sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

LIVRO DA SEMANA 3: GRANDE SERTÃO: VEREDAS, de João Guimarães Rosa

"O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem."
João Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas

João Guimarães Rosa é um dos grandes escritores da literatura brasileira, considerado um experimentalista, com sua prosa poética cheia de neologismos e variados recursos linguísticos e poéticos que transformam seu texto em uma melodia cheia de significados mais ocultos do que explícitos. Pesquisador de campo, ele andava sempre com um bloco de notas no bolso quando viajava pelo sertões de Minas, Goiás e Bahia,  para anotar o modo de falar das pessoas do campo, o que lhe serviria, mais tarde, de material riquíssimo na elaboração de sua obra literária. Seu pai o estimulava muito quando criança e ainda jovem nesse hábito prazeroso de contar e ouvir “causos”, muitos deles misteriosos. Em suas histórias, cujos personagens são sempre os homens simples do campo, Guimarães Rosa aborda temas existenciais de caráter universal como o bem e o mal, Deus e o diabo, amor, violência, morte, angústias, os quais também são pertinentes ao homem urbano, e, por isso, seus livros estão na categoria de Literatura Universal. Quem diria que um garoto mineiro, da cidadezinha de Cordisburgo, um dia se tornaria médico, depois diplomata poliglota, vivendo em vários países e representando oficialmente nosso Brasil, e ainda seria um escritor renomado e consagrado! Pois é! Talento é talento! E talento com esforço, estudo, curiosidade e criatividade dá nisso!
Considerado não somente sua
obra-prima, mas também um dos melhores romances da literatura brasileira, Grande Sertão: Veredas até hoje desafia a crítica, os leitores e os estudiosos de literatura. A história se assemelha a um monólogo (embora não o seja) do começo ao fim, cujo narrador é o personagem principal, o jagunço Riobaldo. Publicado em 1956, o romance chama atenção não somente pelas suas mais de 600 páginas (um "tour de force"¹ para leitores menos experientes) como também por não ser dividido em capítulos. Nesse romance, Guimarães Rosa utilizou elementos do experimentalismo linguístico característico da primeira fase do Modernismo juntamente com a temática regionalista da segunda fase do movimento, criando uma obra única e diferente de todas as outras. 
Essa obra teve adaptações para o cinema e a mais famosa foi realizada pela Rede Globo no ano de 1985, em forma de minissérie, na qual os personagens principais foram interpretados pelos atores Tony Ramos, como Riobaldo, e Bruna Lombardi, como Reinaldo/Diadorim.
1. "tour de force" é uma expressão francesa utilizada em português que significa "grande esforço"
(Texto: André Luiz Gattás)

Leia abaixo alguns trechos de resenhas sobre Grande Sertão: Veredas (se quiser ler a resenha na íntegra, clique no link em destaque)

[...] Acredito que quase tudo já tenha sido falado e pesquisado sobre “Grande Sertão Veredas” e sobre seu autor, João Guimarães Rosa. Confesso que quando resolvi ler “Grande Sertão: Veredas” me senti entrando em um tipo de atmosfera literária em que eu teria uma imensa dificuldade em ler. A obra traz uma linguagem da qual não sou muito íntimo - a linguagem de Guimarães Rosa não é convencional, é irregular, intimida. Mas tudo isso é passado. Posso dizer, com toda a segurança, que me senti muito envolvido, muito confortável com a história de Riobaldo, e fascinado com a poesia e a erudição do autor. “Grande Sertão Veredas” é realmente uma obra fantástica.
Meu único contato com a obra de Guimarães Rosa havia sido através de “A Terceira Margem”, um conto magistral de seu livro “Primeiras Estórias”, e só. Mas foi graças a esse conto que resolvi tomar coragem e encarar “Grande Sertão Veredas”.
Guimarães Rosa, desde criança, era um ouvinte das histórias que lhe eram contadas. Buscou na fala regional do centro norte de Minas Gerais a matriz do seu estilo. Como médico, antes de ser diplomata, percorreu toda a região, atendendo a doentes e ouvindo histórias no reino dos bois, no reino dos vaqueiros e dos contadores. Seu contato e convívio com os narradores orais, traz a marca desse universo dos mestres da narração. [...]
(Fonte: bonslivrosparaler.com.br / https://cutt.ly/alwN302)

