quarta-feira, 18 de novembro de 2020

PERSONALIDADE DA SEMANA: DJAMILA RIBEIRO

Segunda-feira passada, às 22h, ao sintonizar a TV Cultura para ver quem seria o entrevistado do programa Roda Viva, como sempre faço, deparei-me com uma mulher negra bonita e articulada intelectualmente, falando sobre como descobriu sua própria negritude e como construiu seu caminho intelectual, relato este que também está presente em um de seus livros - QUEM TEM MEDO DO FEMINISMO NEGRO. Foi lendo autoras negras, resgatando sua própria história familiar e ressignificando as experiências e o preconceito que sofreu desde criança que ela descobriu a estratégia de "ver a força da falta como uma mola propulsora para a construção de pontes". Nesse programa ela fala de maneira didática e franca sobre racismo estrutural, os danos sociais que ele causa e o que fazer para nos tornarmos antirracistas. Ela faz críticas às sociedades modernas e ao modo que os negros ainda são (des)considerados ou (mal)trados mas também não hesita em criticar o movimento negro sem medo algum. Vale a pena assistir e conhecer melhor essa grande brasileira e suas ideias a respeito das pessoas negras e o contexto social em que vivem. 

                       (Fonte: canal Roda Viva / YouTube / https://bit.ly/3kGGvdh)

Abaixo você tem uma lista de livros indicados por Djamila Ribeiro para lermos durante o isolamento social. Ela sugere obras de romance, ficção e poemas escritos por pessoas negras. Essa lista foi sugerida pela autora num bate papo ao vivo no Instagram da revista Marie Claire, para a qual escreve uma coluna. Um desses livros, Olhos d'Água, de Conceição Evaristo, é a resenha da semana neste blog. Vale a pena conferir! Vamos à lista:

1. Amada – Toni Morrison
A história é baseada em fatos reais e é ambientado em 1873, época em que os Estados Unidos começavam a lidar com as feridas da escravidão recém-abolida. Com estilo sinuoso, Toni Morrison constrói uma narrativa complexa, que entrelaça com maestria brutalidade e lirismo. (Editora Companhia das Letras)

2. O Olho Mais Azul – Toni Morrison
Considerado um dos livros mais impactantes da autora, seu primeiro romance conta a história de Pecola Breedlove, uma menina negra que sonha com uma beleza diferente da sua. Negligenciada pelos adultos e maltratada por outras crianças por conta da pele muito escura e do cabelo muito crespo, ela deseja mais do que tudo ter olhos azuis como os das mulheres brancas – e a paz que isso lhe traria. Mas, quando a vida de Pecola começa a desmoronar, ela precisa aprender a encarar seu corpo de outra forma. (Editora Companhia das Letras)

3. Se a Rua Beale Falasse – James Baldwin
O romance lançado em 1974, narra os esforços de Tish para provar a inocência de Fonny, seu noivo, preso injustamente. O livro inspirou o filme homônimo dirigido por Barry Jenkins, vencedor do Oscar por Moonlight. (Editora Companhia das Letras)

4. O Caminho de Casa – Yaa Gyasi
Nascida em Gana e criada nos Estados Unidos, a jovem Yaa Gyasi tornou-se um dos nomes mais comentados na cena literária norte-americana em 2016. Seu romance de estreia, O caminho de casa, recebeu resenhas estreladas dos mais importantes jornais e revistas do país, alcançou a disputada lista dos mais vendidos do The New York Times e foi incluído na prestigiosa lista dos 100 livros notáveis do ano do mesmo jornal. Com uma narrativa poderosa e envolvente que começa no século XVIII, numa tribo africana, e vai até os Estados Unidos dos dias de hoje, Yaa mostra as consequências do comércio de escravos dos dois lados do Atlântico ao acompanhar a trajetória de duas meias-irmãs desconhecidas uma da outra, e das gerações seguintes dessa linhagem separada pela escravidão. (Editora Rocco)

5. Interseccionalidade – Carla Akotirene
A autora e discute o conceito de interseccionalidade como forma de abarcar as interseções a que está submetida uma pessoa, em especial a mulher negra. O termo define um posicionamento do feminismo negro frente às opressões da nossa sociedade cisheteropatriarcal branca, desfazendo a ideia de um feminismo global e hegemônico como diretriz única para definir as pautas de luta e resistência. (Editora Pólen)

6. Incidentes na Vida de Uma Menina Escrava – Harriet Ann Jacobs
Obra traz relato de uma ex-escravizada que conquistou a liberdade aos 27 anos e conta como sobreviveu a um sistema no qual mulheres negras eram assediadas, estupradas, separadas de seus filhos recém-nascidos ou ainda crianças e tinham de abdicar da maternidade para amamentar e cuidar dos filhos das “senhoras” (Editora Todavia)

7. Escritos de Uma Vida – Sueli Carneiro
A mulher negra é a síntese de duas opressões, de duas contradições essenciais a opressão de gênero e a da raça. Isso resulta no tipo mais perverso de confinamento. Se a questão da mulher avança, o racismo vem e barra as negras. Se o racismo é burlado, geralmente quem se beneficia é o homem negro. Ser mulher negra é experimentar essa condição de asfixia social. (Editora Pólen)

8. Olhos d’água – Conceição Evaristo
ajusta o foco de seu interesse na população afro-brasileira abordando, sem meias palavras, a pobreza e a violência urbana que a acometem. Sem sentimentalismos, mas sempre incorporando a tessitura poética à ficção, seus contos apresentam uma significativa galeria de mulheres: Ana Davenga, a mendiga Duzu-Querença, Natalina, Luamanda, Cida, a menina Zaíta. Ou serão todas a mesma mulher, captada e recriada no caleidoscópio da literatura em variados instantâneos da vida? Elas diferem em idade e em conjunturas de experiências, mas compartilham da mesma vida de ferro, equilibrando-se na “frágil vara” que, lemos no conto “O Cooper de Cida”, é a “corda bamba do tempo”. (Editora Pallas)

