quinta-feira, 30 de junho de 2022

SÉRIE FICÇÃO CIENTÍFICA / DISTOPIA: Júlio Verne

Para começar este artigo, citarei um trecho de um artigo acadêmico escrito por Daniel Vechio, no qual ele explica como o gênero ficção científica (ou utopia científica), com narrativas nas quais a humanidade aposta tudo na tecnologia como forma de construir uma sociedade perfeita e justa, acaba por se entrelaçar com o gênero distopia, sendo que este último apresenta narrativas em que o ser humano sente-se oprimido, desajustado e escravizado em uma sociedade em que a máquina e a ciência prevalecem no comando social vendendo uma imagem falsa e hipócrita de perfeição, felicidade e progresso. 
(André Luiz Gattás)

(...)
Mas é preciso frisar, antes de tudo que, apesar da intensificação das distopias, a crença na possibilidade da ciência e da tecnologia produzirem uma sociedade utópica, na verdade, nunca desaparece. Desse modo, o que temos aqui é um cruzamento das representações literárias opostas da ciência e da tecnologia a partir do século XIX. Como dito, na medida em que a defesa de soluções tecnológicas para problemas sociais era representada pelas utopias, havia também quem delas duvidasse.
Podemos apontar como distopia científica produzida nessa época, a obra The Age of Science, A Newspaper of the Twentieth Century (1877) de Frances Power Cobbe (1822-1904) que representa uma ciência levada aos extremos, em que pessoas são executadas como hereges por ir contra seus princípios industriais e econômicos. E. M. Forster (1879-1970), em seu famoso The Machine Stops (1909), também apresenta os perigos que há se a humanidade se tornar completamente dependente da ciência. O seu conto é uma distopia científica em que uma civilização inteira morre porque perde sua originalidade de existir entre as máquinas.

Portanto, enquanto a utopia científica demanda uma atitude de maravilhamento através da ciência e seus cientistas, os escritores das distopias mostram uma crescente ambivalência em relação a sua disseminação através do estranhamento de um ser humano em um mundo desumano, tomado completamente pela industrialização e suas relações mecanicistas. Essa característica é frequentemente suprimida na leitura comum realizada de muitas ficções científicas produzidas durante o século XIX e XX. Desde Wells até Huxley essa ambivalência é dificilmente captada pela crítica. Ela fica, talvez, mais clara na obra de H. G Wells, erroneamente considerado um cego defensor do avanço científico. Em seus escritos, os problemas, na maioria dos casos, surgem do medo de que a ciência possa ser usada de forma abusiva.

Para muitos escritores de ficção científica como Wells ou Júlio Verne, a máquina é uma força irracional que reflete uma realidade artificial, ou seja, provoca uma teia de relações mecânicas que deteriora seus artistas e pensadores distintos: (...).
(...)
Fonte: VECHIO, Daniel. ESTUDOS INTRODUTÓRIOS SOBRE A UTOPIA E A DISTOPIA CIENTÍFICA NAS OBRAS DE JÚLIO VERNE. Disponível em: RECORTE– revista eletrônica, ISSN 1807-8591 V. 11 - N.º 2 (julho-dezembro - 2014) - https://bit.ly/38zcxrq

Obras de JULIO VERNE presentes em nosso acervo:

A Ilha Misteriosa
Conta as aventuras de um grupo de abolicionistas estadunidenses que, após uma fuga num balão, encontram uma ilha desconhecida. Por vezes, o nome Ilha Misteriosa é usado simplesmente como referência à Ilha Lincoln, ilha fictícia no oceano Pacífico (34° 57' S 150° 30' O), onde a história se desenrola.

