quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

LIVRO DA SEMANA 2: SAGARANA, de João Guimarães Rosa

[...] porque o sertão é o terreno da eternidade, da solidão (...). No sertão, o homem é o EU que ainda não encontrou um TU; por ali os anjos e o diabo ainda manuseiam a língua" [...]

A primeira versão de SAGARANA, primeira obra de João Guimarães Rosa, foi escrita em 1938 e participou do concurso literário “Humberto de Campos” promovido pela livraria José Olympio, a mesma que publica livros até hoje. Só oito anos depois, em 1946, veio a ser publicada para o grande público com o título Contos e sob pseudônimo de Viator.

Nessa obra, constituída por nove contos (embora alguns classifiquem esse conjunto de textos como novelas), o autor também revela elementos típicos da fala do sertanejo mineiro, no estilo “contação de causo”, construindo narrativas bastante alegóricas. O que isso quer dizer? Quer dizer que o escritor usa a alegoria como recurso literário quando, ao contar uma história simples sobre qualquer coisa ou fato concreto, na verdade o que pretende é instigar o leitor a refletir sobre ideias abstratas, ocultas à uma primeira vista.

Como já foi mencionado em um artigo anterior sobre este mesmo autor, é através do emprego de uma linguagem de caráter representativo que Guimarães Rosa também leva o leitor por um passeio através do fluxo de sentimentos, pensamentos, angústias e conflitos que se passam no interior dos personagens (característica bastante evidente na estética modernista) através de uma prosa poética, estilo este que faz uso de todos os recursos da poesia.

(Texto: André Luiz Gattás)

Algumas observações importantes sobre o texto de Guimarães Rosa (se quiser ler o texto na íntegra, clique no link em destaque)

[...] Voltada para as forças virtuais da linguagem, a escritura de Guimarães Rosa procede abolindo intencionalmente as barreiras entre narrativa e lírica, revitalizando recursos da expressão poética: células rítmicas, aliterações, onomatopeias, rimas internas, elipses, cortes e deslocamentos sintáticos, vocabulário insólito, com arcaísmos e neologismos, associações raras, metáforas, anáforas, metonímias, fusão de estilos [...]
[...] Guimarães Rosa tinha plena consciência das dificuldades que seus textos apresentam para o leitor: "Como escritor, não posso seguir a receita de Hollywood, segundo a qual é preciso sempre orientar-se pelo limite mais baixo do entendimento. Portanto, torno a repetir: não do ponto de vista filológico¹ e sim do metafísico², no sertão fala-se a língua de Goethe, Dostoievski e Flaubert, porque o sertão é o terreno da eternidade, da solidão (...). No sertão, o homem é o eu que ainda não encontrou um tu; por ali os anjos e o diabo ainda manuseiam a língua"[...]
(Fonte: vestibular.uol.com.br - https://bit.ly/3s4Xx95)
1. Filologia:
a. estudo rigoroso dos documentos escritos antigos e de sua transmissão, para estabelecer, interpretar e editar esses textos.
b. estudo científico do desenvolvimento de uma língua ou de famílias de línguas, baseado em documentos escritos nessas línguas.
 2. Metafísica:
a. no aristotelismo, subdivisão fundamental da filosofia, caracterizada pela investigação das realidades que transcendem a experiência sensível, capaz de fornecer um fundamento a todas as ciências particulares, por meio da reflexão a respeito da natureza primacial do ser; filosofia primeira.
b. no kantismo, estudo das formas ou leis constitutivas da razão, fundamento de toda especulação a respeito de realidades suprassensíveis (a totalidade cósmica, Deus ou a alma humana), e fonte de princípios gerais para o conhecimento empírico.
c. por extensão, qualquer sistema filosófico voltado para uma compreensão ontológica, teológica ou suprassensível da realidade.

Veja alguns trechos de resenhas sobre SAGARANA (Para ler na íntegra, clique no link em destaque).

[...] O título Sagarana é um neologismo, fenômeno linguístico muito presente nas obras de Guimarães. É a junção da palavra "saga" com "rana", de origem tupi, que significa "semelhante com". Assim Sagarana é semelhante a uma saga. [...]
(Fonte: culturagenial.com / https://bit.ly/2OO0DQr)

[...] Entre as experiências vividas pelo autor estão as viagens pelo sertão brasileiro, principalmente o mineiro, acompanhadas pelos famosos caderninhos de anotações. Neles, Guimarães Rosa registrava palavras e expressões do povo brasileiro que, mais tarde, transformaria em metáforas poéticas. [...]
(Fonte: vestibular.uol.com.br / https://bit.ly/3ashd0l