[...] Aos 9 anos, João se mudou para Belo Horizonte com seus avós maternos, apesar de sempre voltar para Cordisburgo nas férias com a intenção de rever sua cidade-natal, seus amigos e outros familiares. Seu avô, de quem recebeu muita influência, foi professor, médico, escritor e filósofo, inclusive envolvendo João em saraus literários semanais que recebiam em sua residência grandes nomes das letras mineiras.
Desde cedo, João Guimarães Rosa foi leitor assíduo: frequentava a biblioteca pública de Belo Horizonte por horas a fio e alguns dizem que ele até levava lanches para não “perder tempo almoçando”. [...]
(Fonte: luizacipriani.medium.com / https://cutt.ly/SlqYNd4)

Tem livros para os quais a gente precisa voltar de vez em quando e Grande sertão: veredas certamente é um deles. Terminei a primeira releitura nas últimas semanas, mais de 10 anos depois da primeira jornada, e o resultado? Gostei ainda mais do romance de Guimarães Rosa, que já era um dos meus preferidos da vida. [...]
O trecho acima é da resenha 5 coisas marcantes em “Grande Sertão: Veredas” que está dividia assim:
1.      Aquele começo desconcertante
2.      É a história de amor mais dolorida da literatura brasileira – quiça, do mundo
3.      Um sertão bem diferente daquele que você acha que conhece
4.      ... mas também muito parecido em outras coisas.
5.      É um livro sobre ética e justiça, numa perspectiva filosófica
(Fonte: lombadaquadrada.com / https://cutt.ly/SlqUT7A)

[...] É em meio ao bando de pistoleiros que o protagonista reencontra Reinaldo, também jagunço do grupo. Riobaldo desenvolve um afeto diferente por Reinaldo, que posteriormente revela que seu nome verdadeiro era Diadorim. [...]
[...] Assim, com a convivência, Riobaldo e Diadorim se tornam mais próximos e o sentimento em Riobaldo cresce ainda mais, até que ele aceite e admita que nutre um “amor torto” pelo colega, algo impossível de se concretizar.
E de repente eu estava gostando dele, num descomum, gostando ainda mais do que antes, com meu coração nos pés, por pisável; e dele o tempo todo eu tinha gostado. Amor que amei – daí então acreditei.
(Fonte: culturagenial.com / https://cutt.ly/dlqIVRc)

[...] Nesse romance totalmente ambíguo, lidamos com os conflitos de um jagunço reflexivo que: apesar de ter uma noiva, se apaixona por um homem; é religioso, mas faz um pacto com o diabo. Os conflitos de Riobaldo podem ser resumidos na disputa entre o bem e o mal. Embora esses valores sejam relativos, a depender de quem os julga.
Esse é um livro que fica melhor a partir da segunda leitura, pois há tantos detalhes para perceber, interpretar e se deliciar que uma leitura apenas não basta. [...]
(Fonte: oquevidomundo.com / https://cutt.ly/KlqOd8p)

[...] Guimarães Rosa era mestre das palavras, transitava como poucos entre a prosa e a poesia. Empregou elementos nunca antes utilizados na prosa brasileira, elementos como metáforas, aliterações, onomatopeias e ritmo. A força criadora de Rosa inventou uma nova linguagem, permeada por neologismos e empréstimos linguísticos, resgatou termos em desuso e explorou novas estruturas sintáticas para recriar a linguagem do homem simples do interior. Por esse e outros tantos motivos, Grande Sertão: Veredas é um daqueles livros inesquecíveis, que fazem parte da bibliografia básica de todo apaixonado pela literatura. [...]
(Fonte: brasilescola.com.br / https://cutt.ly/alwBOHv)

[...] Como já dito, Riobaldo, o narrador em primeira pessoa do livro, é um jagunço que se dispõe a relatar sua história de vida para um “doutor” que vem da cidade e resolve o entrevistar. Em primeira vista, se assemelha muito a um monólogo, apesar de não o ser, devido à presença de sinais sutis de que há um interlocutor, ainda que este não se manifeste diretamente. Somente nos é possibilitado conhecer que há alguém mais ali através de comentários do próprio Riobaldo, já que não há nenhuma fala direta além das suas. [...]
(Fonte: luizacipriani.medium.com / https://cutt.ly/blwNUvF)

VÍDEO-RESENHAS DE "Grande Sertão: Veredas"

(Fonte: canal Companhia das Letras / José Miguel Wisnik - YouTube / https://cutt.ly/qlruCYI)


(Fonte: canal Ler Antes de Morrer, Isabella Lubrano - YouTube / https://bit.ly/3biYsMl)