Uma grande aventura e, também, um guia de sobrevivência
A ilha misteriosa é um grande clássico e possivelmente a maior aventura que Jules Verne escreveu. Nesta obra grandiosa, o autor demonstra mais uma vez seu grande conhecimento das ciências, em um amplo espectro, indo da geologia, passando por zoologia e botânica, até à astronomia. Chega a ser um compêndio para a sobrevivência em uma ilha remota. Nesse caso, para a sobrevivência dos náufragos do ar. Cyrus Smith, um dos náufragos, é o líder e cabeça da equipe, mas os outros desenvolvem papel importante para a evolução da pequena sociedade que eles formaram. Uma sociedade que chega a ser uma utopia, pois não há conflitos e raramente um deles chega a discordar veementemente sobre a opinião do outro. Assim, nós vemos ao longo da história como "meros" 5 homens (e mais 1 depois) e um cachorro, vão sobrevivendo e transformando o ambiente da ilha a favor deles. É uma síntese da evolução humana a passos largos. Além disso tudo, há mistérios que rondam o cotidiano dos sobreviventes que dá um gosto a mais nessa aventura. Apesar das partes bem descritivas, que faz parte da escrita de Jules, deixar alguns leitores cansados, essas mesmas partes são de interesse para quem gosta de conhecer mais sobre ciências e a natureza em geral. E no mais, é uma narrativa muito interessante e que instiga ao leitor saber qual será os próximos acontecimentos naquela ilha isolada do mundo.
(Fonte: Bruno, Rafael. Disponível em: skoob.com.br/comentarios - https://bit.ly/3a74wLg)

Vinte Mil Léguas Submarinas
Uma expedição parte em busca de respostas mas é atacada por uma criatura e três homens são lançados ao mar. Aronnax, Conselho e Ned Land são resgatados pelo suposto monstro, que descobrem se tratar de um submarino, comandado pelo capitão Nemo. Ele os salva da morte, mas pede um preço alto: serão prisioneiros para sempre.

Publicado em 1870, Vinte Mil Léguas Submarinas é uma das obras de aventura quintessenciais da literatura ocidental. Mais do que isso, o francês Jules Verne ajudou a estabelecer um tipo de romance que, sem abrir mão por um segundo da mais eletrizante carga de entretenimento, apresentava e discutia as principais questões que norteavam o conhecimento científico de seu tempo. E ia além, perscrutando o futuro. A aventura começa quando Dr. Pierre Arronax é convidado pelo Secretário da Marinha dos Estados Unidos a participar de uma expedição de pesquisa naval a bordo do Abraham Lincoln. O objetivo é encontrar um monstro marinho, avistado no Oceano Pacífico. Durante o confronto, Arronax, seu criado Conseil e o arpoador canadense Ned Land são lançados ao mar, para serem subsequentemente resgatados pelo submarino do capitão Nemo, o Nautilus. Narrado por Arronax, o livro é um vasto passeio pelos oceanos do mundo e suas maravilhas submarinas, descritas em detalhes por Verne. Não é apenas a tecnologia que o interessa, mas também a fauna e a geografia marítimas, tudo reforçado em seu maravilhamento da imaginação – como no episódio da luta da tripulação do Nautilus contra uma lula gigante. 
(Fonte: livrosefuxicos.com / https://bit.ly/3udvqbb)

Viagem ao Centro da Terra
Nesse livro Verne conta a história de uma fantástica viagem, motivada pelo encontro de uma misteriosa mensagem escrita em letras rúnicas em um pergaminho, esquecido dentro de um livro de cerca de 700 anos! O professor Lidenbrock e Axel, seu sobrinho, conseguem decifrar a mensagem e partem de Hamburgo, na Alemanha, rumo à Islândia, para tentar chegar ao centro da Terra!!!

Em meados dos anos 1863, o renomado professor de mineralogia Otto Lindenbrock faz uma descoberta surpreendente entre alguns livros velhos: um mapa exploratório descrevendo o que parecia um paraíso intocável dentro do globo. Convencido de que as runas antigas do mapa e que a história possa ser verdadeira, ele e o seu temeroso sobrinho Axel partem para a extraordinária aventura.

“A ciência, meu rapaz, é feita de erros, mas de erros que é bom cometer, pois conduzem à verdade.”

