O
sucesso de Nina Simone cresceu paralelamente aos conflitos raciais que se
desenvolveram nos EUA entre 1954 a 1968. Embora desde criança tenha sofrido os
efeitos danosos do racismo, Nina foi muito perseverante em se tornar a primeira
pianista erudita negra do país. Filha de um marceneiro e de uma empregada
doméstica que era ministra metodista, acabou realizando seu sonho e também se
tornou pianista e cantora de jazz, blues e gospel. Foi na igreja que ela teve
seu contato com o piano aos 4 anos de idade, e a partir dali se desenvolveu na
música. Teve um grande apoio de sua professora de piano, Muriel Mazzanovich, que
além de a iniciar na música clássica, criou um fundo social para que Nina
pudesse continuar estudando piano. Nina tornou-se uma das primeiras artistas
negras a frequentar a renomada Julliard School, em Nova Iorque. Quando terminou
seu curso, pretendendo dar continuidade a seus estudos em piano clássico,
tentou um bolsa de estudos através de uma famosa instituição da Filadélfia, o
Curtis Institute, mas apesar de seu enorme talento, teve seu pedido recusado
por ser negra. Sem dinheiro para sustentar seus objetivos e sonhos, passou a
tocar piano em um bar em Atlantic
City e acabou por cantar por insistência do
proprietário. A partir daí, seu talento foi notado por uma gravadora e Nina
começou sua vida profissional no mundo da música. Seu ativismo político contra
as leis de segregação racial que vigiam nos EUA foi prejudicando gravemente sua
carreira, fazendo com que perdesse contratos com as gravadoras. Nina despertou
para sua condição de mulher negra oprimida em um país extremamente racista e
violento contra os negros após um atentado racista, no qual quatro crianças
negras morreram em uma igreja batista, na cidade de Birmingham, Alabama, no sul
do país, logo após o assassinato de um ativista negro no Mississipi. A partir
desses fatos, Nina começou a se conscientizar mais e mais sobre o que era ser
negra no contexto social norte-americano da época e incluiu o ativismo político
em prol dos direitos civis e da luta contra o racismo em suas composições e
performances artísticas. Através de suas composições podemos traçar a história
das lutas contra as injustiças sofridas pelos negros naquele país, algumas
delas se tornando verdadeiros hinos que explicitavam revolta, raiva e
desespero. O movimento negro continuou sofrendo vários golpes com o passar dos
anos, mas o maior deles ocorreu com a morte de seu principal líder, Martin
Luther King, assassinado a tiros em 4 de abril de 1968.
Em sua homenagem Nina
compôs “Why? The King of Love Is Dead”
(Por que? O Rei do Amor Está Morto),
cantando-a em seu funeral. Depois de muitas batalhas, lutas, desgastes na vida
artística e pessoal também, Nina resolveu se afastar dos palcos e deixou os EUA
em 1970. Viveu em Barbados, no Caribe, depois foi para a Libéria, na África, onde
ficou por dois anos e finalmente chegou à Europa, morando na Suíça, na Holanda
e por último na França, onde se fixou. Durante sua vida teve muitos romances
sem finais felizes e chegou a revelar que era bissexual. “Pra mim, a liberdade é não ter medo”, costumava dizer.
Essa sua frase
valia também para suas apostas em estilos musicais os mais diversos, já que
apesar de muitos hits emplacados, também teve muitos fracassos. Dona de uma voz
singular e de muito carisma e sentimento em suas interpretações vocais, além do
fato de ser uma exímia pianista nos mais variados estilos e técnicas, Nina é
até hoje respeitada e serve como referência para músicos profissionais do mundo
todo. Na década de 1990 ela esteve no Brasil e fez um show no Parque do
Ibirapuera, em São Paulo, para 35 mil pessoas. Faleceu em 2003, deixando
marcado na história a beleza e força de suas interpretações, sua coragem e seu
talento revolucionário.
(Texto: André Luiz Gattás)
Assista a algumas performances de Nina Simone pelo mundo
Nina Simone canta "My Baby Just Cares For Me" no show Music
Of The Millennium
(Fonte: canal soulbrotherjimmy - YouTube / https://bit.ly/3ecyPzS)
Nina Simone- "Work Song" Live (Merv Griffin Show
1966)
(Fonte: canal Merv GriffinShow - YouTube / https://bit.ly/3bjjM5z)
Nina Simone ao piano cantando "Love Me Or Leave Me" no programa de Ed
Sullivan
(Fonte: canal Víctor Pérez - YouTube /https://bit.ly/3GjkaOK)
Assista a entrevistas com Nina Simone falando sobre a negritude e outros assuntos
(Fonte: canal Pedro Cardoso - YouTube / https://bit.ly/3bhiyHN)
(Fonte: canal Undercover - YouTube / https://bit.ly/30dLo5x)
Filmes que contam a vida de Nina Simone:
- Nina (EUA/2016): Conta a história da musicista de jazz e pianista clássica, incluindo sua ascensão à fama e seu relacionamento com o empresário artístico Clifton Henderson.
- What Hapened to Miss Simone? (O Que Aconteceu com a Senhorita Simone?) - documentário da NETFLIX
Dica: De Clementina a Nina Simone; de Marie Curie a Angela Davis: filmes e séries para assistir no Dia Internacional da Mulher, 08 de março, nos canais por assinatura Curta! e Curta!On (https://bit.ly/3qfQcC1)
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