continuam em discussão na sociedade brasileira e mundial até os dias de hoje. Segundo relatos de leitores da obra, trata-se de um livro que demora um pouco para cativar seu leitor, mas, a partir de determinado momento, não se quer parar de lê-lo nem por um segundo até chegar ao seu término pois tem uma trama muito bem construída e caso fosse adaptado para a TV ou cinema seria um grande sucesso.
Júlia foi contemporânea de Machado de Assis e Aluísio de Azevedo e ao longo de 45 anos escreveu e publicou romances, contos, crônicas, peças de teatro, ensaios e até mesmo livros didáticos para crianças (30 anos antes de outro de seus contemporâneos, Monteiro Lobato, voltar-se à literatura infantil). Entretanto, mesmo tendo integrado o grupo que constituiu a ABL (Academia Brasileira de Letras) e de ter seu nome incluído na primeira lista de “imortais” da instituição, não pôde tomar posse de sua cadeira em 1897, a qual foi para seu marido, o português Filinto de Almeida. Como prova do machismo e desvalorização da mulher na sociedade brasileira do século XIX e metade do século XX, a liberação à participação feminina na ABL viria somente 80 anos depois, com a eleição de Rachel de Queiroz, em 1977.
Então, por tudo isso e mais um pouco, penso que vale a pena realizar essa leitura e conhecer mais sobre essa grande escritora nacional.
(Fonte: André Luiz Gattás - professor da Sala de Leitura)

Relatos  Sobre A FALÊNCIA

"Surpreendente! Pensei que seria só mais uma leitura para o vestibular, mas não. Já conhecia a autora por "Ânsia Eterna", porém a escrita deste aqui é totalmente diferente. A leitura é meio chatinha no início, mas depois que você se prende no enredo, segue rapidamente. O livro em si é uma crítica à sociedade burguesa do século XIX, e discute temas importantes, como escravidão, religião, adultério e o papel da mulher na sociedade da época. Muito bom, o livro é genial."

"A obra explora, não só a falência monetária de uma família burguesa do século XIX, mas a falência moral, monárquica e patriarcal da época. Júlia Lopes de Almeida fala sobre adultério, arte, racismo e pobreza, mas a crítica mais marcante nessa leitura é referente ao papel da mulher na sociedade."

"Surpreendentemente atual! Fiquei impressionada de como esse livro é bom, realmente não esperava gostar tanto por ser um livro antigo. O desenrolar da história é incrível e repleta de críticas que ainda são atuais, com reflexões sobre a sociedade e as relações humanas. A obra transcende o tempo e ainda traz uma visão profunda do contexto histórico e social da época."

Fonte: skoob.com.br / https://bit.ly/3TSkOvb

RESENHAS SOBRE A FALÊNCIA

- SARDI, Gabriela. A falência da sociedade desigual em Júlia Lopes de Almeida. Disponível em: UFRGS – Jornal da Universidade, publicado em 23/06/2022 (Especial: Leituras do Vestibular)/ https://bit.ly/3zVldWN

- Resenha: A Falência por Júlia Lopes de Almeida, publicado em 11/09/2020. Disponível em Naty's Bookshelf Blog / https://bit.ly/4eP4zXH

VÍDEO-RESENHAS SOBRE A FALÊNCIA

(Fonte: canal Aline Aimée - YouTube / https://bit.ly/3Y9oefy)

(Fonte: canal Ler Antes de Morrer - YouTube / https://bit.ly/4erxcus)

(Fonte: canal Literatura com Alencar - YOuTube / https://bit.ly/4dzoQ2C)

(Fonte: canal O Magriço Cibernético / https://bit.ly/3XT21AT)

QUEM FOI JÚLIA LOPES DE ALMEIDA?

Júlia Lopes de Almeida, filha de portugueses ricos e cultos, nasceu em 24 de setembro de 1862, no Rio de Janeiro. Porém, quando ainda era criança, ela e sua família se mudaram para uma fazenda, em Campinas, no estado de São Paulo. A escritora recebeu uma educação liberal e, com o apoio do pai, aos 19 anos de idade, já escrevia para A Gazeta de Campinas, atividade intelectual incomum para as mulheres da época, uma vez que era monopolizada pelos homens.

Alguns anos depois, em 1886, Júlia Lopes de Almeida mudou-se para Lisboa, em Portugal, e publicou, em coautoria com a irmã — a escritora Adelina Lopes Vieira (1850-1923) —, o livro Contos infantis. Por isso, é considerada uma das pioneiras da literatura infantil brasileira. Ali conheceu e se casou com o poeta português Filinto de Almeida e publicou seu primeiro livro para adultos — Traços e iluminuras —, que foi escrito quando a autora tinha 24 anos.

A contista, romancista, cronista e dramaturga Júlia Lopes de Almeida retornou ao Brasil em 1888. Mas, décadas depois, de 1913 a 1918, morou novamente em Portugal. E, de 1925 a 1931, fixou residência em Paris. Morreu no Rio de Janeiro, em 30 de maio de 1934, vítima de malária, possivelmente contraída em sua recente viagem à África, deixando uma obra de autoria feminina extensa e não só literária, mas também historicamente significativa.

A escritora tinha ideias bem avançadas para a sua época, pois defendia a abolição da escravatura, a república, o divórcio e a educação formal de mulheres, além dos direitos civis. Escreveu para periódicos como A Mensageira, Única, O Quinze de Novembro, Kosmos, O País, A Gazeta de Notícias, A Semana, Jornal do Comércio, Ilustração Brasileira, Tribuna Liberal e Brasil-Portugal. Também realizou palestras sobre o lugar da mulher na sociedade brasileira e outras questões nacionais.

Academia Brasileira de Letras

Alguns idealizadores da ABL, como Filinto de Almeida (o sétimo da esquerda para a direita), além de Olavo Bilac e Machado de Assis.

A Academia Brasileira de Letras foi fundada em 1897; porém, seu planejamento começou logo após a Proclamação da República (1889), por iniciativa de um grupo de intelectuais. Entre eles, Júlia Lopes de Almeida era a única mulher. Assim, o escritor Lúcio de Mendonça (1854-1909), em artigo no jornal Estado de S. Paulo, mostrou ser justo oferecer uma cadeira na Academia para a escritora. Todavia, isso não ocorreu, pois, segundo os intelectuais que se opuseram, não havia mulheres na Académie Française de Lettres, que servia de inspiração para a Academia Brasileira.

Em vez da escritora, foi aceito o seu marido, Filinto de Almeida, para ocupar a cadeira número 3, na Academia Brasileira de Letras, que se manteve exclusivamente masculina até 1977, quando Rachel de Queiroz (1910-2003) tornou-se a primeira mulher eleita para a Academia. Porém, quando a ABL completou 120 anos, Júlia Lopes de Almeida foi homenageada, como forma de restituir seu nome como cofundadora.

(Fonte: brasilescola.com.br / https://bit.ly/47WfI74)

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