‘Insubmissas lágrimas de mulheres’, de Conceição Evaristo
Procurando uma autora brasileira e contemporânea pela internet achei uma lista que trazia o nome de Conceição Evaristo. Era meio do ano e o “Leia Mulheres PG” tava montando sua programação semestral. Na lista que visitei tinha especificamente o livro “Insubmissas lágrimas de mulheres” – hoje me pergunto o por quê ao considerar que a autora ganhou um Jabuti com “Olhos d’água” (informação que só tive depois) – e achei esse título atraente.
Li um pouco sobre o que se tratava a obra e a coloquei na lista de livros para discutirmos no clube da leitura. A escolha foi despretensiosa e eu não sabia o que me esperava. Quando abri o livro senti um soco no estômago e um nó na garganta. Soube no primeiro dos treze contos que os temas de escrita da Conceição seriam pesados e que eu precisava me preparar pro que viria. Acredito que o que mais doía era pensar que, por mais que o livro seja categorizado como ficcional, várias mulheres brasileiras passam por situações similares, quando não piores.
Foram treze histórias. Treze vidas de mulheres que passaram pela minha mão. Treze vidas brasileiras. Vidas negras e periféricas das quais nunca tive contato dada minha classe e por ser branca. Treze mulheres com suas insubmissas lágrimas que sobrevivem a dura realidade de ser mulher, de ser negra, de ser da periferia do Brasil. Que sobreviveram à violência doméstica, estupro, machismo, falta de reconhecimento e aceitação, ao suicídio, ao racismo e tantas outras coisas que tornam a vida mais difícil de suportar – a injustiça escancarada.
Por vezes me peguei chorando, com o livro fechado, numa mistura de raiva, afeto e desilusão. Mas era justamente a não desistência dessas mulheres que me impulsionava para continuar a minha leitura. Acho curioso quando dizem que mulheres são fortes. Parece que é como se elas tivessem escolhido ser assim e não fossem obrigadas pelo meio, por suas condições a serem fortes. Às vezes me pergunto se já foi dada a chance uma uma mulher poder ser fraca. Acredito que não. O “sexo frágil” é na verdade o “sexo forte”. Forte para existir, forte para sobreviver.
Bom, nem só de temas pesados o livro é feito. Histórias de mulheres inspiradoras que tiveram conquistas de sonhos e de suas vontades também são contadas. Há uma mulher artista que se usa de matéria-prima, uma mulher bailarina que enfrenta preconceitos para conseguir viver da dança, uma mulher que ama de uma forma tão única que é impossível não se encantar com sua história… Enfim, Conceição captura vidas e captura também quem lê.
(Fonte: passaroliberto.home.blog / https://bit.ly/3CUt7MS)
Um dos pontos que marcam esse livro é a narradora que percorre todos os contos - em cada conto há a história de uma mulher negra como centro. Esse livro me fez chorar, refletir e ter um pouquinho de esperança. O racismo está presente em todos os contos, então se este for um tema sensível para vc, talvez não seja uma boa escolha, além de outras violências sofridas pela população negra, em especial, as mulheres negras.
Mas de uma forma geral, eu queria que todo mundo pudesse conhecer o poder de narração da Conceição, já li 4 livros dela e pelo menos, pra mim, beiram a perfeição.
É uma das maiores vozes da contemporaneidade.”
Outras resenhas desta obra:
- MATTOS, Gabriela. Em
livro de contos, Conceição Evaristo reúne histórias de mulheres negras. Disponível em: pitayacultural.com.br /
- VIEIRA, Nany Kipenzi. Conceição atiça em "Insubmissas Lágrimas de Mulheres". Disponível em: pipoca.com.br / https://bit.ly/3AQ8cJ0
Vídeo-resenhas desta obra:
(Fonte: canal Vamulê! - YouTube / https://bit.ly/3CTFIQB)
(Fonte: canal TV PUC - Rio - YouTube / https://bit.ly/3stRXOS)
Maria da Conceição Evaristo de Brito é uma notável professora e escritora brasileira contemporânea sendo especialmente ativa nos movimentos pela luta negra. A autora, que publica poemas, ficção e ensaios, nasceu no dia 29 de novembro de 1946 em Belo Horizonte, Minas Gerais.
A origem familiar de Conceição
Evaristo
Filha de Joana Josefina
Evaristo, Conceição teve pouco contato com o pai, tendo sido criada pela mãe,
uma lavadeira, e pelo padrasto (Aníbal Vitorino), que era pedreiro, numa
comunidade da Avenida Afonso Pena.
A autora cresceu na companhia
de três irmãs filhas do mesmo pai e da mesma mãe (Maria Inês, Maria Angélica e
Maria de Lourdes) e dos cinco irmãos filhos do novo relacionamento da mãe com o
padrasto.
Quando a menina tinha sete
anos foi viver com a tia, Maria Filomena da Silva, a irmã mais velha da mãe,
que também era lavadeira e o tio, Antonio João da Silva, que era pedreiro. O
casal não tinha filhos.
Aos oito anos, Conceição
começou a trabalhar como empregada doméstica.
Formação escolar de Conceição Evaristo
A menina, assim como os irmãos
e os pais, sempre estudou em escolas públicas.
O curso de professora primária
tirou no Instituto de Educação de Minas Gerais.
A formação acadêmica de
Conceição Evaristo
Mais tarde, concluiu um
mestrado em Literatura Brasileira pela Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro defendendo a dissertação Literatura Negra: uma poética de nossa
afro-brasilidade (1996).
A seguir fez o doutorado em
Literatura Comparada pela Universidade Federal Fluminense tendo defendido a
tese Poemas malungos, cânticos irmãos (2011).
Em 1973, Conceição Evaristo se
mudou para o Rio de Janeiro. Lá se formou em Letras pela Universidade Federal
do Rio de Janeiro.
A carreira de Conceição Evaristo
Conceição deu os seus
primeiros passos profissionais atuando como docente em escolas do ensino
público do Rio de Janeiro.
Como autora, o seu percurso se
iniciou durante a década de 90 tendo publicado obras dos mais variados gêneros
literários: desde poesia, passando pela ficção e também pelo ensaio.
Algumas das suas obras já
foram traduzidas para o francês. Em 2018 venceu o Prêmio de Literatura do
Governo de Minas Gerais.
Atualmente dá aulas como
professora visitante na Universidade Federal de Minas Gerais.
Principais obras publicadas de Conceição Evaristo
- Ponciá Vicêncio (romance, 2003)
- Becos da Memória (romance, 2006)
- Poemas da recordação e outros movimentos (poesia, 2008)
- Insubmissas lágrimas de mulheres (contos, 2011)
- Olhos d'água (contos, 2014)
- Histórias de leves enganos e parecenças (contos e novela, 2016)
- Canção para ninar menino grande (romance, 2018)
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