Neste blog você encontra resenhas de livros de nosso acervo, além de outras seções voltadas às artes em geral, ao entretenimento, à tecnologia, à ciência e outros assuntos.
Um grande xamã e porta-voz dos
Yanomami oferece neste livro um relato excepcional, ao mesmo tempo testemunho
autobiográfico, manifesto xamânico e libelo contra a destruição da floresta
Amazônica.
Publicada originalmente em
francês em 2010, na prestigiosa coleção Terre Humaine, esta história traz as
meditações do xamã a respeito do contato predador com o homem branco, ameaça
constante para seu povo desde os anos 1960. A Queda do Céu foi escrito a partir
de suas palavras contadas a um etnólogo com quem nutre uma longa amizade -
foram mais de trinta anos de convivência entre os signatários e quarenta anos
de contato entre Bruce Albert, o etnólogo-escritor, e o povo de Davi Kopenawa,
o xamã-narrador.
A vocação de xamã desde a
primeira infância, fruto de um saber cosmológico adquirido graças ao uso de
potentes alucinógenos, é o primeiro dos três pilares que estruturam este livro.
O segundo é o relato do avanço dos brancos pela floresta e seu cortejo de epidemias,
violência e destruição. Por fim, os autores trazem a odisseia do líder indígena
para denunciar a destruição de seu povo.
Recheada de visões xamânicas e
meditações etnográficas sobre os brancos, esta obra não é apenas uma porta de
entrada para um universo complexo e revelador. É uma ferramenta crítica
poderosa para questionar a noção de progresso e desenvolvimento defendida por
aqueles que os Yanomami - com intuição profética e precisão sociológica -
chamam de "povo da mercadoria".
- PUCHEU, Alberto. A queda do céu: autobiografia e testemunho. Disponível em: Revista Cult / https://bit.ly/3CTDyPT
- LYRIO, Zara. 'A Queda do Céu': reflexões
junguianas sobre o alerta xamânico de Davi Kopenawa. Disponível em: PEPSIC - Periódicos Eletrônicos em Psicologia / https://bit.ly/2XSTmDm
- PORTO, Zuleica. A queda do céu - a natureza mítica das coisas. Disponível em: brasiliarios.com / https://bit.ly/39Lnd3k
Quem é Davi Kopenawa
Xamã e porta-voz dos índios
Yanomami do Brasil , ele nasceu em 1956. em uma comunidade isolada do norte
amazônico. Sua família foi morta por uma violenta epidemia de rubéola quando
ele tinha 11anos. Vinte anos mais tarde milhares de garimpeiros em busca de
ouro invadiram o território Yanomami e desta vez é todo o povo Yanomami que
está ameaçado de extinção. Para impedir a tragédia anunciada, Davi se engajou
em uma luta ao redor do mundo onde é reconhecido como uma dos maiores defensores
da Amazônia e de seus primeiros habitantes. Em 1988, Davi recebeu o Global 500
Award das Nações Unidas e em 1989 o Right Livelihood Award considerado o prêmio
Nobel alternativo. Foi condecorado em 1999 com a Ordem do Rio Branco pelo
Presidente da República brasileiro e em 2008 recebeu uma menção honrosa
especial do prestigiado Prêmio Bartolomé de Las Casas outorgada pelo governo
espanhol por sua luta em defesa dos direitos dos povos autóctones das Américas.
Nasceu no Marrocos em 1952, é
doutor em Antropologia pela Universidade de Paris X, diretor de pesquisa do IRD
(Paris), e defensor da cultura e dos direitos dos Yanomami no Brasil com os
quais trabalha desde 1975. A ONG CCPY, que ele co-fundou em 1978, no Brasil,
auxiliou Davi na batalha para obter do governo brasileiro o reconhecimento
legal do direito de ocupação exclusiva dos Yanomami sobre um território de
floresta maior que o de Portugal - a Terra
Uma das perguntas que tem sido
feita a partir da eclosão dos protestos é: como é que chegamos até aqui? Seria
o racismo delírio, miopia, ignorância ou projeto? Para responder essas
perguntas, primeiro é preciso resgatar as narrativas que foram historicamente
forjadas.
