terça-feira, 21 de setembro de 2021

Trilha Antirracista / Sociologia: LUGAR DE FALA, de Djamila Ribeiro

Popularizado nos debates sociais brasileiro há poucos anos, o conceito de lugar de fala é usado atualmente por diversos ativistas de movimentos sociais. Entretanto, ainda resta muita dúvida no que a expressão realmente significa. [...]

Entendendo o conceito

“O lugar social não determina uma consciência discursiva sobre esse lugar. Porém, o lugar que ocupamos socialmente nos faz ter experiências distintas e outras perspectivas”.

A frase de Djamila Ribeiro, filósofa, feminista negra e escritora, faz parte do seu livro O que é lugar de fala? lançado em 2017. Nele, Djamila apresenta um panorama histórico sobre as vozes que foram historicamente interrompidas. A partir disso, é possível questionar: quem tem mais chances de falar (e ser ouvido) na sociedade?

Ao analisar a população brasileira, vemos que as minorias (grupos marginalizados na sociedade) ainda ocupam poucos espaços políticos sendo menos representadas e, por consequência, menos ouvidas.. É nesse momento que entra o lugar de fala.

Djamila explica que essa hierarquia estruturada na sociedade faz com que as produções intelectuais, saberes e vozes desses grupos sejam tratadas de modo inferior, fazendo com que as condições estruturais os mantenham em um lugar silenciado.

Sendo assim, a ideia do lugar de fala tem como objetivo oferecer visibilidade a sujeitos cujos pensamentos foram desconsiderados durante muito tempo. Dessa forma, ao tratarmos de assuntos específicos a um grupo, como racismo e machismo, pessoas negras e mulheres possuem, respectivamente, lugar de fala. Isto é, podem oferecer uma visão que pessoas brancas e homens podem não ter. Desse modo, o microfone é passado para as pessoas que realmente vivenciam aquela realidade.

Isso não significa que quem não faz parte daquele grupo não pode expressar sua opinião, entretanto, o ideal é abrir espaço para aprender, entender e respeitar o que aquele grupo está tentando dizer.

O lugar de fala é um pretexto para evitar o debate?

Não! O lugar de fala não se trata de calar ninguém, mas de abrir espaço para que diversas vozes sejam ouvidas e levadas a sério.

Giselle Marques, Coordenadora Regional da Rede Estadual de Afroempreendedorismo em Santa Catarina, afirma que, antes de haver o diálogo sobre opressões de gênero, raça ou classe, é necessária uma “escuta silenciosa”.

O lugar de fala traz, na sua essência, a consciência do papel do indivíduo nas lutas, criando uma lucidez de quando você é o protagonista ou coadjuvante no cenário de discussão. Não há silenciamento de vozes, na verdade é justamente nesse ponto que queremos avançar. Traz uma liberdade para cada grupo se reconhecer e entender em qual espaço se encontra conforme o processo de organização e falar com propriedade a partir dele.

Ou seja, o objetivo não é restringir a troca de ideias, encerrar uma discussão ou impor uma visão. Mas sim, abrir uma nova janela, com a perspectiva de alguém que antes não podia se expressar livremente em sociedade.

Lugar de fala e representatividade são a mesma coisa?
Representatividade significa representar com efetividade e qualidade um segmento ou grupo o qual se quer representar. Um trecho do livro de Djamila ilustra bem a situação:
Uma travesti negra pode não se sentir representada por um homem branco cis (ou seja, aquele que se identifica com o gênero de nascença), mas esse homem branco cis pode teorizar sobre a realidade das pessoas trans e travestis a partir do lugar que ele ocupa. Acreditamos que não pode haver essa desresponsabilização do sujeito do poder. A travesti negra fala a partir de sua localização social, assim como o homem branco cis. Se existem poucas travestis negras em espaços de privilégio, é legítimo que exista uma luta para que elas, de fato, possam ter escolhas numa sociedade que as confina num determinado lugar, logo é justa a luta por representação, apesar dos seus limites”

Portanto, lugar de fala e representatividade não são a mesma coisa.

Entretanto, são conceitos que andam juntos. Afinal, a partir do momento que as camadas marginalizadas da sociedade se sintam representadas em espaços sociais, coletivos e políticos, é uma possibilidade a mais de serem ouvidas. Ou seja, de exercerem o seu lugar de falar.

Os movimentos sociais

Agora que entendemos o conceito de lugar de fala, podemos compreender como é importante que os movimentos sociais tenham suas lutas reconhecidas e legitimadas. Afinal, abrir espaço para que as pessoas exerçam seu direito de fala e sejam escutadas pode ajudar a sociedade a se tornar igualitária no futuro.

