Angela Davis é ativista política, escritora e professora universitária. Com carreira iniciada no final dos anos 60, Davis fez parte dos Panteras Negras, do movimento de contracultura e dos direitos civis. Tamanha militância acabou por colocá-la como “inimiga pública número 1” dos EUA, acabou por resultar numa errônea prisão na época. Ela só foi solta meses depois devido a grande pressão popular. Para quem não conhece sua história é recomendado o documentário Free Angela Davis and All Political Prisioners.
No livro, Davis retoma a história dos EUA na época da escravidão, para trazer à tona a história de dezenas de mulheres que desde lá já enfrentavam as agruras ligadas ao racismo, ao sexismo e a luta de classes. E é aqui que reside o grande trunfo deste tratado acadêmico criado pela autora já que ela perpetua um olhar aguçado, multilateral, que ajuda a compreender as agruras daqueles tempos em que o Norte (liberal) e Sul (escravocrata) do país travavam batalhas ideológicas homéricas quando o assunto era o negro e a sua condição de vida.
Como marxista que é, Davis critica o capitalismo em defesa da classe trabalhadora que tanto foi (e ainda é) explorada nos primórdios da era industrial pós-escravidão com cargas horárias elevadas e baixos salários.
Por mais que hoje o feminismo esteja em voga (com algumas batalhas vencidas e outras tantas ainda pela frente), no século XIX o cenário era caótico, pois além da escravidão sulista, ao negro eram oferecidas as piores condições possíveis de sobrevivência ligadas à empregabilidade e a má remuneração (principalmente das mulheres), a segregação escolar e do direito ao voto, a cultura do estupro da mulher negra, o absurdo controle de natalidade imposto. Cansados desta sub-humana condição de vida, a partir dali se iniciou um longo embate visando a igualdade.
Outro ponto interessante é o fato de que grande parte das causas enfrentadas por mais que tivessem um viés feminista por grande parte da sociedade, as mesmas, de fato, diziam a respeito do modus operandi de um mundo mais justo e igualitário. E, aos poucos, os brancos (as mulheres essencialmente) compreenderam isto, uniram forças e conquistaram muitas das demandas solicitadas.
Utopias à parte, se almejamos uma sociedade mais justa, igualitária, independente do sexo, raça ou classe é preciso readequar o pensamento individual que, geralmente, atende a interesses próprios ou de um grupo e exclui todo o resto. Se você não acredita nisto, a leitura de Mulheres, raça e classe mostra o caminho.
(Fonte: LISBOA, Bruno. Resenha - Mulheres, Raça e Classe. Disponível em: opoderosoresumao.com.br / https://bit.ly/3sR2SCk)
Outras resenhas:
- CYRINO, Rafaela. [Resenha a:] DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016. Disponível em: outubrorevista.com.br / https://bit.ly/3mE86Ay
- NATANSOHN, Graciela. Resenha: Mulheres, Raça e Classe, de Angela Davis. Disponível em: gigaufba.com.br / https://bit.ly/3sYZLbB
- BRETAS, Alexia. DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. Tradução de Heci Regina Candiani. São Paulo: Boitempo, 2016, 244p. Disponíevel em: scielo.br / https://bit.ly/3sRaB3m
Vídeo-resenhas
(Fonte: canal Mulheres de LUta - YouTube / https://bit.ly/3gzgpcQ)
(Fonte: canal B de Barbárie - YouTube / https://bit.ly/3BjhLk0)
QUEM É ANGELA DAVIS?Participante
do coletivo Black Panthers no final da década de 60, Angela é um nome muito
importante na luta por igualdade, tornando-se um ícone para o povo negro,
principalmente para as mulheres.
Através
de sua prática, ela nos mostra como é possível conciliar o pensamento acadêmico
com a luta coletiva.
A trajetória de Angela Davis
Os primeiros anos
Angela
Yvonne Davis nasceu em Birmingham, no Alabama (EUA) em 26 de janeiro de 1944.
Filha de uma família de classe média baixa, tinha mais três irmãs.
A
época e local onde ela cresceu contribuíram enormemente para que tenha se
tornado uma mulher combativa e referência na luta pela emancipação do povo
negro. Isso porque naquele tempo o estado do Alabama tinha a política de
segregação racial, que só foi criminalizada vinte anos depois de seu
nascimento.
Na
cidade de Birmingham esses contrastes e tensões estavam bastante explícitos e
no bairro em que Angela residia a violência era intensa, com ataques racistas
constantes por membros da Ku Klux Klan. Tanto que houve diversos episódios de
explosões de bombas contra a população negra.
Em
um desses ataques foram colocados explosivos dentro de uma igreja frequentada
pelo povo afro-americano. Nessa ocasião, quatro garotas foram mortas. Essas
jovens eram bem próximas de Angela e de sua família.
Todo
esse ambiente hostil em sua infância e adolescência fez crescer em Davis o
sentimento de revolta e vontade de transformação da sociedade, lhe dando a
certeza de que faria o possível para lutar pelo fim da opressão.