Silvio Almeida, um dos maiores
intelectuais contemporâneos, colocou uma lupa nessa temática na sua obra
intitulada “O que é racismo estrutural?” da coleção Feminismos Plurais
coordenado por Djamila Ribeiro. Durante muito tempo o racismo ficou adstrito
apenas à esfera do comportamento individual, mas o jurista e filósofo nos
apresentou outras dimensões esmiuçando o viés institucional e estrutural.
O racismo faz parte da
história moderna guardando relação com a formação do Estado. Segundo o jurista,
o conceito de raça foi desenvolvido pelo modelo do Estado burguês para eleger o
sujeito universal e organizar as relações políticas, econômicas e jurídicas a
partir da categorização em classes dos indivíduos com o fim de preservar o
grupo hegemônico.
O racismo ganha diferentes
expressões ao longo da história, desde o caráter biológico, científico e
sociocultural, razão pela qual trata-se de um fenômeno social complexo. De todo
modo, no Brasil, esse processo sempre esteve relacionado com a aparência
física, capacidade de consumo e de circulação social.
Nesse contexto, como o Estado
é responsável por formar uma unidade, o nacionalismo tende a hierarquizar as
multiplicidades cultural, étnica, religiosa e sexual, criminalizando,
domesticando ou estigmatizando aquele que não interessa à identidade nacional.
Nessa perspectiva, o autor
aproveita as lições de Foucault para conceituar o racismo como uma tecnologia
de poder que opera por meio do controle havendo, por conseguinte, a
discriminação sistêmica de grupos étnico-raciais subalternizados.
Oportuno esclarecer que não é
possível confundir racismo, preconceito e discriminação. Se o primeiro é um
fenômeno sistêmico, o segundo externaliza-se como um julgamento prévio, enquanto
a discriminação é um tratamento diferenciado. Nessa vereda, é plausível que
certos indivíduos do grupo dominante digam ter sofrido preconceito ou
discriminação. No entanto, como o racismo está entranhando nas estruturas de
poder, este atinge somente grupos étnico-raciais subalternizados, razão pela
qual não há qualquer possibilidade de sustentar o argumento de racismo reverso,
já que não há opressão sistêmica em relação ao grupo dominante.
Com efeito, os negros
tornam-se produto do racismo, de maneira que o fenótipo, a cor da pele e as práticas
culturais são dispositivos materiais utilizados para gerar privilégios,
vantagens políticas, econômicas e afetivas em favor do grupo hegemônico.
Assim, como a tese do jurista
está calcada no racismo estrutural, ele explora as diferenças entre racismo
individual, institucional e estrutural. No racismo individual é flagrante o
viés patológico, comportamental e imoral revelado por aquele que o pratica.
No racismo institucional, o
que se observa é a presença massiva de determinado grupo étnico-racial nas
instituições, o qual irá trabalhar para fortalecer e manter esse grupo
determinado no poder. Nessa forma de racismo vimos o legislativo, o judiciário,
o executivo, as reitorias das universidades e grandes corporações aparelhadas
com pessoas do grupo hegemônico.
Na dimensão estrutural, o
pensador esclarece que as instituições somente são racistas, porque a sociedade
também o é, ou seja, as estruturas que solidificam a ordem jurídica, política e
econômica validam a autopreservação entre brancos, bem como a manutenção de
privilégios, uma vez que criam condições para a prosperidade de apenas um
grupo. Como resultado, as instituições externam violentamente o racismo de
forma cotidiana.
Enquanto ideologia, o racismo
constitui-se como representação do imaginário social sobre as identidades
raciais, de maneira que o imperativo é manter o branco no lugar de líder nato e
racional enquanto o negro em condições subalternas. Denota-se, portanto, que o racismo formata as
subjetividades nas relações sociais, visto que do ponto de vista da consciência
e dos afetos, o racismo valida quem merece ser considerado sujeito.
Na cultura, o racismo é
sofisticado, pois propaga o relativismo cultural e o multiculturalismo como
forma de domesticação de corpos, determinando a superioridade, o valor e o
significado da cultura dominante em detrimento de outros grupos dos quais a branquitude
produz a “exotificação” e a inferiorização desses.
O autor alerta que o indivíduo
que se apresenta como antirracista não pode argumentar que o racismo é
estrutural como desculpa para não rever as suas ações, vez que a
responsabilização é parte do processo. Assim, é fundamental perceber que há uma
dialética entre as ações individuais e a estrutura.
