sexta-feira, 5 de março de 2021

MULHERES EXCEPCIONAIS 2: NINA SIMONE

O sucesso de Nina Simone cresceu paralelamente aos conflitos raciais que se desenvolveram nos EUA entre 1954 a 1968. Embora desde criança tenha sofrido os efeitos danosos do racismo, Nina foi muito perseverante em se tornar a primeira pianista erudita negra do país. Filha de um marceneiro e de uma empregada doméstica que era ministra metodista, acabou realizando seu sonho e também se tornou pianista e cantora de jazz, blues e gospel. Foi na igreja que ela teve seu contato com o piano aos 4 anos de idade, e a partir dali se desenvolveu na música. Teve um grande apoio de sua professora de piano, Muriel Mazzanovich, que além de a iniciar na música clássica, criou um fundo social para que Nina pudesse continuar estudando piano. Nina tornou-se uma das primeiras artistas negras a frequentar a renomada Julliard School, em Nova Iorque. Quando terminou seu curso, pretendendo dar continuidade a seus estudos em piano clássico, tentou um bolsa de estudos através de uma famosa instituição da Filadélfia, o Curtis Institute, mas apesar de seu enorme talento, teve seu pedido recusado por ser negra. Sem dinheiro para sustentar seus objetivos e sonhos, passou a tocar piano em um bar em Atlantic

City e acabou por cantar por insistência do proprietário. A partir daí, seu talento foi notado por uma gravadora e Nina começou sua vida profissional no mundo da música. Seu ativismo político contra as leis de segregação racial que vigiam nos EUA foi prejudicando gravemente sua carreira, fazendo com que perdesse contratos com as gravadoras. Nina despertou para sua condição de mulher negra oprimida em um país extremamente racista e violento contra os negros após um atentado racista, no qual quatro crianças negras morreram em uma igreja batista, na cidade de Birmingham, Alabama, no sul do país, logo após o assassinato de um ativista negro no Mississipi. A partir desses fatos, Nina começou a se conscientizar mais e mais sobre o que era ser negra no contexto social norte-americano da época e incluiu o ativismo político em prol dos direitos civis e da luta contra o racismo em suas composições e performances artísticas. Através de suas composições podemos traçar a história das lutas contra as injustiças sofridas pelos negros naquele país, algumas delas se tornando verdadeiros hinos que explicitavam revolta, raiva e desespero. O movimento negro continuou sofrendo vários golpes com o passar dos anos, mas o maior deles ocorreu com a morte de seu principal líder, Martin Luther King, assassinado a tiros em 4 de abril de 1968.
Em sua homenagem Nina compôs “Why? The King of Love Is Dead” (Por que? O Rei do Amor Está Morto), cantando-a em seu funeral. Depois de muitas batalhas, lutas, desgastes na vida artística e pessoal também, Nina resolveu se afastar dos palcos e deixou os EUA em 1970. Viveu em Barbados, no Caribe, depois foi para a Libéria, na África, onde ficou por dois anos e finalmente chegou à Europa, morando na Suíça, na Holanda e por último na França, onde se fixou. Durante sua vida teve muitos romances sem finais felizes e chegou a revelar que era bissexual. “Pra mim, a liberdade é não ter medo”, costumava dizer.
Essa sua frase valia também para suas apostas em estilos musicais os mais diversos, já que apesar de muitos hits emplacados, também teve muitos fracassos. Dona de uma voz singular e de muito carisma e sentimento em suas interpretações vocais, além do fato de ser uma exímia pianista nos mais variados estilos e técnicas, Nina é até hoje respeitada e serve como referência para músicos profissionais do mundo todo. Na década de 1990 ela esteve no Brasil e fez um show no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, para 35 mil pessoas. Faleceu em 2003, deixando marcado na história a beleza e força de suas interpretações, sua coragem e seu talento revolucionário.  
(Texto: André Luiz Gattás)









Assista a algumas performances de Nina Simone pelo mundo

Nina Simone canta "My Baby Just Cares For Me" no show Music Of The Millennium
(Fonte: canal soulbrotherjimmy - YouTube / https://bit.ly/3ecyPzS)

Nina Simone- "Work Song" Live (Merv Griffin Show 1966)

(Fonte: canal Merv GriffinShow - YouTube / https://bit.ly/3bjjM5z)

Nina Simone ao piano cantando "Love Me Or Leave Me" no programa de Ed Sullivan
(Fonte: canal Víctor Pérez - YouTube /https://bit.ly/3GjkaOK)

Assista a entrevistas com Nina Simone falando sobre a negritude e outros assuntos
(Fonte: canal Pedro Cardoso - YouTube / https://bit.ly/3bhiyHN)

(Fonte: canal Undercover - YouTube / https://bit.ly/30dLo5x)

Filmes que contam a vida de Nina Simone:
- Nina (EUA/2016): Conta a história da musicista de jazz e pianista clássica, incluindo sua ascensão à fama e seu relacionamento com o empresário artístico Clifton Henderson.
- What Hapened to Miss Simone? (O Que Aconteceu com a Senhorita Simone?) - documentário da NETFLIX
DicaDe Clementina a Nina Simone; de Marie Curie a Angela Davis: filmes e séries para assistir no Dia Internacional da Mulher, 08 de março, nos canais por assinatura Curta! e Curta!On (https://bit.ly/3qfQcC1)

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