Gênero literário: Distopia
A distopia é uma temática
presente principalmente na filosofia, no cinema e na literatura que, ao lado da
utopia, discute a natureza humana insatisfeita e sempre em busca de um lugar
melhor.
Baseando-se nas estruturas
sociais, a utopia apresenta uma civilização ideal, perfeita (e,
consequentemente, inalcançável). Por sua vez, a distopia mostra e reforça o
lado negativo desse processo, tanto com os excluídos do “paraíso” quanto com o
processo opressor, totalitário e autoritário adotado para alcançar e/ou manter
esse modelo social.
Nas distopias, as relações de
poder são sempre de cima para baixo. Por trás da aparência de sociedade
organizada e feliz existe a manipulação, a alienação e a censura, seja pelos
órgãos do Estado ou pelas corporações. Qualquer discordância é sumariamente
destruída, tanto pela tortura quanto pela morte. A individualidade não existe e
as pessoas são consideradas apenas uma peça dentro de uma estrutura maior.
Segundo a teoria literária, o
tema tem suas raízes em A Utopia (1516), de Thomas Morus. A obra narra a
história de uma sociedade que, numa ilha, aboliu a propriedade privada e a
intolerância religiosa e estabeleceu uma ordem justa e igualitária. Apesar
disso, algumas considerações remontam a discussão ao ano de 380 a.C., quando
Platão discutia a criação de uma sociedade ideal em A República, sem utilizar a
palavra utopia.
No caso da distopia, o primeiro
romance foi Nós, escrito pelo russo Ievguêni Zamiátin no começo da década de
1920. Censurado, o autor apresentou um governo totalitário sob o nome de Estado
Único que privou a população de direitos fundamentais, como livre-arbítrio e a
imaginação, para melhorar o bem-estar da sociedade. O mundo, completamente
mecanizado, lógico e controlado pelo Estado, serviu como inspiração para as
distopias mais famosas, como 1984 (1949) e o seu Grande Irmão, Admirável Mundo
Novo (1932) e Fahrenheit 451 (1953). Essas influências são sentidas até hoje em
livros como Jogos Vorazes (2008).
Estrutura de uma distopia na
literatura:
O lugar utópico, que guia a
história dos livros, pode surgir de dois caminhos: um passado mítico,
romantizado e repleto de abundância ou um futuro modificado por revoluções
sociais e tecnológicas. No texto distópico, as organizações e o Estado são
corruptos, as tecnologias ão utilizadas como ferramentas de controle e o
discurso da obra é, geralmente, pessimista.
Nesse contexto, é possível
destacar alguns elementos recorrentes nessas obras. O primeiro deles é o herói
deslocado, que passa por uma tomada de consciência e se solta da estrutura
social, que conta com o auxílio de alguns ajudantes. Além disso, o cenário
autoritário é frequentemente o antagonista da aventura, e tem apoio de
instituições e agentes, ligados a uma tecnologia cerebral e totalitária. Esses
elementos acentuam a miudeza do protagonista em relação ao sistema e a falta da
individualidade.
Os elementos se estruturam numa
narrativa composta pela introdução, onde a relação do protagonista com o mundo
é descrita; a tomada de consciência vem em seguida, quando o herói percebe
problemas no mundo a sua volta e, em geral, descobre que não está sozinho; Em
seguida, temos a luta contra o sistema e seu respectivo desfecho – que é, em
sua maioria, o exílio ou a morte do protagonista e seus ajudantes.
Algumas distopias brasileiras:
1 - Não Verás País Nenhum, de
Ignácio Loyola de Brandão¹: Provavelmente a mais lembrada das distopias
brasileiras, o livro é de uma aridez e de uma opressão que impactam seus
leitores. No universo da trama um país entregue às multinacionais e
desertificado, sem água e sem alimento. Para comandar isso tudo a hierarquia
onipresente e invisível do Estado, que no caso é O Esquema, movido por
corrupção e jeitinhos. Uma leitura indispensável.
2 - Admirável Brasil Novo, de Ruy
Tapioca: O romance se ambienta num Brasil de 2045 e segundo Cristovão Tezza
"é a representação de um imaginário poderoso sobre o Brasil, que não pode
ser desprezado. Nessa imagem, o que assusta de fato não são os engarrafamentos
gigantescos, a pestilência do ar ou a vulgaridade da televisão; o que realmente
mete medo é a idéia de que a democracia é um regime fracassado e incapaz, de
que "os brasileiros" (com os quais não temos nada a ver) votam mal, e
que "nós" não dispomos de meios de salvá-los senão os imaginados há
50 anos, para, então, começar de novo".