No tocante a
representatividade, o autor elucida que por si só ela não é suficiente para
resolver o racismo, pois embora enxergar negros em espaços de poder seja
importante, o recrutamento de alguns negros nesses espaços serve puramente para
reforçar o racismo, visto que visibilidade negra não é poder. Assim, não é
possível admitir uma maquiagem ao problema, uma vez que o racismo exige
mudanças profundas e concretas para que não seja eterniza o cenário de
desigualdade racial.
Assim, para o filósofo, há uma
segregação não oficial entre negros e brancos, já que existe uma naturalização
de negros em posições subalternizadas e, de outro lado, há uma supremacia branca
politicamente constituída.
O estudioso perpassa por
várias dimensões do racismo: histórica, política, ideológica, econômica e
jurídica, e como não pretendemos esgotar o tema, é crucial a leitura de sua
obra na integralidade, a qual sintetiza de forma incisiva, crítica, propositiva
e primorosa que o racismo é o grande obstáculo de um projeto de nação.
(Fonte: PRADO, Monique R. do. Racismo
estrutural segundo Silvio Almeida. Disponível em: Revista Afirmativa / https://bit.ly/3ocGUcT)
- BETIM,
Felipe. Silvio Almeida: “Quem quer civilizar o Brasil não pode temer o poder.
Temos de nos livrar dessa alma de senhor de escravo”. Disponível em: brasilelpais.com / https://bit.ly/3lYhltc
- BARROS,
Gabriel. Resenha baseada no livro “ Racismo Estrutural” de Silvio de Almeida.
Disponível em: Jus Brasil / https://bit.ly/3zPQ80G
- BATISTA,
Waleska Miguel. A inferiorização dos negros a partir do racismo estrutural.
Disponível em: Scielo Brazil / https://bit.ly/3oezwO2
VÍDEO-RESENHAS DA OBRA
O QUE É RACISMO ESTRUTURAL? | Silvio Almeida (Fonte: canal TV Boitempo - YouTube / https://bit.ly/3kKXLkD)
Silvio Luiz de Almeida (São
Paulo, 17 de agosto de 1976) é um advogado, filósofo e professor universitário.
É autor dos livros "Racismo Estrutural " (Polén, 2019),"Sartre:
Direito e Política" (Boitempo, 2016) e "O Direito no Jovem Lukács: A
Filosofia do Direito em História e Consciência" (Alfa-Ômega, 2006). Também
preside o Instituto Luiz Gama.
Biografia e carreira
Paulistano, Silvio de Almeida é
filho do casal Verônica e Lourival. O pai foi ex-goleiro de futebol, tendo
ficado conhecido como Barbosinha em sua carreira.
No campo acadêmico, formou-se em
Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1995-1999) e em Filosofia
pela Universidade de São Paulo (2004-2011). É mestre em Direito Político e
Econômico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e doutor em Filosofia e
Teoria Geral do Direito pela Universidade de São Paulo.
Em suas obras, trabalha com
conceitos de autores como Sartre e György Lukács. Em seus textos, questões
sobre minorias e desigualdades costumam ser abordadas sob a perspectiva jurídica,
incluindo "ativismo judicial", o papel dos poderes e a atuação das
polícias.
Atualmente, ocupa o cargo de
professor da graduação em Direito e da pós-graduação em Direito Político e
Econômico na Universidade Presbiteriana Mackenzie; professor da Escola de
Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas, ambas em São Paulo; e de
professor visitante na Universidade Duke, nos Estados Unidos da América.
Em 22 de junho de 2020, foi
entrevistado no Roda Viva, na TV Cultura. A participação de Silvio Almeida no
programa inspirou um "clube do livro" nas redes sociais.
Quando criança, a escritora
nigeriana Chimamanda Adichie convivia com Fide, um menino que trabalhava para
sua família. Tudo o que ela sabia sobre ele é que sua família era muito pobre.
Diante de qualquer desperdício, a mãe de Chimamanda chamava sua atenção:
“termine sua comida! Você não sabe que pessoas como a família de Fide não tem
nada?”. Ela só conseguia sentir pena dele.