Vida, obra e curiosidades sobre João Guimarães Rosa

Neste vídeo você conhecerá mais sobre esse homem que além de grande escritor, foi médico, diplomata e tinha muito bom humor e sabedoria para com a vida. Verá também trechos de uma entrevista com a filha de Guimarães Rosa num programa de TV sobre literatura. 
(Fonte: Nina & Suas Letras - YouTube / https://bit.ly/3beKawd)

Aqui você pode assistir à entrevista completa com a filha de Guimarães Rosa no programa de TV Trilhas & Letras, da TV Brasil.
(Fonte: tvbrasil - YouTube / https://bit.ly/3bfu0m8)

Entrevista rara do escritor e diplomata brasileiro João Guimarães Rosa para um canal de televisão independente em Berlim, em 1962. São uma das únicas imagens em movimento deste grande autor da literatura brasileira.
(Fonte: canal Fernando Graça - YouTube / https://bit.ly/3bl3Bn5)

VÍDEO-RESENHAS  E VÍDEO-AULAS DE SAGARANA

(Fonte: canal Ler Antes de Morrer, Isabella Lubrano - YouTube / https://bit.ly/3dqC72a

(Fonte: canal Brasil Escola - YouTube / https:// bit.ly/3k8aADW)

(Fonte: canal Brasil Escola - YouTube / https://cutt.ly/hk56HjJ)

(Fonte: canal Literature-se - YouTube / https://cutt.ly/Tk56MjV)

(Fonte: canal Vá ler um Livro - YouTube / https://cutt.ly/2k6qNu7)

(Fonte: canal Explica Mais, Prof. Ricardo - YouTube / https://cutt.ly/Fk6ewoh)

Abaixo você pode conhecer um pouco do enredo de cada conto de SAGARANA

O Burrinho Pedrês
Esse conto retrata o afogamento de um grupo de vaqueiros e cavalos quando vão atravessar o Córrego da Fome. Dois dos vaqueiros sobrevivem ao episódio: Francolim e Badu.

A Volta do Marido Pródigo
O personagem principal é Lalino, um homem preguiçoso e malandro, que abandona sua mulher e viaja para o Rio de Janeiro. Quando retorna, sua mulher, Ritinha, está casada com Ramiro. No final do conto, ele reata com ela.

Sarapalha
Esse conto revela a história de Ribeiro e Argemiro, que são afetados pela malária. Abandonados por todos, Argemiro revela a Ribeiro o interesse que ele tinha em sua mulher, Luísa. Depois da revelação, Ribeiro expulsa Argemiro de suas terras.

O Duelo
A história se concentra no adultério da mulher de Turíbio, Silvana, com Cassiano. Diante disso, Turíbio resolve matar seu adversário, mas por engano tira a vida do irmão dele. Acaba por fugir e sendo morto por Vinte-e-Um, um conhecido de Cassiano.

Minha Gente
Emílio vai visitar seu tio e acaba se apaixonando por sua prima: Maria Irma. O amor não é correspondido pois Maria estava interessada em Ramiro que, por fim, torna-se seu marido.

São Marcos
José, mais conhecido como “Izé”, não acredita em feiticeiros e sempre recita a Oração de São Marcos, como forma de zombar dessa crença. Para se vingar dele, um feiticeiro consegue um retrato dele e coloca uma venda na região de seus olhos na foto, deixando-o cego por um tempo.

Corpo Fechado
O conto revela o interesse de Antonico das Pedras-Águas, o feiticeiro, sobre a mula pertencente a Manuel Fulô. Com o intuito de conseguir a mula, o feiticeiro promete “fechar o corpo” de Manuel.

Conversa de Bois
Esse conto descreve a trajetória de um carro de bois que leva rapadura e o defunto pai de Tiãozinho. Paralelamente, o boi Brilhante conta a história de outro, enquanto revela os maus-tratos que os animais sofrem.

A Hora e Vez de Augusto Matraga
Essa é a história de Augusto Estêves, depois de perder seus bens e seus capangas. Além disso, sua mulher e filha fogem com Ovídio Moura. Indignado, resolve ir à propriedade de seu adversário Major Consilva. Ele estava com seus capangas. No entanto, Augusto é espancado e marcado com ferro. Consegue fugir da propriedade do Major, sendo encontrado por um casal de pretos, que cuida dele. Mais tarde, o bando de Joãozinho Bem-Bem, o mais temido jagunço do sertão, chega a cidade em que estava Augusto. Embora tenham ficado amigos, no momento em que Augusto fala para Joãozinho não matar uma família, ele resolve revidar. No duelo final, ambos morrem.

Assista ao filme baseado no conto acima, A Hora e a Vez de Augusto Matraga, que também foi adaptado como minissérie pela Rede Globo.
(Fonte: canal Deije Alejandro - YouTube / https://cutt.ly/ok6rxmY)

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