3 - Cyber Brasiliana, de Richard
Diegues: Nesta obra de 2010 e de sucesso entre geeks e nerds temos uma distopia
que inverte o eixo de poder do mundo com relevância do Brasil, mas que acima de
tudo penetra o universo cyberpunk com seu Hipermundo possibilitando uma
realidade alternativa.
4 - Sombras de Reis Barbudos, de
Jose J. Veiga: É provável que seja quase um exagero colocá-la aqui por causa de
um único fator: a obra não olha para o futuro, como em geral das distopias,
contudo neste romance de Veiga as estruturas de poder são intrinsecamente as
estruturas de poder das distopias, só que aqui ao invés de flertar com a ficção
científica o autor parte para o realismo fantástico e o insólito.
5 - Rio - Zona de Guerra, de Leo
Lopes: A obra traz um elemento recorrente à realidade carioca e que também é
abordada no filme Uma História de Amor e Fúria em que o controle se dá por
megacorporações criadas por milícias.
(Fonte: Editora Bookmarks - Equipe de Marketing, 17/03/2020. Disponível em: https://bit.ly/3LKxaPS)
1. Ignácio de Loyola Brandão é um escritor araraquarense, consagrado e reconhecido em âmbito nacional e internacional.
- Viagens de Gulliver (1726), de Jonathan Swift (02 exemplares)
- Viagem ao Centro da Terra (1864), de Júlio Verne (01 exemplar)
- Vinte Mil Léguas Submarinas (1870), de Júlio Verne (01 exemplar)
- A Ilha Misteriosa (1875), de Júlio Verne (01 exemplar)
- A Máquina do Tempo (1895), de H. G. Wells (44 exemplares)
- Admirável Mundo Novo (1932), de Aldous Huxley (16 exemplares)
- A Revolução dos Bichos (1945), de George Orwell (03 exemplares)
- Fahrenheit 451 (1953), de Ray Bradbury (04 exemplares)
- Uma Dobra no Tempo (1962), Madeleine L’Engle (trilogia)
- Livro 1: Uma Dobra No Tempo (01 exemplar)
- Livro 2: Um Vento À Porta (01 exemplar)
Livro 3: Um Planeta Em Seu Giro Veloz (01 exemplar)
- Androides Sonham com Ovelhas Elétricas? (1968), de Philip K. Dick, também conhecido como Blade Runner - O Caçador de Andróides, nome dado à adaptação da obra para o cinema (16 exemplares)
- O Conto da Aia
(1985), Margaret Atwood (01 exemplar)
- Trilogia da Saga "Divergente" (2011-2013), Veronica Roth
Livro 1: Divergente (16 exemplares)
Livro 1: Insurgente (16 exemplares)
Livro 3: Convergente (16 exemplares)
- Quatro (2014) - histórias da série Divergente, Veronica Roth (01 exemplar)
Outras artigos sobre o gênero literário DISTOPIA
- MELO, Caroline. Vivendo um gênero literário: distopia. Disponível em: labdicasjornalismo.com,10/07/2020 (https://bit.ly/3MJSwgk)
- LIMA, Helder. Futuro sem perspectiva? Distopia atual é achar que o autoritarismo é normal, diz escritor de ficção científica. Disponível em: redebrasilatual.com.br, 22/10/2017 (https://bit.ly/3yehzEg)
Alexey Dodsworth, pesquisador do transumanismo, avalia o momento presente no Brasil e no mundo frente às obras clássicas do gênero que projetavam uma vida de regressões e opressão
- COLETTO, Sérgio. A Literatura da Distopia. Disponível em: obviousmag.org/artes e ideias (https://bit.ly/3MRxRXH)
Foram necessários romances que mostravam bárbaros regimes totalitários, fábulas com porcos, gangues violentas, controle biológico, uso indiscriminado de drogas e queima de livros para finalmente entendermos como era impraticável o modelo de utopia construído há alguns séculos atrás. Por isso são tão importantes os autores de "1984", "Laranja Mecânica", "Admirável Mundo Novo" e "Farenheit 451".
Vídeo-resenhas sobre o gênero literário DISTOPIA
Qual a diferença: distopia x ficção científica
(Fonte: canal Bruna Miranda - YouTube / https://bit.ly/3OYA0mk)
(Fonte: canal fantasticursos - YouTube / https://bit.ly/3OYb3Yc)
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