ÚRSULA, de Maria Firmina dos Reis
Úrsula é considerado um dos
primeiros romances abolicionistas e o primeiro escrito por mulher na literatura
brasileira. Nele, Maria Firmina consegue pegar um típico enredo e recheá-lo de
críticas e análises sociais, fazendo isso do ponto de vista negro e feminino.
Fique conosco para saber tudo sobre o resumo de Úrsula de Maria Firmina!
[...]
Úrsula é uma obra icônica
desde sua origem: é considerado o primeiro romance escrito por uma mulher, no
Brasil. Além disso, também é um romance precursor da temática abolicionista,
pois é anterior até mesmo à poesia de Castro Alves.
Ainda pode ser visto como o
primeiro romance da literatura afro-brasileira, cujo conceito é: produção de
autoria afrodescendente que retrata o negro a partir de uma perspectiva
interna. Isso porque Maria Firmina nasceu filha de um branco com uma negra,
sendo, portanto, afrodescendente.
A autora, sabendo de sua
posição social no século XIX, já diz logo no prólogo do livro:
“Pouco vale este romance,
porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem
o trato e conversação dos homens ilustrados.”
Também por este motivo, na
obra original, ela publicou utilizando o pseudônimo “uma maranhense”.
Análise geral da obra
Pela primeira vez na nossa
literatura houve uma narrativa tão crítica e realmente vivida. Por ser
afrodescendente e estar num contexto anterior à Lei Áurea, a autora soube expor
o que ela e sua família sentiram e viveram. Até então, só havia produções de
brancos falando sobre os negros.
Apesar de a “heroína” ser
branca, a narrativa traz essa visão realística sobre a escravidão e há, dentre
os principais personagens, uma tríade de negros com uma participação bem
pensada. O trio começa atuando pontualmente e de forma discreta, depois vai
crescendo e ganhando representatividade até que, ao final, o leitor já está
completamente envolvido por eles e seus feitos.
Além disso, os integrantes
estão presentes em cenas que falam muito: no primeiro capítulo “Duas Almas
Generosas”, a escritora confronta a ideia vigente na época de que o negro era
ruim por natureza. Também retrata elementos da cultura negra como sinônimo de
algo forte e bom.
[...]
(Fonte: beduka.com/blog / https://bit.ly/3yQYKo1)
Abaixo você pode ler mais sobre esse livro:
Biografia: Maria Firmina dos Reis
(Fonte: canal Lili Shwarcz - YouTube / https://bit.ly/3AQsrGo)
Maria Firmina dos Reis nasceu em São Luís do Maranhão, em 11 de março de 1822. Entretanto, seu batismo ocorreu apenas em 21 de dezembro de 1825, constando na certidão sua condição de "filha natural" de Leonor Felippa dos Reis e estando ausente do documento o nome de seu pai (ADLER, 2017). Afrodescendente nascida fora do casamento e vivendo num contexto de extrema segregação racial e social, aos cinco anos ficou órfã e teve que se mudar para a vila de São José de Guimarães, no município de Viamão, situado no continente e separado da capital pela baía de São Marcos. O acolhimento na casa da tia materna teria sido crucial para a sua formação (Mott, 1988).
Formou-se professora e exerceu, por muitos anos, o magistério, chegando a receber o título de "Mestra Régia". Em 1847, com vinte e cinco anos, Reis vence concurso público para a Cadeira de Instrução Primária na cidade de Guimarães-MA, conforme registra seu biógrafo Nascimento Morais Filho (1975). E, ainda segundo este autor, ao se aposentar, no início da década de 1880, funda, na localidade de Maçaricó, a primeira escola mista e gratuita do Maranhão e uma das primeiras do País. O feito causou grande repercussão na época e por isso foi a professora obrigada a suspender as atividades depois de dois anos e meio.
A escritora foi presença constante na imprensa local, publicando poesia, ficção, crônicas e até enigmas e charadas. Segundo Zahidé Muzart (2000, p. 264), “Maria Firmina dos Reis colaborou assiduamente com vários jornais literários, tais como A Verdadeira Marmota, Semanário Maranhense, O Domingo, O País, Pacotilha, O Federalista e outros”. Além disso, teve participação relevante como cidadã e intelectual ao longo dos noventa e cinco anos de uma vida dedicada a ler, escrever, pesquisar e ensinar. Atuou como folclorista, na recolha e preservação de textos da cultura e da literatura oral e também como compositora, sendo responsável, inclusive, pela composição de um hino em louvor à abolição da escravatura.
A escritora trouxe a público três narrativas de ficção: Úrsula, de 1859, seguramente o primeiro romance publicado por uma mulher negra em toda a América Latina - e primeiro romance abolicionista de autoria feminina da língua portuguesa -, no qual aborda a escravidão a partir do ponto de vista do Outro; Gupeva, de 1861, narrativa curta de temática indianista, publicada em capítulos na imprensa local, com várias edições ao longo da década de 1860; e o conto "A escrava", de 1887, texto abolicionista empenhado em se inserir como peça retórica no debate então vivido no país em torno da abolição do regime servil.
Já seu volume de poemas Cantos à beira-mar, cuja primeira edição é de 1871, traz textos marcados por forte inquietação e por uma subjetividade feminina por vezes melancólica diante da realidade oitocentista marcada pelos ditames do patriarcado escravocrata e representada como problema perante a sensibilidade da autora.
Maria Firmina dos Reis faleceu em 1917, pobre e cega, no município de Guimarães-MA. Infelizmente, muitos dos documentos de seu arquivo pessoal se perderam e até o momento não se tem notícia de nenhuma imagem sua digna de credibilidade. A propósito, circula na internet uma foto da escritora gaúcha Maria Benedita Borman, pseudônimo "Délia", como se fosse da autora maranhense. A escultura reproduzida nesta página foi elaborada a partir de retrato falado colhido pelo biógrafo da autora.
Em 2017, por ocasião do centenário da morte de Firmina, seus livros foram relançados: Úrsula, já na sétima edição, trazendo em apêndice o conto "A Escrava", de 1887; Gupeva, em sexta edição; além de Cantos à beira-mar, volume de poemas novamente disponível em publicação da Academia Ludovicence de Letras, de São Luís, organizada pela pesquisadora Dilercy Aragão Adler.
Data ainda de 2017 o volume crítico Maria Firmina dos Reis: uma missão de amor, também de autoria de Dilercy Aragão Adler, em que a pesquisadora divulga documentos até então inéditos, encontrados no Arquivo Público do Maranhão, dando conta da verdadeira data de nascimento da autora - 11 de março de 1822 - até então confundida com a data de seu batismo, que só ocorreria três anos mais tarde. O livro de Adler esclarece também a condição social de sua mãe, Leonor Felippa dos Reis, em verdade uma escrava alforriada que pertenceu ao Comendador Caetano José Teixeira. Tais descobertas esclarecem em definitivo dúvidas até então existentes sobre o nascimento da escritora e o estrato social a que pertenceu sua mãe.
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