Um dia, Chimamanda e sua
família foram visitar a aldeia de Fide. A pequena garota ficou surpresa ao ver
um cesto que o irmão do garoto havia feito. “Nunca havia pensado que alguém em
sua família pudesse realmente criar alguma coisa”, relata. “Tudo o que eu tinha
ouvido sobre eles era como eram pobres, assim havia se tornado impossível para
mim vê-los como alguma coisa além de pobres. Sua pobreza era minha história
única sobre eles.”
Pegar toda a complexidade de
uma pessoa e de seu contexto e reduzi-los a um só aspecto é o que Chimamanda
chama de o perigo da história única. Como uma estudante nigeriana em uma
universidade nos Estados Unidos, ela vivenciou com frequência isso. A imagem do
continente africano como lugar de guerras e fome se refletiu na imagem que
tinham dela. De sua colega de quarto, Chimamanda escutou questionamentos sobre
sua capacidade de falar inglês ou de operar um fogão e dúvidas sobre a “música
tribal” que ela escutava. “Nessa única história não havia possibilidade de os
africanos serem iguais a ela, de jeito nenhum.”
A história única também recaiu
sobre seu trabalho literário, criticado por não ser “autenticamente africano”
já que seus personagens dirigiam carros, não passavam fome e tinham coisas em
comum com os americanos. Esta diferenciação entre o eu e o Outro, segundo a
autora, é uma das graves consequências da história única. “Ela rouba das
pessoas sua dignidade. Faz o reconhecimento de nossa humanidade compartilhada
difícil. Enfatiza como nós somos diferentes, ao invés de como somos
semelhantes.”
Chimamanda também aponta a
história única como fonte dos estereótipos: “mostre um povo como uma coisa,
como somente uma coisa, repetidamente, e será o que eles se tornarão”. Para a
escritora, “poder é a habilidade de não só contar a história de uma outra
pessoa, mas de fazê-la a história definitiva daquela pessoa”.
Chimamanda Adichie é uma das
principais escritoras nigerianas da atualidade. É autora de poemas, contos e
romances. Seu último livro, “Americanah”, foi apontado pelo jornal New York
Times como um das dez melhores obras de 2013. Além da palestra “O perigo da
história única”, Chimamanda também falou em evento livre do TED (TEDx) sobre
feminismo.
Se Chimamanda traz tanta
atenção aos perigos da história única, ela ressalta o poder das histórias.
“Histórias tem sido usadas para expropriar e tornar malígno. Mas histórias
podem também ser usadas para capacitar e humanizar”, pondera. “Histórias podem
destruir a dignidade de um povo, mas histórias também podem reparar essa
dignidade perdida.”
Povos ou indivíduos são
complexos e formados por múltiplos aspectos; dar conta de perceber e
compreender essa diversidade é tarefa árdua. Para a educação, especialmente na
concepção de educação integral, o desafio é desenvolvimento da capacidade de
olhar para o outro e tentar compreendê-lo, para além de ideias pré-concebidas.
Para o professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas
Gerais, Miguel Arroyo, o desafio da educação é desenvolver as múltiplas
dimensões do indivíduo. “O ser humano é um sujeito integral, enquanto sujeito
de conhecimento, de cultura, de valores, de ética, de identidade, de memória e
de imaginação e a educação integral tem que dar conta de todas essas dimensões
do ser humano.”
(Fonte: SADA, Juliana. Educação integral e o perigo de uma história única. Disponível em: educacaointegral.org.br / https://bit.ly/3AH4QbC)
Resenhas desta obra
- SOUSA, Neusa. “O perigo de uma história única”: a construção da identidade
africana negra no romance Americanah, de Chimamanda Ngozi Adichie. Disponível em: buala.org.com / https://bit.ly/3CIV2OL
- O perigo de uma história única e como isso é uma questão de sobrevivência. Disponível em: valkirias.com.br / https://bit.ly/3i1yq4j
Escritora criativa nigeriana e
ensaísta, com envolvimento e liderança no pensamento feminista. Nasceu em
Enugu, de uma família de origem Igbo da cidade de Abba, no Estado de Anambra,
mas cresceu em Nsukka. O pai era professor de Estatística na Universidade da
Nigéria e mais tarde tornou-se vice-chanceler adjunto da instituição, enquanto
a mãe era graduada em Sociologia e tabeliã.
