[...]"Conceição
Evaristo não errou em nada, como esperado. Ela acertou em absolutamente tudo. É
um livro de crônicas, histórias pequenas que podem ser lidas no final do seu
dia, no começo, no ônibus, no intervalo da escola/faculdade, onde quiser. Sem
muitas desculpas, pois é um livro curto, não mais de 120 páginas, para ser mais
exata, 114. Olhos d’Água retrata aquilo que ninguém quer retratar. As vezes te
tira sorrisos, outra, te deixa com o estômago revirado, de vez em quando você
chora junto com os personagens, mas sempre bem real."[...]
VASCONCELOS, Vanessa. [Resenha] Olhos D’Água, Conceição Evaristo. Disponível em: https://bit.ly/32SxJTv
Um bom exemplo é Natalina, que, mesmo tendo trazido três filhos ao mundo, sente-se mãe de verdade apenas na quarta gravidez, embora essa tenha se originado de uma situação violenta, porque, a despeito dessa contradição, agora o filho seria todo seu (sem as marcas de outro alguém) e não a obrigaria a se unir (se prender) a outra pessoa. Aquele bebê em seu ventre é também a lembrança de sua escapada da morte. Natalina certamente seria chamada de desnaturada na vida real, por ter abandonado os outros filhos, mas é apenas uma mulher ciente de suas possibilidades. [...]
Maria da Conceição Evaristo de Brito (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1946). Romancista, contista e poeta. Nasce em uma comunidade no alto da Avenida Afonso Pena. Trabalha como empregada doméstica até 1971, quando conclui os estudos secundários no Instituto de Educação de Minas Gerais.
Muda-se para o Rio de Janeiro
em 1973, ocasião em que é aprovada para o magistério. Estuda na Universidade
Federal do Rio de Janeiro e forma-se em Letras. Ingressa no mestrado em
Literatura Brasileira da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
(PUC/RJ) onde defende, em 1996, a dissertação Literatura Negra: uma poética da
nossa afro-brasilidade. Defende a tese de doutoramento Poemas Malungos –
Cânticos Irmãos, em 2011, na Universidade Federal Fluminense (UFF).
Tem participação em revistas e publicações, nacionais e internacionais, que tem por tema a afrobrasilidade. Tal engajamento inicia-se na década de 1980, por meio do Grupo Quilombhoje, responsável pela estreia literária de Conceição em, 1990, com obras publicadas na série Cadernos Negros. Suas obras, poesia e prosa, especialmente o romance Ponciá Vicêncio (2003), abordam temas como a discriminação de raça, gênero e classe. Atualmente, Conceição leciona na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) como professora visitante.
Análise
Em sua poesia, Conceição
Evaristo, pontua sua ancestralidade de maneira crítica, beirando o tom de um
manifesto, em uma clara tomada de partido que dá lugar à cultura negra de forma
lírica e política:
A voz de minha bisavó
ecoou criança
nos porões do navio.
Ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos donos de tudo.
Conceição Evaristo mostra a permanência da exclusão do negro desde a escravidão, no período colonial brasileiro. Tal denúncia expressa a dignidade do povo negro, libertando-o da opressão de séculos.
Em Ponciá Vicêncio, Evaristo
relata a vida de uma menina negra e pobre, moradora da zona rural, até sua
precoce maturidade, como uma espécie de romance de formação feminino e negro. A
ação do enredo é composta pela busca de identidade em meio a desastres
familiares, recuperados pela memória. Desse modo, a narrativa acompanha a
evolução da protagonista pelos episódios de perda, desencontro e ausência
familiar e cultural, que marcam sua trajetória.
(Fonte: enciclopediaitaucultural.org.br / https://bit.ly/38R9usv)
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