9. No Seu Pescoço – Chimamanda Ngozi Adichie
A obra reúne os contos magistrais da premiada autora do best-seller Americanah. Nos doze contos encontramos a sensibilidade da autora voltada para a temática da imigração, da desigualdade racial, dos conflitos religiosos e das relações familiares .(Editora Companhia das Letras)

10. Eu sei por que o pássaro canta na gaiola – Maya Angelou
A vida de Marguerite Ann Johnson foi marcada por racismo, abuso e librtação. A garota negra, criada no sul por sua avó paterna, carregou consigo um enorme fardo que foi aliviado apenas pela literatura e por tudo aquilo que ela pôde lhe trazer: conforto através das palavras. Dessa forma, Maya, como era carinhosamente chamada, escreve para exibir sua voz e libertar-se das grades que foram colocadas em sua vida. (Editora Astral)

11. Apropiação Cultural – Rodney William
O doutor em Ciências Sociais e babalorixá Rodney William trata o tema sob a ótica histórico-cultural do colonialismo, relembrando o processo de aculturação e aniquilamento dos costumes pelo qual passou os povos escravizados. Faz, a partir daí, a conexão com as práticas predatórias dos mercados capitalistas colonizadores atuais, que se valem dos traços culturais de um povo para lucrar, e esvaziam de significado esses símbolos de pertencimento. (Editora Pólen)

12. Ideias para adiar o fim do mundo – Ailton Krenak 
Uma parábola sobre os tempos atuais, por um de nossos maiores pensadores indígenas. Neste livro, o líder indígena critica a ideia de humanidade como algo separado da natureza, uma “humanidade que não reconhece que aquele rio que está em coma é também o nosso avô”. (Editora Companhia das Letras)

13. Encarceramento em Massa – Juliana Borges
Na obra, a autora reflete as seguintes questões: Por que fazer um livro sobre encarceramento, sistema de Justiça Criminal punitivo e feminismo negro? Qual é o ponto de conexão entre estas pautas? Por que prisão, punição, superencarceramento interessa às mulheres, prioritariamente às mulheres negras? (Editora Pólen)

14. Olhares Negros – bell hooks
A autora interroga narrativas e discute a respeito de formas alternativas de observar a negritude, a subjetividade das pessoas negras e a branquitude. Em suas palavras, “os ensaios de Olhares negros se destinam a desafiar e inquietar, a subverter e serem disruptivos”. Como podem atestar os estudantes, pesquisadores, ativistas, intelectuais e todos os outros leitores que se relacionaram com o livro desde sua primeira publicação, em 1992, é exatamente isso o que estes textos conseguem. (Editora Elefante)

QUEM É DJAMILA RIBEIRO

Djamila Ribeiro é Mestre em Filosofia Política. É conferencista, realizou palestras em diversos países, entre eles, na Beauvoir Society, em 2011 e 2014 na Universidade do Oregon e Saint Louis (EUA) e em La Plata em 2015 (Argentina). Em 2016 palestrou por duas vezes na sede da ONU, em Nova York. Em Harvard, em 2017 e 2018 (EUA) e em Oxford e King's College (Inglaterra); Goethe University em Frankfurt 2018 (Alemanha), onde esteve também como Special partner da Bienal de Artes Modernas de Berlim (Alemanha) em 2018. Esteve em Barcelona em 2018 e Madri em 2019 (Espanha). Em 2019 esteve também em Paris, Rennes, Lille, Toulouse e Montpellier (França) e em Bruxelas (Bélgica) lançando a versão traduzida de seus dois livros em francês, bem como proferiu palestras em Berkeley, Califórnia, e Duke, Carolina do Norte (EUA)  

Ao longo de sua trajetória, recebeu algumas premiações como Prêmio Cidadão SP em Direitos Humanos, em 2016. Trip Transformadores, em 2017. Melhor colunista no Troféu Mulher Imprensa em 2018, Prêmio Dandara dos Palmares e está entre as 100 pessoas mais influentes do mundo abaixo de 40 anos, segundo a ONU. Também é conselheira do Instituto Vladimir Herzog e visitou a Noruega a convite do governo Norueguês para conhecer as políticas de equidade de gênero do país, em 2017. Foi escolhida como “Personalidade do Amanhã” pelo governo francês em 2019.

Em março de 2018, a convite da Revista Gol, foi pra Detroit produzir um artigo para a revista. Djamila foi capa da Revista GolRevista Claudia, colunista da Carta Capital e Revista Elle Brasil. Atualmente é colunista do jornal Folha de S. Paulo e da Revista Marie Claire.  

É coordenadora da coleção Feminismos Plurais onde já foram publicados seis volumes contando com a sua primeira obra intitulada O que é lugar de fala?, que esteve em segundo lugar na lista dos mais vendidos da FLIP junto com Quem tem medo do Feminismo Negro?, lançado pela Companhia das Letras e que aparece em terceiro na mesma lista. Seus dois livros aparecem nas listas dos mais vendidos na Bienal do Livro de São Paulo, Flipelô e na Revista Veja. Além de ser a primeira mulher brasileira a ser convidada para o Festival do Livro de Edimburgo em 2018 e ser presença confirmada na Feira do Livro de Berlim nesse ano.  

Fez consultoria de conteúdo para a marca Avon, para a Rede Globo de Televisão no programa Amor e Sexo, entre outras empresas e instituições. É idealizadora e coordenadora do Selo Sueli Carneiro.

(Fonte: fronteiras.com / https://bit.ly/36JVD4w)

Instagram: @djamilaribeiro1

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