Adichie completou sua formação
na Universidade Escola da Nigéria, vencendo diversos prêmios por excelência
acadêmica. Ela estudou Farmácia e Medicina na universidade por um ano e meio,
mas rapidamente percebeu que não queria seguir esta carreira. Desde a juventude
escreveu algumas peças e obras em prosa, sendo influenciada pela escritora
inglesa Enid Blynton, mas sobretudo pelos romancistas africanos Chinua Achebe,
seu conterrâneo, e Câmara Laye, que oferecera a ela perspectivas de pensar a
africanidade.
(Foto: jornal Diário de Pernambuco)
Em 1997, publicou uma coleção
de poemas intitulada Decisions (Decisões), e deixou a Nigéria para estudar Comunicação
na Universidade Drexel, na Filadélfia. Depois de dois anos, pediu transferência
para a Universidade Estadual de Eastern Connecticut, onde completou o
bacharelado em Comunicação e especialização em Ciência Política (2001). Foi quando começou a escrever o romance
Purple hibiscus (Hibisco Roxo), publicado em 2003, quando passou a ganhar
reconhecimento no cenário da literatura internacional.
(Foto: bonashistorias.com.br)
Em 2004 ela obteve um diploma
de Mestrado em Escrita Criativa na Universidade John Hopkins e em 2005-2006 obteve
uma bolsa de estudos Hodder da Universidade de Princeton, onde lecionou
Introdução à ficção. No outono de 2006, matriculou-se no Programa de Mestrado
em História Africana da Universidade de Yale. Paralelamente, ela continuava sua
carreira de escritora, publicando numerosas histórias em periódicos
internacionais como Granta e o New Yorker e diversos ensaios em jornais de
prestígio, incluindo o Guardian e o Washington Post.
(Foto: impressoesdemaria.com.br)
Em 2006 foi publicado o seu
segundo romance, Half of a yellow sun (Meio sol amarelo), que venceu o Prêmio
Internacional de Conto David T. Wong, o Orange Broadband Prize de Ficção em
2007 e foi pré-selecionado para o Commonwealth Writers’ Prize de Melhor Livro
(Região Africana) no mesmo ano. A obra teve também grande êxito comercial, especialmente
no Reino Unido, e selou o status da escritora como um dos principais nomes da
literatura africana no início do século XXI.
(Foto: Revista Marie Claire)
Chimamanda regularmente
retorna à Nigéria, apoiando ativamente talentos literários locais emergentes
através da organização de workshops para aspirantes a escritores em Lagos. Em
maio de 2008 ela se completou os estudos em Yale e se mudou para Columbia,
Maryland. Em setembro do mesmo ano recebeu uma bolsa de estudos da Fundação
MacArthur, um prêmio de 500.000 dólares. A primeira coleção de contos de
Adichie, The thing around your neck (No seu pescoço), foi publicada em abril de
2009.
Como escritora de ficção, suas
obras tratam de dramas sociais nigerianos, mas também das situações dos
imigrantes nos Estados Unidos, tema abordado em sua conhecida conferência no
TED, intitulada “Os perigos de uma história única” (2009). Sua atuação e
denúncia das desigualdades de gênero levou a que proferisse a conferência We
shoud all be feminists (Sejamos todos feministas) (2012), em que compartilha
sua experiência como mulher africana feminista, e sua visão sobre a construção
de relações de gênero e sexualidade, que logo foi transformada em livro de
grande impacto editorial em 2014.
Leitura essencial para quem
deseja desconstruir preconceitos e compreender um pouco a história do racismo
no Brasil e suas vertentes, "Pequeno Manual Antirracista" é uma dica
de leitura para os dias de isolamento social
Você se considera
antirracista? No livro “Pequeno manual antirracista”, Djamila Ribeiro propõe
questionamentos que envolvem a sociedade e o racismo nela intrínsecos. De
acordo com dados da Pesquisa Datafolha de 1995, a mais recente publicada sobre
o assunto, a cada 23 minutos um negro morre no Brasil. Após os países da África,
o Brasil é o local que mais tem negros em sua população, que soma cerca de 56%.
Além disto, em pesquisa de campo, o Datafolha registrou que 89% das pessoas
afirmam que existe racismo no Brasil, mas que 90% se identifica como não
racista. Como diz a escritora e ativista norte-americana Angela Davies: não
basta não ser racista, é necessário levantar a bandeira do antirracismo.
