quinta-feira, 11 de março de 2021

MULHERES EXCEPCIONAIS 3: SIMONE DE BEAUVOIR

Não se pode falar em Simone de Beauvoir sem falarmos de Jean-Paul Sartre, seu companheiro de uma vida toda. Sartre, filósofo conhecido como pai do “existencialismo”, diz que a liberdade e a autenticidade de cada ser humano são essenciais, não importa a angústia que tal liberdade possa nos trazer; diz que são nossas escolhas que definem nossa essência e podem afetar nosso próprio mundo; diz ainda que, ao invés de aceitarmos os valores prontos de uma religião ou tradição qualquer, devemos nos conscientizar que cada ser humano é único e completamente responsável por seus atos, valores e sentidos. Nessa mesma linha de pensamento, em sua obra O Segundo Sexo, Simone de Beauvoir diz: “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre macho e o castrado que qualificam o feminino”. Simone faz uma separação entre os conceitos de sexo, que é um fator biológico, o corpo humano e gênero, que para ela são todas as características que a sociedade associa ao que é “ser mulher” e “ser homem”. Portanto, para ela, o gênero não está ligado à natureza biológica mas à uma elaboração social, ou seja, algo que tem sido criado de maneira diferente em cada sociedade humana ao longo da história, construindo padrões de ação e comportamento para os gêneros masculino e feminino. Para a filósofa, há ainda um terceiro fator que difere do gênero ou do sexo, que é a orientação sexual, a qual nos remete a quais gêneros nos sentimos atraídos física, romântica ou emocionalmente.

Detentora de uma grande produção intelectual através de ensaios, tratados, peças de teatro, manifestos, romances, contos, novelas, relatos de viagem, memórias, cartas, diários e reportagens, observa-se sua grande contribuição para o “existencialismo”, a fenomenologia¹ e a filosofia feminista.
Outro tema de estudo importante que faz parte de sua obra desde seus primeiros textos, escritos na década de 1940, é a ética, já que em consequência das situações criadas pela Segunda Guerra Mundial na Europa, especificamente em seu país, a França, deparou-se com questões como a resistência, o colaboracionismo², o desengajamento ou neutralidade política de alguns cidadãos, a legitimidade da violência contra os invasores e os colaboracionistas, e a responsabilidade em relação aos outros indivíduos. Por isso, para Simone de Beauvoir, a velha ideia de que “os fins justificam os meios” não combina com uma atitude ética em relação a tudo na vida, inclusive quando nos deparamos com uma situação de violência ou estamos enfrentando um opressor.

(Texto: André Luiz Gattás)

1.  1.  Fenomenologia é o estudo de um conjunto de fenômenos e como se manifestam, seja através do tempo ou do espaço. É uma matéria que consiste em estudar a essência das coisas e como são percebidas no mundo.
2. A palavra colaboracionismo deriva do francês collaborationniste, termo atribuído àquele que tende a auxiliar ou cooperar com o inimigo. Entendida como forma de traição, refere-se à cooperação do governo e cidadãos de um país com as forças de ocupação inimiga.

Curiosidade

Simone de Beauvoir e Jean Paul Sartre
, visitaram o Brasil em 1960, passando por dez cidades, em sua maioria capitais. A maior parte do roteiro da viagem foi organizada pelo casal de escritores Jorge Amado e Zélia Gatai, de quem se tornaram amigos na França, em reuniões do Partido Comunista. Essa viagem do ilustre casal de filósofos foi amplamente divulgada na mídia da época (jornais, revistas e televisão). Tiveram encontros com personagens comunistas 
históricos como o político Carlos Prestes e o arquiteto Oscar Niemeyer. Porém, o local que mais mereceu destaque, foi sua passagem por nossa cidade, Araraquara, onde Sartre proferiu uma conferência sobre filosofia, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, que na época ficava situada onde hoje temos a Casa da Cultura, na Rua São Bento. Na foto acima, à esquerda vemos o filósofo e professor da FFCL, Fausto Castilho, responsável pela vinda do casal à Araraquara.
Conferência na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara

Na foto acima  o casal Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre passeiam pelas ruas de Araraquara com o escritor baiano Jorge Amado (à direita).

(Texto: André Luiz Gattás)

[...] No ano dia 04 de setembro de 2018, Araraquara comemoramos 58 anos da visita do filósofo Sartre à cidade de Araraquara e relembramos que sua vinda ao nosso município se deu pelo filósofo Fausto Castilho, docente na época da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara, hoje FCLar/UNESP. [...]

[...] A palestra proferida no dia 04 de setembro de 1960, na então Faculdade de Filosofia, hoje atual Casa da Cultura, na sala que posteriormente seria nomeada com o nome do filósofo, teve na plateia aproximadamente 100 pessoas, entre elas Ruth Cardoso, socióloga e ex-primeira-dama, Fernando Henrique Cardoso, sociólogo e ex-presidente do Brasil; Bento Prado Jr., filósofo da USP, Jorge Nagle, ex-reitor da UNESP, Miriam Moreira Leite, educadora da USP,  Dante Moreira Leite, psicólogo, Antonio Candido, professor aposentado de Teoria Literária da USP, Gilda Mello e Souza, ensaísta, professora de Estética da USP, Nilo Scalzo – jornalista, Michel Debrun, francês, professor-visitante da USP, José Celso Martinez Corrêa, dramaturgo, criador do Teatro Oficina, Dante Tringalli, professor aposentado de Latim da UNESP, José Aluysio Reis de Andrade, professor aposentado de Filosofia da UNESP, Jorge Amado, entre outras autoridades.
Nesse mesmo dia, Sartre e Simone tiveram um encontro com estudantes e trabalhadores rurais, no antigo Teatro Municipal da cidade de Araraquara. [...]
(Fonte: portal RCIA / https://bit.ly/3cgoLDl)

