terça-feira, 17 de novembro de 2020

LIVRO DA SEMANA: OLHOS D'ÁGUA, de Conceição Evaristo

Olhos D'Água
é composto por quinze contos curtos, mas bastante densos, nos quais Conceição Evaristo conta histórias de realidades brasileiras sobre mulheres negras, em sua maioria. Em quase todos os contos o nome da personagem principal está presente no título. A própria autora dá o nome de “escrevivência” ao que faz e de fato podemos observar sua experiência de vida contida num texto com sofisticação estilística, marcado por oralidade e por um conteúdo muito cru e verdadeiro. Os neologismos (resultado da junção de duas palavras que forma uma outra), são uma das marcas mais características do estilo da autora.
Embora seja um livro que descreve muitas dificuldades e absurdos socialmente aceitos, o texto também contém alguns traços de humor, como quando, durante um assalto, o assaltado começa a se despir e o assaltante lhe diz: “Não, doutor, a cueca não! Sua cueca não! Sei lá se o senhor tem alguma doença ou se tá com o [  ] sujo!”.
O livro transita entre temas como fome, constrangimentos sexuais, aborto e suicídio, mostrando a vulnerabilidade dos amores e lágrimas falsas que aliviam lágrimas reais. Apesar da brutalidade, do "mundo cão" como se diz, presente no contexto dos personagens, a riqueza da prosa nos aproxima de cada um deles e nos torna empáticos com os seus sofrimentos, despertando um sentimento de humanidade no leitor. 
Olhos d’água ganhou um Prêmio Jabuti e entrou na lista de diversos vestibulares e sua autora escreve também romances e poesia. Não restam dúvidas de que Conceição Evaristo é uma grande escritora que perdurará em nossas prateleiras e memórias, bem como no patrimônio cultural brasileiro.

Abaixo há alguns trechos de boas resenhas sobre o livro Olhos DÁgua. Caso queira ler alguma delas na íntegra, clique no link referenciado.

[...]"Conceição Evaristo não errou em nada, como esperado. Ela acertou em absolutamente tudo. É um livro de crônicas, histórias pequenas que podem ser lidas no final do seu dia, no começo, no ônibus, no intervalo da escola/faculdade, onde quiser. Sem muitas desculpas, pois é um livro curto, não mais de 120 páginas, para ser mais exata, 114. Olhos d’Água retrata aquilo que ninguém quer retratar. As vezes te tira sorrisos, outra, te deixa com o estômago revirado, de vez em quando você chora junto com os personagens, mas sempre bem real."[...]

VASCONCELOS, Vanessa. [Resenha] Olhos D’Água, Conceição Evaristo. Disponível em: https://bit.ly/32SxJTv

"[...] O livro apresenta pessoas normais, que lidam diariamente com seus problemas, seus conflitos e suas alegrias; pessoas que são levadas (ou empurradas), por sua situação social, a fazer suas escolhas. Conceição Evaristo não explora a guerra entre policiais e traficantes, como estamos acostumados a ver em histórias sobre o tema, não separa os personagens em maus e bons, não os coloca em posição de vítimas, mas de escritores de sua própria trajetória.
Um bom exemplo é Natalina, que, mesmo tendo trazido três filhos ao mundo, sente-se mãe de verdade apenas na quarta gravidez, embora essa tenha se originado de uma situação violenta, porque, a despeito dessa contradição, agora o filho seria todo seu (sem as marcas de outro alguém) e não a obrigaria a se unir (se prender) a outra pessoa. Aquele bebê em seu ventre é também a lembrança de sua escapada da morte. Natalina certamente seria chamada de desnaturada na vida real, por ter abandonado os outros filhos, mas é apenas uma mulher ciente de suas possibilidades. [...]
DANTAS, Eliane. [Resenha] Olhos D'Água por Conceição Evaristo. Disponível em: historiasemmim.com.br (https://bit.ly/36I6cVL) 
Abaixo você pode assistir a um vídeo da própria Conceição Evaristo narrando o primeiro conto que dá nome ao livro, Olhos d'Água.
                   (Fonte: canal Literafro / YouTube / https://bityli.com/Es0Ku)
Abaixo você pode assistir a algumas vídeo-resenhas do livro.
              (Fonte: canal Aline Aimee / YouTube / https://bityli.com/Zmx75) 
(Fonte: canal Lendo Mulheres Negras, por Adriele Regine / YouTube / https://bityli.com/ZJx1v) 
QUEM É CONCEIÇÃO EVARISTO?

Maria da Conceição Evaristo de Brito (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1946). Romancista, contista e poeta. Nasce em uma comunidade no alto da Avenida Afonso Pena. Trabalha como empregada doméstica até 1971, quando conclui os estudos secundários no Instituto de Educação de Minas Gerais.

Muda-se para o Rio de Janeiro em 1973, ocasião em que é aprovada para o magistério. Estuda na Universidade Federal do Rio de Janeiro e forma-se em Letras. Ingressa no mestrado em Literatura Brasileira da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC/RJ) onde defende, em 1996, a dissertação Literatura Negra: uma poética da nossa afro-brasilidade. Defende a tese de doutoramento Poemas Malungos – Cânticos Irmãos, em 2011, na Universidade Federal Fluminense (UFF).

Tem participação em revistas e publicações, nacionais e internacionais, que tem por tema a afrobrasilidade. Tal engajamento inicia-se na década de 1980, por meio do Grupo Quilombhoje, responsável pela estreia literária de Conceição em, 1990, com obras publicadas na série Cadernos Negros. Suas obras, poesia e prosa, especialmente o romance Ponciá Vicêncio (2003), abordam temas como a discriminação de raça, gênero e classe. Atualmente, Conceição leciona na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) como professora visitante.

 Análise

Em sua poesia, Conceição Evaristo, pontua sua ancestralidade de maneira crítica, beirando o tom de um manifesto, em uma clara tomada de partido que dá lugar à cultura negra de forma lírica e política:

A voz de minha bisavó
ecoou criança
nos porões do navio.
Ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos donos de tudo.

Conceição Evaristo mostra a permanência da exclusão do negro desde a escravidão, no período colonial brasileiro. Tal denúncia expressa a dignidade do povo negro, libertando-o da opressão de séculos.

Em Ponciá Vicêncio, Evaristo relata a vida de uma menina negra e pobre, moradora da zona rural, até sua precoce maturidade, como uma espécie de romance de formação feminino e negro. A ação do enredo é composta pela busca de identidade em meio a desastres familiares, recuperados pela memória. Desse modo, a narrativa acompanha a evolução da protagonista pelos episódios de perda, desencontro e ausência familiar e cultural, que marcam sua trajetória.

(Fonte: enciclopediaitaucultural.org.br / https://bit.ly/38R9usv) 

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