No começo do livro, Djamila
escreve sobre a nossa história corrompida. Será que pode-se mesmo dizer que o
Brasil foi "descoberto" pelos europeus? Como assim
"descoberto", se já havia povos que viviam no País? Como foi o início
da perseguição aos negros e a escravidão? Será mesmo que a escravidão terminou?
É com estes questionamentos a escritora introduz o começo do livro e o conceito
do racismo estrutural, no qual diz que, mesmo que você não se considere racista
no pensamento, desenvolve discursos e atitudes que são racistas, em ações ações
pertencentes à sociedade de forma estrutural.
Djamila, ao decorrer do livro,
também questiona o porquê de o negro ser considerado diferente. A cor da pele
não interfere no intelecto e nem em habilidades físicas, então, porque a
sociedade age como se tal especificidade acontecesse? Além disto, ela também
conta um pouco da sua própria história. Como mulher negra, muitas vezes, as
pessoas não a aceitavam dentro da universidade, como mãe, mulher, negra e
filósofa. “Você tem cara de que dança samba”, essa e outras frases relacionadas
ao estereótipo da mulher negra foram ditas a ela, como se aquele não fosse o
lugar dela. A autora também ressalta a importância urgente de a população branca reconhecer seus privilégios.
Djamila finaliza o livro
enaltecendo autores negros que, na maioria das vezes, não recebem o mesmo
destaque e reconhecimento que autores brancos. Quem melhor para falar sobre
racismo e suas vertentes se não aqueles que sentem na pele a dificuldade de
enfrentar diariamente a desigualdade racial da sociedade?
Sua fala é racista?
Djamila ressalta a importância
de se auto-perceber racista em falas e ações. É um exercício diário. Você sabia
que muitos termos comumente usados em nossas falas no dia a dia têm origem racista?
Conheça alguns deles:
Criado Mudo: a origem
do nome veio de da época da escravidão, quando os negros eram chamados de
criados e alguns passavam dia e noite imóveis ao lado da cama do “senhor” com
um copo de água. Na época, eles tinham que ficar calados, mudos, porque alguns
“senhores” achavam incômodo o fato de eles falarem. Muitos chegavam até a
perder a língua;
Lista Negra: usar negro
para descrever algo que é ruim tem peso negativo, tornando-o pejorativo.
Inveja branca: a ideia
do branco como algo positivo é impregnada nessa expressão.
Denegrir: segundo o
dicionário Aurélio, a palavra denegrir é definida por "tornar negro,
escurecer". Substitua por difamar;
Mulata: a palavra vem
de mula, um ser híbrido originado pela reprodução de burro com égua.
Correspondia ao filho do homem branco com a mulher negra. Esqueça palavras como
mulato, moreno (pele) e pardo. Se refira como negro já que dentro da população
negra existem diversos tons de pele.
Não sou tuas negas:
associa a mulher negra como objeto, como um ser que deve servir outro, ou que
"faz tudo";
Mercado negro: o termo
refere-se ao mercado paralelo, ilegal.
A coisa tá preta: você
já ouviu alguém dizer isso quando as coisas começam a ficar ruins, certo? E
novamente traz a imagem do negro como desagradável.
Cabelo ruim: não existe
cabelo ruim. Existem cabelos afro, liso, crespo, cacheado, ondulado;
Tem um pé na cozinha: a
expressão se refere à negra escravizada, que vivia para servir a família
branca;
Da cor do pecado:
normalmente usada como elogio, refere-se a uma pele branca queimada do sol. É
uma objetificação do corpo negro. Não é um pecado ter a pele negra;
Meia tigela: os negros
que trabalhavam à força nas minas de ouro nem sempre conseguiam alcançar suas
“metas”. Quando isso acontecia, recebiam como punição apenas metade da tigela
de comida e ganhavam o apelido de “meia tigela”, que hoje é usado para se
referir a algo sem valor e medíocre.
[...]