Para ler a reportagem sobre essa visita na íntegra acesse:
- acervo.oglobo.globo.com /   https://glo.bo/3eixzez)
- unesp.br / https://bit.ly/38kVK89

[...] Beauvoir fez uma concorrida conferência na FAAP (Fundação Armando Álvares Penteado), frequentada quase que exclusivamente por mulheres. Entre outras atividades, escreveu um perfil de Sartre para o suplemento cultural de O Estado de São Paulo e foi entrevistada para o caderno feminino do mesmo jornal. A matéria sobre ela abre da seguinte forma, como se pode ler nos valiosos arquivos do Estadão, muito importantes para este texto. Mantenho a grafia original “De Simone de Beauvoir é um dos mais lúcidos e interessantes estudos sobre a condição da mulher: O Segundo Sexo, fundamentado no princípio de que não existe uma dada natureza feminina mas uma situação feminina imposta.” [...]
(Fonte: VAZ, Alexandre Fernandez. Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir: uma visita, muitas ideias – exclusivo. Pensar a Educação em pauta, 08/11/2017. Disponível em: https://bit.ly/3qnyrRz)

[...] BEAUVOIR HOJE
Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir parecem ser os autores mais importantes para muitos movimentos sociais contemporâneos. Em grande medida, os movimentos feministas e LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) trabalham com a reinvindicação de liberdade de construção e reconhecimento de suas identidades. Por exemplo, a mundialmente conhecida Marcha das Vadias, manifestação feminista iniciada no Canadá, luta contra diversas formas de violência contra a mulher. Faz parte dos ideais do movimento combater a noção de que a mulher, devido às suas roupas ou comportamento, seria a culpada pela violência sofrida: cada uma pode construir sua personalidade à sua maneira, como propõe Beauvoir, não cabendo nem ao homem nem ao Estado ditarem as normas de comportamento feminino. Cabe a ele, pelo contrário, ajudar na luta contra a cultura do estupro.
(Fonte: guiadoestudante.abril.com.br / https://bit.ly/3t0sCel)

Assista abaixo a alguns vídeos que retratam a vida e a obra de Simone de Beauvoir

Entrevista feita pela Radio-Canada, em Paris, em 1959, cuja transmissão foi censurada pelo arcebispo de Montreal. Aqui, Simone discorre sobre existencialismo, religião, casamento, amor livre, dentre outros temas
(Fonte: canal Alonso Moreira - YouTube / https://bit.ly/3qupeHd)

Djamila Ribeiro, mestre em filosofia e política, fala, nos três vídeos abaixo sobre:
a. a importância do pensamento de Simone de Beauvoir para o feminismo. E conta que a filósofa francesa escreveu O Segundo Sexo em 1949, quando ela própria ainda não se entendia como feminista. O livro faz uma reflexão sobre a condição da mulher e serve até hoje como ponto de partida para outras diversas teorias ligadas às questões da mulher e às questões de gênero;
b. sobre a frase "Não se nasce mulher, torna-se", de Simone de Beauvoir e também explica o conceito criado pela filósofa francesa de que a mulher é sempre o "Outro do homem";
c. a militância feminista de Simone de Beauvoir e sua aproximação com os movimentos de luta contra o racismo.
(Fonte: canal VOCÊ É FEMINISTA E NÃO SABE - YouTube / https://bit.ly/3rvykEX)

(Fonte: canal VOCÊ É FEMINISTA E NÃO SABE - YouTube / https://bit.ly/3t2YQG2)

(Fonte: canal VOCÊ É FEMINISTA E NÃO SABE - YouTube / https://bit.ly/3cdyWbG)

Professora preparadora para prova do ENEM fala sobre a obra de Simone de Beauvoir
(Fonte: canal Se Liga - Enem e Vestibulares - YouTube / https://bit.ly/38iTsXe)

Neste trecho de reportagem em homenagem aos seus 80 anos, cedida ao canal de assinaturas Globo News, a atriz Fernanda Montenegro recita parte de uma obra de Simone Beauvoir.
(Fonte: canal Daniel Aquino - YouTube / https://bit.ly/3kXEk6E)

PRINCIPAIS OBRAS DE SIMONE DE BEAUVOIR:
- Memórias de uma Moça Bem-Comportada
- A Força das Coisas
- Tudo Dito e Feito
- O Segundo Sexo
- Uma Morte Suave 

Biografias de Simone de Beauvoir
- FRAZÃO, Dilva. Simone de Beauvoir - escritora e filósofa francesa. Site: ebiografia. Disponível em: https://bit.ly/30pMzim
- MOREIRA, Daniela Fernanda Feliz. Simone de Beauvoir. Site: InfoEscola. Disponível em: https://bit.ly/3qvsOAK
- MARCELO, Carolina. Simone de Beauvoir: biografia e principais obras. Site: Cultura Genial. Disponível em:  https://bit.ly/3rItnbC

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