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sexta-feira, 20 de agosto de 2021
Trilha Antirracista / Literatura: TE PEGO LÁ FORA, de Rodrigo Ciríaco
A leitura dos contos de
"Te Pego Lá Fora!", do escritor e educador Rodrigo Ciríaco, traduz a
crônica diária (ou seria diário crônico?), de um território por onde transito
com certa frequência: a sala de aula. Temos nos textos as contradições que
fazem parte desse mundo complexo que é a escola. Uma escola heterogênea,
múltipla, pública, juvenil.
Dividido em quatro partes
(estações), os textos atestam a assinatura humana, demasiadamente humana, do
autor. A nova edição, agora pela editora DSOP (a primeira era um edição
independente de 2009), ganhou o reforço de quatro textos adicionais: "Pratos
Limpos" (no capítulo Verão), "Sem Volta" (Outono),
"Boas-vindas" (Inverno) e "Poeta" (Primavera).
Todos os textos refletem a
escola que temos nesse início de século. Chama a atenção em "Te Pego Lá
Fora" a polifonia de vozes que Ciríaco traz à tona: alunos, diretores,
professores, funcionários em geral, todos são convocados para dar suas versões.
Então, como não se surpreender com a menina que desmaia de fome mas mesmo assim
não come a merenda, por vergonha ("Bia Não Quer Merendar", p. 19)? Ou
o giro apocalíptico que nos é ofertado na leitura de "Pratos Limpos" (p.
29)? Ou o desconcerto corporativista, "oficialesco" e medieval da hierarquia
escolar em "Papo Reto" (p. 49)? A viagem pelos contos do livro também
nos traz humor, mesmo que seja meio ¹blasé, no divertido diálogo de "Boi na
Linha" (p. 89), onde os dialetos
diferentes da aluna e do professor não permitem que o segundo não entenda o
recado da primeira. Ou o irônico
"Aprendiz" (p. 17), enredo com cara de crônica que deságua num
desfecho dolorido e escatológico. [...]
1. blasé (adjetivo): que exprime completa indiferença
pela novidade, pelo que deve comover, chocar etc.
(Foto: arquivo novaescola.org.br) A frase tatuada no braço de Rodrigo: "O estudo é o escudo."
[...] Rodrigo Ciríaco, professor de
escolas da periferia, escreve com sangue a vida que se esvai entre tudo o que
poderia ser. O que poderia ser aparece nas propagandas do governo, quando
mostra prédios arrumadinhos, limpinhos e equipadinhos. A realidade é outra,
evidenciam fotos publicadas ao final do livro. Isto não é um lamento vazio de
quem não tem vontades. O autor mostra que há desejo, sim. Mas, a desesperança
dos alunos parece ser muito maior. E o descaso da hierarquia já nos núcleos
educativos (secretárias, diretoria das escolas) dá mostras da ineficiência da
superestrutura. [...] (Fonte: resumos.netsaber.com.br / https://bit.ly/37YJCJt)
Imagem: Junior Lago, UOL
“Eu entrei na universidade já
com esse objetivo: me formar como professor e trabalhar na rede pública de
ensino. Achava que tinha aptidão e queria devolver para a sociedade esse
investimento que foi feito em mim, na minha formação”, afirma Ciríaco. Depois
de 14 anos como professor, atuando nas redes municipal e estadual, ele deixou a
sala de aula para se dedicar aos livros, aos projetos de formação literária
(que também realiza em parceira com escolas) e saraus na periferia. Foi
agredido diariamente pela dureza da sua realidade, mas diz que continua
acreditando na escola pública. “A
educação tem que ser pública e gratuita, para todos, para a inclusão (...) Sou
fruto da escola pública”, diz. “Não saio [da sala de aula] frustrado, porque
sempre trabalhei da melhor forma dentro das condições que eu tinha, mas saio
com um sentimento de derrota porque não consegui ver a escola mudar e melhorar
como eu gostaria. Como um soldado que tem que se aposentar sabendo que fez o
que pode com as armas que tinha em mãos”. (Fonte: educacao.uol.com.br / https://bit.ly/3swUOqa)
Rodrigo Ciríaco é educador e escritor, autor dos livros “Te Pego Lá Fora”, “100 Mágoas” e “Vendo Pó…esia”. Participa há mais de 10 anos do movimento de saraus da periferia. É idealizador do projeto “Literatura (é) Possível”, que desde 2006 desenvolve ações de incentivo a leitura, produção escrita e difusão literária em escolas públicas estaduais e municipais, com o “Sarauzim – Sarau dos Mesquiteiros”. Foi autor convidado do Salão de Paris (2015 e 2013), FELIV – Festival do Livro e Literatura Infanto-Juvenil da Argelia (2014), 40ª Feira Internacional do Livro de Buenos Aires (2014), FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty (2011), entre outros.
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