quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Trilha Antirracista / Literatura: HEROÍNAS NEGRAS BRASILEIRAS EM 15 CORDÉIS, de Jarid Arraes

A obra Heroínas Negras Brasileiras em 15 cordéis, de Jarid Arraes, publicada em 2017, traz à luz as histórias destas representantes negras que a historiografia brasileira corrente colocou no esquecimento. Este ato é bastante recorrente em nosso país, pois quer demonstrar que estar à margem e lutar por seus direitos é vergonhoso. Mas em Heroínas Negras Brasileiras em 15 Cordéis, a autora abarca momentos distintos da história do Brasil em que estas mulheres estiveram ocultadas e destaca como a participação das mesmas nos eventos foi decisiva para alcançar os objetivos.

Na contracapa do livro, Jarid Arraes, nos fala algo muito tocante no que se refere ao nosso passado que se faz presente, que é não conhecermos os feitos destas várias mulheres negras que tiveram um papel histórico. Com isso, surge um dos motivos pelos quais resolve não só pesquisar suas vidas como dar-lhes voz em forma de cordéis, a fim de que cheguem a vários lugares, como a escritora mesmo assevera : “este projeto já está presente até nas bibliotecas de países estrangeiros, mas principalmente nas escolas brasileiras”.

As lutas pelo fim da escravidão, pela educação, e pelo ato de escrever, entre outros, nos séculos de vivência destas mulheres são exemplos que se corporificam nos cordéis de Arraes. A educação é uma marca feita na carne que muito impulsionou estas figuras históricas brasileiras (naturais ou naturalizadas). Em muitos dos cordéis, a educação foi o meio de se libertar e lutar por seus direitos. Assim, no texto dedicado a Antonieta de Barros (e em outros), as palavras de Jarid apontam para um memorialismo biográfico onde a possibilidade de aprender auxiliou na percepção desta mulher como um sujeito capaz de vociferar todas as suas angústias e mazelas. Um momento representativo é quando Arraes escreve: “Antonieta então fundou/ um curso particular/ Onde ensinou por toda sua vida como muito acreditou.” (p. 18). Não se pode afirmar que as vidas destas personagens foram marcadas pelo imobilismo, ao contrário, o dinamismo estava em sua própria essência destas, já que sua condição as obrigava a uma contínua e permanente mobilização.

A escritora Jarid, além de trazer as figuras destas mulheres, faz um trabalho com a memória das heroínas escolhidas, pois desnudá-la nos possibilita rememorar um passado feminino que marcou e marca nossa identidade. Os textos "jaridianos" nos fornecem um ponto de referência que estrutura nossa memória e a memória de uma coletividade, como enfatiza Michael Pollak, em seu texto “Memória, esquecimento, silêncio”, 1989, em que quando relembramos datas, festividades e personagens históricos, estes se tornam “lugares de memória”, conforme também teoriza Pierre Nora.

A leitura desta obra partindo da noção de “lugares de memória” é uma estratégia estético-conceitual para que temas como resistência, liberdade, escravidão, escrita/escrever, política, memória, religião afro e música venham a se revelar dentro de um ambiente primordialmente hostil, assim permitindo que se os questione e os discuta criticamente ao mesmo que provoca incômodo nos leitores. As violações a que estas mulheres (e tantas outras) foram submetidas apenas poderão ser compreendidas quando se contar e recontar das mais diversas formas, (aqui pensando nas modalidades textuais – poemas, romance, crônicas, contos, filmes, teatro, músicas, performances e etc.) porque será no contínuo que o termo “lugar”, de Pollak, se fará útil.

Ler Heroínas Negras Brasileiras em 15 Cordéis é tornar estas mulheres “lugares de memória”; mostrar quem foi Luiza Mahin, mulher africana vinda da Costa da Mina, que participou de grandes lutas, como a revolta dos Malês, em 1835 e Sabinada 1837. Luiza Mahin irá nos mostrar que a luta e a resistência contra a escravidão é algo que está no sangue, pois deu a luz ao poeta e um dos grandes abolicionistas brasileiros – Luiz Gama. [...]

(Fonte: Literafro – UFMG/Letras / https://bit.ly/2VZDRsR - resenha completa)

Mais informações sobre a autora e suas obras:

- BIANCA, Elias. Escritora Negra Jarid Arraes Fala Sobre Suas Obras e a Influência Nordestina. Disponível em: afreaka.com.br / https://bit.ly/3yWWMCJ

Vídeo-resenhas

Entrevista com Jarid Arraes na APPtv
(Fonte: canal APPtv - YouTube / https://bit.ly/3sBUQgK)

Heroínas Negras Brasileiras em 15 Cordéis
(Fonte: canal Banca Tatuí - YouTube / https://bit.ly/3z6s4aa)

Heroínas negras brasileiras em 15 cordéis
(Fonte: canal Maria Angélica de Oliveira Paula - YouTube / https://bit.ly/2UE6Rpm)

Leitura do cordel "Teresa de Benguela" 
(Fonte: canal Maria Angélica de O. Paula - YouTube / https://bit.ly/3swDFgi)

Quem é Jarid Arraes?

(Fonte: arquivo pessoal)

ARID ARRAES nasceu em Juazeiro do Norte, na região do Cariri (CE), em 1991. Escritora, cordelista e poeta, é autora de Heroínas negras brasileiras: em 15 cordéis (Seguinte, 2020); Redemoinho em dia quente (Alfaguara, 2019), vencedor do prêmio APCA e do prêmio Biblioteca Nacional na categoria contos/crônicas; e As lendas de Dandara (Editora de Cultura, 2016). Atualmente vive em São Paulo, onde criou o Clube de Escrita para Mulheres. Tem mais de setenta títulos publicados em literatura de cordel, incluindo a coleção Heroínas Negras na História do Brasil.

(Fonte: companhiadasletras.com.br / https://bit.ly/3ghWHCm)

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