(Fonte: GRILLO, Lígia. Dica de leitura para a
quarentena, confira a resenha do livro "Pequeno Manual Antirracista". Disponível em: opovo.com.br / https://bit.ly/2XPehrh)
- AIZAWA, Andreia G. P. PEQUENO
MANUAL ANTIRRACISTA: AS ORIGENS DO RACISMO E COMO COMBATÊ-LO – DJAMILA RIBEIRO
(2019) – RESENHA, em jan 11/2021. Disponível em: Revista Relações Exteriores / https://bit.ly/3u41Kf6
- GIRARDELLI, Stéfano B. Resenha do livro "O
pequeno manual antirracista", em Ago 2/2020. Dispónível em: stefanobg.medium.com / https://bit.ly/39zDiZD
VÍDEO-RESENHAS SOBRE O LIVRO:
Pequeno Manual Antirracista (Fonte: canal Impressões de Maria - YouTube / https://bit.ly/39t1Ljr)
Djamila Taís Ribeiro dos Santos, nasceu em 01 de agosto de 1980, em Santos, São Paulo. Ela iniciou o contato com a militância ainda na infância. Uma das grandes influências foi o pai, estivador, militante e comunista, um homem que mesmo com pouco estudo formal, era culto. “Desde muito cedo, eu e meus dois irmãos vivemos nesse meio. Com seis anos, já íamos para atos. A gente debatia esses temas em casa, e meu pai nos fazia estudar a história do nosso povo”, relembra.
O movimento feminista entrou na vida da filósofa aos 19 anos, quando conheceu a ONG Casa de Cultura da Mulher Negra, em Santos, onde trabalhou por cerca de quatro anos. Lá teve contato com obras de feministas e de mulheres negras e passou a estudar temas relacionados a gênero e raça.[2] Graduou-se em Filosofia pela Unifesp, em 2012, e tornou-se mestre em Filosofia Política na mesma instituição, em 2015, com ênfase em teoria feminista. Em 2005, interrompeu uma graduação em Jornalismo. Suas principais atuações são nos seguintes temas: relações raciais e de gênero e feminismo.
É colunista online da CartaCapital, Blogueiras Negras e Revista Azmina e possui forte presença no ambiente digital, pois acredita que é importante apropriar a internet como uma ferramenta na militância das mulheres negras, já que, segundo Djamila, a “mídia hegemônica” costuma invisibilizá-las.
Em maio de 2016, foi nomeada secretária-adjunta de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de São Paulo durante a gestão do prefeito Fernando Haddad. Escreveu o prefácio do livro “Mulheres, raça e classe” da filósofa negra e feminista Angela Davis, obra inédita no Brasil e que foi traduzida e lançada em setembro de 2015. Participa constantemente de eventos, documentários e outras ações que envolvam debates de raça e gênero. Escreveu os livros: “O que é um lugar de fala?”( o livro aborda a urgência pela quebra dos silêncios instituídos, trazendo também ao conhecimento do público produções intelectuais de mulheres negras ao longo da história), “Quem tem medo do feminismo negro?. E também a “revista observatório itaú cultural”.
(Fonte: ABREU, Carolina. MULHERES EM TODAS AS CORES – DJAMILA RIBEIRO. Disponível em: mulheresnaciencia.com.br / https://bit.ly/3Ab57TY)
Popularizado nos debates
sociais brasileiro há poucos anos, oconceito delugar de fala é usado
atualmente por diversos ativistas de movimentos sociais. Entretanto, ainda
resta muita dúvida no que a expressão realmente significa. [...]
Entendendo o conceito
“O lugar social não determina
uma consciência discursiva sobre esse lugar. Porém, o lugar que ocupamos
socialmente nos faz ter experiências distintas e outras perspectivas”.
A frase de Djamila Ribeiro,
filósofa, feminista negra e escritora, faz parte do seu livro O que é lugar de
fala? lançado em 2017. Nele, Djamila apresenta um panorama histórico sobre as
vozes que foram historicamente interrompidas. A partir disso, é possível
questionar: quem tem mais chances de falar (e ser ouvido) na sociedade?
Ao analisar a população
brasileira, vemos que as minorias (grupos marginalizados na sociedade) ainda
ocupam poucos espaços políticos sendo menos representadas e, por consequência,
menos ouvidas.. É nesse momento que entra o lugar de fala.
Djamila explica que essa
hierarquia estruturada na sociedade faz com que as produções intelectuais,
saberes e vozes desses grupos sejam tratadas de modo inferior, fazendo com que
as condições estruturais os mantenham em um lugar silenciado.