(Foto: arte de Lari Arantes sobre foto de arquivo)
Os anos de formação
Curiosa,
Angela lia muito e se destacava na escola. Então, ainda jovem, em 1959, recebeu
uma bolsa para estudar em Nova York, onde teve aulas com Herbert Marcuse
(intelectual de esquerda ligado à Escola de Frankfurt), que lhe sugere estudar
na Alemanha.
Assim,
no ano seguinte dá continuidade aos estudos em solo alemão e lá tem aulas com
outras figuras importantes como Theodor Adorno e Oskar Negt.
Quando
retorna ao seu país de origem, ingressa no curso de filosofia na Universidade
Brandeis, no estado de Massachusetts e em 1968 conclui mestrado na Universidade
da Califórnia, sendo chamada mais tarde para ser professora assistente em aulas
na instituição.
É
nos anos 60 ainda - e em plena Guerra Fria - que Angela Davis filia-se ao
Partido Comunista norte-americano. Por conta disso, ela acaba sendo perseguida
e impedida de ministrar aulas na faculdade.


(Foto: arte Bernard Gotfryd)
Angela Davis e os Panteras Negras
Davis
aproxima-se ainda mais da luta antirracista e conhece o partido Black Panthers
(Panteras Negras, em português) entrando para o coletivo.
Essa
era uma organização urbana de cunho socialista e marxista que pregava a
auto-defesa do povo negro, o fim da violência policial e racista, realizando,
entre outras coisas, ações de patrulhamento em bairros negros para evitar
genocídios.
Aos
poucos o partido começou a crescer e ramificar-se no país, tornando-se uma
"ameaça" para os racistas.
Assim,
em uma clara tentativa de desarmar os panteras negras, o governador da época,
Ronald Reagan, aprova junto à Assembleia Legislativa da Califórnia uma lei que
proibiria o porte de armas nas ruas.

A perseguição e o movimento Free Angela
Durante
o julgamento de três jovens negros, acusados do assassinato de um policial, o
tribunal foi invadido por ativistas do Panteras Negras. A ação terminou em confronto
e morte de cinco pessoas, entre elas o juiz.
Davis
não estava presente nesse episódio, mas a arma utilizada estava em seu nome.
Assim, ela foi considerada uma personalidade perigosa e entrou para a lista das
dez pessoas mais procuradas pelo FBI.
A
ativista conseguiu fugir por dois meses, sendo capturada em Nova York em 1971.
Seu julgamento demorou 17 meses, período em que Angela permaneceu encarcerada.
As acusações eram graves e havia a possibilidade inclusive de pena de morte.
Por
conta de sua projeção, relevância e inocência, ela tem o apoio de grande parte
da sociedade. É criado um movimento em prol da sua liberdade que recebe o nome
de Free Angela.
Em
1972 foram criadas músicas em sua defesa. A banda Rolling Stones lançou a
canção Sweet black angel no álbum Exile on Main St. John Lennon e Yoko Ono
produziram Angela, que integra o disco Some Time in New York City. Essas foram
atitudes importantes vindas do meio cultural que deram visibilidade para o
caso.
Então
em junho 1972, a ativista e professora foi libertada e inocentada.

(Foto: dw.com)
Angela Davis em 1972
Angela
Davis em 1972, pouco depois de ser inocentada, se encontra com Valentina
Tereshkova, do comitê soviético de mulheres
A
luta de Angela atualmente
A
militância de Angela Davis ficou conhecida por envolver a resistência
antirracista, o combate ao machismo e a luta contra as injustiças no sistema
prisional.
Entretanto,
sua postura ativista abarca muitas outras questões, na verdade seu
posicionamento é a favor da liberdade de todos os seres. Tanto que, quando
esteve encarcerada, tornou-se vegetariana. Hoje, vegana, uma de suas bandeiras
é pelos direitos dos animais, pois entende a vida no planeta de forma integral.
Além
disso, Davis também fala sobre problemas como a homofobia, transfobia, xenofobia,
causas indígenas, aquecimento global e desigualdades causadas pelo capitalismo.
Uma
de suas falas que pode representar seu pensamento resumidamente é:
Quando
a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com
ela, porque tudo é desestabilizado a partir da base da pirâmide social onde se
encontram as mulheres negras, muda-se isso, muda-se a base do capitalismo.
Com
essa afirmação, Davis nos mostra como é importante mexer nas bases que fundam a
sociedade, transformando a realidade com luta constante contra o racismo e o
machismo estrutural.
Atualmente, ela é uma
reconhecida professora na Universidade da Califórnia, integrando o departamento
de estudos feministas e dedicando-se também a pesquisas sobre o sistema
carcerário dos EUA.
Angela
é uma mulher que fez de sua vida e sua história uma ferramenta de transformação
social, tornando-se um exemplo e inspiração para os movimentos sociais e
revolucionários em todo o mundo.

(Fonte: canal Brasil de Fato - YouTube / https://bit.ly/3zozMNe)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Os comentários publicados neste blog são MODERADOS. Portanto, só serão publicados os comentários que estiverem de acordo com nossos termos. Por favor, antes de publicar, leia nossos TERMOS DE USO, abaixo listados.
1. Publique somente comentários relacionados ao conteúdo do artigo.
2. Comentários anônimos não serão publicados bem como aqueles que apresentem palavras e/ou expressões de baixo-calão, ofensas ou qualquer outro tipo de falta de decoro.
3. Os comentários postados não refletem a opinião do autor deste blog.