Hoje, por exemplo, a maioria dos eleitos na Câmara dos Deputados são homens e brancos – de acordo com pesquisa feita pelo G1 em 2018. Isso nos leva a pergunta: como os diferentes interesses, vivências e necessidades de grupos tão diversos podem ser representados por esse pequeno grupo tão homogêneo?

Bom, é pensando nisso que conceitos como lugar de fala devem ser cada vez mais discutidos e colocados em prática na nossa sociedade.

[...]

(Fonte: politize.com.br / https://bit.ly/3Cz6Enz)

CONFIRA ALGUMAS RESENHAS SOBRE A OBRA: 

- FREITAS, Thayanne T. RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento, 2017. 112 p. (Feminismos Plurais). Disponível em: scielo.br / https://bit.ly/39nJVhR

RESENHA | LUGAR DE FALA, DE DJAMILA RIBEIRO (COLEÇÃO FEMINISMOS PLURAIS). Disponível em: abookaholicgirl.wordpress.com / https://bit.ly/3CpINGW

- ‘Se quiserem debater, que leiam’, diz Djamila Ribeiro sobre racismo. Disponível em: portalgeledes.org.br / https://bit.ly/3AwEB7A

VÍDEO-RESENHAS SOBRE A OBRA: 

Curta! Livros | O que é lugar de fala?
(Fonte: canal Curta! - YouTube / https://bit.ly/3zwwTcp)


O QUE É LUGAR DE FALA? - Djamila Ribeiro | RESENHA 
(Fonte: canal Nath Braga - YouTube / https://bit.ly/2XButvE)

Djamila Ribeiro: "Lugar de fala não é impedir alguém de falar, é dizer que outra voz precisa falar"
(Fonte: canal Carta Capital - YouTube / https://bit.ly/3u0xx0P)

Djamila Ribeiro: "O que é lugar de fala?"

(Fonte: canal Oficinas Culturais do Estado de São Paulo - YouTube / https://bit.ly/3AvCssY)

Lugar de fala desconstrói a possibilidade de diálogo? - Luiz Felipe Pondé
(Fonte: canal Luiz Felipe Pondé - YouTube / encurtador.com.br/jouRW)

Precisamos romper com os silêncios

(Fonte: canal TEDx Talks - YouTube / shorturl.at/ikmCH)

QUEM É DJAMILA RIBEIRO?

Djamila Taís Ribeiro dos Santos, nasceu em 01 de agosto de 1980, em Santos, São Paulo. Ela iniciou o contato com a militância ainda na infância. Uma das grandes influências foi o pai, estivador, militante e comunista, um homem que mesmo com pouco estudo formal, era culto. “Desde muito cedo, eu e meus dois irmãos vivemos nesse meio. Com seis anos, já íamos para atos. A gente debatia esses temas em casa, e meu pai nos fazia estudar a história do nosso povo”, relembra.

O movimento feminista entrou na vida da filósofa aos 19 anos, quando conheceu a ONG Casa de Cultura da Mulher Negra, em Santos, onde trabalhou por cerca de quatro anos. Lá teve contato com obras de feministas e de mulheres negras e passou a estudar temas relacionados a gênero e raça.[2] Graduou-se em Filosofia pela Unifesp, em 2012, e tornou-se mestre em Filosofia Política na mesma instituição, em 2015, com ênfase em teoria feminista. Em 2005, interrompeu uma graduação em Jornalismo. Suas principais atuações são nos seguintes temas: relações raciais e de gênero e feminismo.

É colunista online da CartaCapital, Blogueiras Negras e Revista Azmina e possui forte presença no ambiente digital, pois acredita que é importante apropriar a internet como uma ferramenta na militância das mulheres negras, já que, segundo Djamila, a “mídia hegemônica” costuma invisibilizá-las.

Em maio de 2016, foi nomeada secretária-adjunta de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de São Paulo durante a gestão do prefeito Fernando Haddad. Escreveu o prefácio do livro “Mulheres, raça e classe” da filósofa negra e feminista Angela Davis, obra inédita no Brasil e que foi traduzida e lançada em setembro de 2015. Participa constantemente de eventos, documentários e outras ações que envolvam debates de raça e gênero. Escreveu os livros: “O que é um lugar de fala?”( o livro aborda a urgência pela quebra dos silêncios instituídos, trazendo também ao conhecimento do público produções intelectuais de mulheres negras ao longo da história), “Quem tem medo do feminismo negro?. E também a “revista observatório itaú cultural”.

(Fonte: ABREU, Carolina. MULHERES EM TODAS AS CORES – DJAMILA RIBEIRO. Disponível em: mulheresnaciencia.com.br / https://bit.ly/3Ab57TY)

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