sexta-feira, 12 de março de 2021

LIVRO DA SEMANA: IRACEMA, de José de Alencar

Iracema, romance classificado como pertencente ao gênero indianismo romântico, faz parte do projeto de José de Alencar de consolidação de uma cultura nacional onde os cidadãos do país se reconhecessem como tendo uma única origem, aquela proveniente da miscigenação entre várias raças. Nesse romance uma índia pagã e um colonizador português e cristão se apaixonam e enfrentam várias dificuldades, conflitos e preconceitos para poder vivenciar esse amor.

O fato de José de Alencar ter sido um leitor assíduo de Walter Scott, escritor inglês do século XIX e criador do gênero romance histórico, fez com que sua obra sempre misturasse ficção com realidade, baseada em documentos históricos e desenvolvendo o enredo com base nesses fatos. O contexto em que se desenvolve a trama de Iracema ocorre num período em que duas etnias indígenas diferentes apoiavam dominadores europeus também diferentes. Enquanto os índios potiguaras, que habitavam as praias cearenses, eram aliados dos portugueses, os tabajaras, habitantes das serras cearenses, eram aliados dos franceses. Estabelecia-se aí, então, outra polaridade. Para criar um enredo de amor romântico nos moldes dos romances europeus, José de Alencar constrói a personagem de Iracema com alguns comportamentos e crenças de uma mulher europeia cristã, e aqui, pode-se citar, por exemplo, o fato de ela se manter virgem para o amado, princípio esse que não existe e nem é valorizado nas sociedades indígenas, já que isso é um dogma do cristianismo.

José de Alencar também faz uso, com maestria, de uma linguagem poética com muitas metáforas e imagens quando se trata de representar o pensamento dos “selvagens”, uma vez que sabe-se que as etnias indígenas tem uma mitologia muito rica e é dela que fazem uso para expressar sua concepção de mundo e contar sua(s) história(s).   O escritor faz uso também de muita adjetivação para descrever a natureza em detalhes, revelando a exuberância de nossos trópicos, criando um cenário idílico, um verdadeiro paraíso, o que vem a ser um dos objetivos dessa estética literária, o indianismo romântico.

A personagem Moacir, fruto do amor entre Iracema e Martin e cujo nome significa “nascido da dor”, mediante todos os sofrimentos que sua mãe enfrentou para  tê-lo, inclusive durante o parto, acaba por ser usada como um recurso para justificar vários fatos, tais como a união de dois povos diferentes, a necessidade do choque, do embate e do sofrimento para o nascimento de algo melhor, que seria uma nova nação (justificando a violência dos colonizadores em relação aos povos indígenas) e nesse tipo de raciocínio podemos fazer várias outras afirmações onde o autor vai justificando todos os crimes cometidos pelos colonizadores contra a cultura indígena.

Iracema foi publicado em 1865, e faz parte da tríade dos romances indianistas juntamente com O Guarani e Ubirajara. Naquela época o Brasil vivia uma euforia nacionalista motivado pelo movimento de independência, ocorrido em 1822. Esses fatos influenciaram os escritores da época que se inspiravam no romantismo europeu, o qual também tinha ideais nacionalistas. Assim, os autores brasileiros adaptavam suas obras à realidade local. Portanto, Iracema pertence à primeira fase do romantismo brasileiro, no qual, tanto na prosa como na poesia, dava-se muito destaque à “língua brasileira”, um português impregnado com dialetos africanos bem como com palavras e expressões indígenas e também construiu-se uma imagem artificial do índio, na tentativa de torná-lo semelhante a um cavaleiro medieval, transformando-o em um verdadeiro herói nacional. Tudo muito idealizado e distante da realidade. Tudo muito "romantizado", como se diz. 

(Texto: André Luiz Gattás)

O Romantismo no Brasil
A despeito de possuir características semelhantes dessa fase, o romantismo é dividido em três fases.
A primeira geração romântica (1836 a 1852) está pautada no nacionalismo-indianismo, visto como a fase inicial para a busca de uma identidade nacional.
segunda geração romântica (1853 a 1869), denominada de “mal do século” ou “ultrarromântica”, destacou-se pela abordagem de temas como a morte, a dor, o amor não correspondido.
terceira geração romântica, chamada de “geração condoreira” (1870 a 1880), ressalta a importância da liberdade.
(Fonte: todamateria.com.br / https://bit.ly/2OgbhQ9)

Características
A Primeira Geração Romântica tem como principais características:
·         Exaltação da natureza e da liberdade
·         Religiosidade
·         Figura do índio ou indianismo
·         Sentimentalismo, emoções
·         Nacionalismo-ufanista
·         Brasileirismo (linguagem)

(Fonte: todamateria.com.br / https://bit.ly/2OgbhQ9)

Para saber mais sobre o movimento literário do Romantismo no Brasil, acesse: 
- todamateria.com.br / https://bit.ly/38w0qse

Algumas resenhas sobre o livro IRACEMA, de José de Alencar

- BASTOS, Natacha. Iracema. educação. literatura / globoeducacao.com. Disponível em: https://bit.ly/3bDlOO0 
- PRADO, Luiz. Iracema apresenta a origem mítica do povo brasileiro. Jornal da USP, 14/10/2018. Disponível em: https://bit.ly/3bHV5Qp

Vídeo-resenhas sobre o livro IRACEMA, de José de Alencar

(Fonte: canal Ler Antes de Morrer / Isabella Lubrano - YouTube / https://bit.ly/3bGbWDa)

(Fonte: canal LíteraBrasil - YouTube / https://bit.ly/38yApsi)


QUEM FOI JOSÉ DE ALENCAR?