(Fonte: canal Casa do Saber, Yudith Rosenbaun / https://bit.ly/2ZCPfJ3

(Fonte: canal Carmem Lúcia - YouTube / https://bit.ly/2NJK7A9)

(Fonte: canal Arte 1, Programa Poesia e Prosa, Maria Bethania - YouTube / https://cutt.ly/ulriS0t)

Em entrevista à TV alemã, em 1962, Guimarães Rosa explica 'Grande Sertão Veredas'. As imagens foram retiradas do documentário “Outro Sertão”, dirigido por Adriana Jacobsen e Soraia Vilela e é uma coprodução Galpão Produções/Instituto Marlin Azul.


(Fonte: canal Estadão - YouTube / https://cutt.ly/wlrpVMu)

QUEM FOI JOÃO GUIMARÃES ROSA

Nascido em 27 de junho de 1908, na cidade mineira de Cordisburgo que, em uma mistura de latim e alemão significa algo próximo de “a cidade do coração”, de fato assim a foi para João Guimarães Rosa. A paixão pela sua terra natal é ainda hoje preservada através da transformação de sua casa em museu, com o nome do autor, em cuja entrada se lê:

O pai de Guimarães Rosa era juiz de paz, vereador e comerciante na região. Por isso, seu armazém era um ponto de encontro de tropeiros e viajantes, que desde cedo entusiasmavam o menino com suas aventuras e, mesmo sem saber, semeavam o cerne do que viria a se tornar obras de destaque da literatura nacional.

Aos 9 anos, João se mudou para Belo Horizonte com seus avós maternos, apesar de sempre voltar para Cordisburgo nas férias com a intenção de rever sua cidade-natal, seus amigos e outros familiares. Seu avô, de quem recebeu muita influência, foi professor, médico, escritor e filósofo, inclusive envolvendo João em saraus literários semanais que recebiam em sua residência grandes nomes das letras mineiras.

Desde cedo, João Guimarães Rosa foi leitor assíduo: frequentava a biblioteca pública de Belo Horizonte por horas a fio e alguns dizem que ele até levava lanches para não “perder tempo almoçando”.

“O homem nasceu para aprender, aprender tanto quanto a vida lhe permita.” — João Guimarães Rosa

Influenciado pelo avô médico, João foi aluno da Faculdade de Medicina de Belo Horizonte (atual UFMG) e ao graduar-se decidiu abrir uma clínica na cidade de Taquara, onde ainda não havia presença desse tipo de profissional. Com isso, tornou-se muito querido na região, atendendo doentes a cavalo pelas fazendas e casebres.

Mais adiante, Guimarães Rosa estudou línguas estrangeiras e acabou optando por tomar o rumo da diplomacia. Para isso, foi morar no Rio de Janeiro e em seguida foi nomeado vice-cônsul em Hamburgo, na Alemanha. Conta-se que o escritor ajudou inúmeras vítimas do nazismo a fugirem do Brasil, assinando o visto em seus passaportes.

Desde menino, porém, Joãozito nutriu verdadeira paixão pelas histórias de jagunços. Apesar de nunca ter morado no sertão (apenas o visitou 2 vezes), pedia ao seu pai detalhes da vida nessa região e dizia que “o sertão está na cabeça”, ou seja, ele mesmo o inventava e o tornava cenário e personagem se suas obras.

“ O sertão é dentro da gente” — João Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas

Antes de escrever Grande Sertão: Veredas, inclusive, João Guimarães Rosa realizou uma viagem de 10 dias pelo sertão, acompanhado de jagunços, boiadeiros e um pequeno caderninho, onde fazia anotações daquela linguagem e estilo de vida tão próprios da região. E foi justamente por essa característica, entre tantas outras peculiaridades, que as obras de Guimarães Rosa se tornaram grandiosas, cheias de neologismos, regionalismos e musicalidade (conta-se, inclusive, que o escritor pedia para sua filha ler suas obras em voz alta, para que ele pudesse sentir e aprovar a musicalidade de suas próprias frases).

Suas grandiosas obras o levaram a ser escolhido, por unanimidade, para a Academia Brasileira de Letras. Anos depois de ser convocado, decidiu tomar posse em 16 de novembro de 1967, exatos 3 dias antes de falecer subitamente por causa de um infarto. 

(Fonte: luizacipriani.medium.com / https://cutt.ly/SlqYNd4)


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