Acompanhados de um guia de pouca conversa, Hans, eles adentram o globo através de uma caverna e vão tomando notas de tudo o que vão encontrando pela frente, desde temperatura, geologia, química e biologia. Mas logo a aventura se mostrará mais desafiadora do que jamais puderam imaginar.

Em meio a túneis sem fins e precipícios mortais, os aventureiros passarão por grandes momentos de aperto e desespero, desde falta de recursos e mantimentos, bem como riscos mortais por todos os lados. Mas tudo valerá a pena para contemplar uma das mais belas vistas de toda a história e um mundo preservado da ação destrutiva do ser humano.

(Fonte: resenhadossonhos.com / https://bit.ly/3OVTuaz)

QUEM FOI JÚLIO VERNE
Jules Gabriel Verne nasceu em Nantes, França, 8 de fevereiro de 1828, primogênito dos cinco filhos de Pierre Verne, advogado, e Sophie Allote de la Fuÿe, oriunda de uma família burguesa da cidade. Era neto de um grande viajante e alfabetizou-se com a viúva de um capitão marítimo. Posteriormente, estudou Humanidades em sua cidade natal e Direito em Paris.

Inicia sua carreira literária logo após a desilusão de seu pai com a carreira de advogado. Assim, tenta ingressar no teatro, escrevendo peças e poemas, além de tentar a sorte com a música, sem sucesso. Em 1848, compõe, em parceria com Michel Carré, dois libretos para operetas, e, dois anos depois, uma comédia versificada, junto com o posteriormente célebre Alexandre Dumas Filho. Entretanto, só descobriu sua verdadeira vocação ao escrever narrativas de viagens.

Alguns biógrafos afirmam que a infância em Nantes, cidade portuária, pode ter estimulado esse pendor, já que o garoto adorava ficar olhando os navios chegarem e partirem. Durante sua vida, nunca viajou muito, tendo feito apenas viagens curtas no seu iate Saint-Michel, visitas rápidas à Inglaterra, Escócia e outros destinos próximos, e uma viagem de navio aos EUA. Todavia, em seus livros, percorreu o mundo, indo da África à Antártida.

O início da carreira, como costuma ocorrer com todos os grandes escritores, é marcado por dificuldades. Seu livro Cinco Semanas no Balão é recusado por 15 editores, com acusações de tentativa ingênua de previsão do futuro, até ser publicado na revista Magazin d'Éducation, resultando em gigantesco sucesso de público e crítica.

Por intermédio do amigo Alexandre Dumas Filho, Verne conhece Pierre Jules Hetzel, o editor mais influente de Paris, que lhe propõe escrever, pelo menos, um livro por ano. Entre as mais célebres, destacam-se Viagem ao Centro da Terra (1865), Da Terra à Lua (1865), Vinte mil léguas submarinas (1869), Os Ingleses no Polo Norte (1870), A Volta ao Mundo em Oitenta Dias (1872), Miguel Strogof (1876) e Um Capitão de 15 Anos (1878).

Além disso, é um dos pioneiros do gênero “Ficção Científica”, tal como o conhecemos atualmente, e, sobretudo, um visionário, tendo previsto inventos como o condicionador de ar, o cinema falado, a iluminação, a televisão, etc.

Suas influências passeiam por Jonathan Swift, com seu livro Viagens de Gulliver, Daniel Defoe e seu Robinson Crusoé, e Edgar Allan Poe e seus contos macabros. Verne compreendia perfeitamente as preferências dos leitores de todas as idades, conseguindo, como poucos, prender sua atenção.

Em 24 de março de 1905, Verne pediu a um criado um exemplar do livro Vinte Mil Léguas Submarinas, perguntou pela mulher e os filhos, cerrou os olhos e faleceu. A atualidade de suas obras, tal como sua popularidade, mantém-se intactas, sendo um dos autores mais conhecidos e apreciados da História da Literatura.

(Fonte: https://www.infoescola.com/escritores/julio-verne/)

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