José de Alencar (José Martiniano de Alencar), advogado, jornalista, político, orador, romancista e teatrólogo, nasceu em Messejana (atual bairro de Fortaleza), CE, em 1º de maio de 1829, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 12 de dezembro de 1877. É o patrono da cadeira n. 23, por escolha de Machado de Assis.

Era filho do padre, depois senador, José Martiniano de Alencar e de sua prima Ana Josefina de Alencar, com quem formara uma união socialmente bem aceita, desligando-se bem cedo de qualquer atividade sacerdotal. É neto, pelo lado paterno, do comerciante português José Gonçalves dos Santos e de D. Bárbara de Alencar, matrona pernambucana que se consagraria heroína da revolução de 1817. Ela e o filho José Martiniano, então seminarista no Crato, passaram quatro anos presos na Bahia, pela adesão ao movimento revolucionário irrompido em Pernambuco.

As mais distantes reminiscências da infância do pequeno José mostram-no lendo velhos romances para a mãe e as tias, em contato com as cenas da vida sertaneja e da natureza brasileira e sob a influência do sentimento nativista que lhe passava o pai revolucionário. Entre 1837-38, em companhia dos pais, viajou do Ceará à Bahia, pelo interior, e as impressões dessa viagem refletir-se-iam mais tarde em sua obra de ficção. Transferiu-se com a família para o Rio de Janeiro, onde o pai desenvolveria carreira política e onde frequentou o Colégio de Instrução Elementar. Em 1844 vai para São Paulo, onde permanece até 1850, terminando os preparatórios e cursando Direito, salvo o ano de 1847, em que faz o 3º ano na Faculdade de Olinda. Formado, começa a advogar no Rio e passa a colaborar no Correio Mercantil, convidado por Francisco Otaviano de Almeida Rosa, seu colega de Faculdade, e a escrever para o Jornal do Comércio os folhetins que, em 1874, reuniu sob o título de Ao correr da pena. Redator-chefe do Diário do Rio de Janeiro em 1855. Filiado ao Partido Conservador, foi eleito várias vezes deputado geral pelo Ceará; de 1868 a 1870, foi ministro da Justiça. Não conseguiu realizar a ambição de ser senador, devendo contentar-se com o título do Conselho. Desgostoso com a política, passou a dedicar-se exclusivamente à literatura.

A sua notoriedade começou com as Cartas sobre A Confederação dos Tamoios, publicadas em 1856, com o pseudônimo de Ig, no Diário do Rio de Janeiro, nas quais critica veementemente o poema épico de Domingos Gonçalves de Magalhães, favorito do Imperador e considerado então o chefe da literatura brasileira. Estabeleceu-se, entre ele e os amigos do poeta, apaixonada polêmica de que participou, sob pseudônimo, o próprio D. Pedro II. A crítica por ele feita ao poema denota o grau de seus estudos de teoria literária e suas concepções do que devia caracterizar a literatura brasileira, para a qual, a seu ver, era inadequado o gênero épico, incompatível à expressão dos sentimentos e anseios da gente americana e à forma de uma literatura nascente. Optou, ele próprio, pela ficção, por ser um gênero moderno e livre.

Ainda em 1856, publicou o seu primeiro romance conhecido: Cinco minutos. Em 1857, revelou-se um escritor mais maduro com a publicação, em folhetins, de O Guarani, que lhe granjeou grande popularidade. Daí para frente escreveu romances indianistas, urbanos, regionais, históricos, romances-poemas de natureza lendária, obras teatrais, poesias, crônicas, ensaios e polêmicas literárias, escritos políticos e estudos filológicos. A parte de ficção histórica, testemunho da sua busca de tema nacional para o romance, concretizou-se em duas direções: os romances de temas propriamente históricos e os de lendas indígenas. Por estes últimos, José de Alencar incorporou-se no movimento do Indianismo na literatura brasileira do século XIX, em que a fórmula nacionalista consistia na apropriação da tradição indígena na ficção, a exemplo do que fez Gonçalves Dias na poesia. Em 1866, Machado de Assis, em artigo no Diário do Rio de Janeiro, elogiou calorosamente o romance Iracema, publicado no ano anterior. José de Alencar confessou a alegria que lhe proporcionou essa crítica em Como e por que sou romancista, onde apresentou também a sua doutrina estética e poética, dando um testemunho de quão consciente era a sua atitude em face do fenômeno literário. Machado de Assis sempre teve José de Alencar na mais alta conta e, ao fundar-se a Academia Brasileira de Letras, em 1897, escolheu-o como patrono de sua cadeira.

Sua obra é da mais alta significação nas letras brasileiras, não só pela seriedade, ciência e consciência técnica e artesanal com que a escreveu, mas também pelas sugestões e soluções que ofereceu, facilitando a tarefa da nacionalização da literatura no Brasil e da consolidação do romance brasileiro, do qual foi o verdadeiro criador. Sendo a primeira figura das nossas letras, foi chamado “o patriarca da literatura brasileira”. Sua imensa obra causa admiração não só pela qualidade, como pelo volume, se considerarmos o pouco tempo que José de Alencar pôde dedicar-lhe numa vida curta. Faleceu no Rio de Janeiro, de tuberculose, aos 48 anos de idade. 

(Fonte: academia.org.br / https://bit.ly/2PTZ3gh)

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