Sendo assim, a ideia do lugar
de fala tem como objetivo oferecer visibilidade a sujeitos cujos pensamentos
foram desconsiderados durante muito tempo. Dessa forma, ao tratarmos de
assuntos específicos a um grupo, como racismo e machismo, pessoas negras e mulheres
possuem, respectivamente, lugar de fala. Isto é, podem oferecer uma visão que
pessoas brancas e homens podem não ter. Desse modo, o microfone é passado para
as pessoas que realmente vivenciam aquela realidade.
Isso não significa que quem
não faz parte daquele grupo não pode expressar sua opinião, entretanto, o ideal
é abrir espaço para aprender, entender e respeitar o que aquele grupo está
tentando dizer.
O lugar de fala é um pretexto
para evitar o debate?
Não! O lugar de fala não se
trata de calar ninguém, mas de abrir espaço para que diversas vozes sejam
ouvidas e levadas a sério.
Giselle Marques, Coordenadora
Regional da Rede Estadual de Afroempreendedorismo em Santa Catarina, afirma
que, antes de haver o diálogo sobre opressões de gênero, raça ou classe, é
necessária uma “escuta silenciosa”.
O lugar de fala traz, na sua
essência, a consciência do papel do indivíduo nas lutas, criando uma lucidez de
quando você é o protagonista ou coadjuvante no cenário de discussão. Não há
silenciamento de vozes, na verdade é justamente nesse ponto que queremos
avançar. Traz uma liberdade para cada grupo se reconhecer e entender em qual
espaço se encontra conforme o processo de organização e falar com propriedade a
partir dele.
Ou seja, o objetivo não é restringir
a troca de ideias, encerrar uma discussão ou impor uma visão. Mas sim, abrir
uma nova janela, com a perspectiva de alguém que antes não podia se expressar
livremente em sociedade.
Lugar de fala e
representatividade são a mesma coisa? Representatividade significa
representar com efetividade e qualidade um segmento ou grupo o qual se quer
representar. Um trecho do livro de Djamila
ilustra bem a situação: “Uma travesti negra pode
não se sentir representada por um homem branco cis (ou seja, aquele que se
identifica com o gênero de nascença), mas esse homem branco cis pode teorizar
sobre a realidade das pessoas trans e travestis a partir do lugar que ele
ocupa. Acreditamos que não pode haver essa desresponsabilização do sujeito do
poder. A travesti negra fala a partir de sua localização social, assim como o
homem branco cis. Se existem poucas travestis negras em espaços de privilégio,
é legítimo que exista uma luta para que elas, de fato, possam ter escolhas numa
sociedade que as confina num determinado lugar, logo é justa a luta por
representação, apesar dos seus limites”
Portanto, lugar de fala e
representatividade não são a mesma coisa.
Entretanto, são conceitos que
andam juntos. Afinal, a partir do momento que as camadas marginalizadas da
sociedade se sintam representadas em espaços sociais, coletivos e políticos, é
uma possibilidade a mais de serem ouvidas. Ou seja, de exercerem o seu lugar de
falar.
Os movimentos sociais
Agora que entendemos o
conceito de lugar de fala, podemos compreender como é importante que os
movimentos sociais tenham suas lutas reconhecidas e legitimadas. Afinal, abrir
espaço para que as pessoas exerçam seu direito de fala e sejam escutadas pode
ajudar a sociedade a se tornar igualitária no futuro.
Hoje, por exemplo, a maioria
dos eleitos na Câmara dos Deputados são homens e brancos – de acordo com
pesquisa feita pelo G1 em 2018. Isso nos leva a pergunta: como os diferentes
interesses, vivências e necessidades de grupos tão diversos podem ser
representados por esse pequeno grupo tão homogêneo?
Bom, é pensando nisso que
conceitos como lugar de fala devem ser cada vez mais discutidos e colocados em
prática na nossa sociedade.
- FREITAS, Thayanne T. RIBEIRO,
Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento, 2017. 112 p.
(Feminismos Plurais). Disponível em: scielo.br / https://bit.ly/39nJVhR
- RESENHA
| LUGAR DE FALA, DE DJAMILA RIBEIRO (COLEÇÃO FEMINISMOS PLURAIS). Disponível em: abookaholicgirl.wordpress.com / https://bit.ly/3CpINGW
- ‘Se quiserem debater, que
leiam’, diz Djamila Ribeiro sobre racismo. Disponível em: portalgeledes.org.br / https://bit.ly/3AwEB7A
VÍDEO-RESENHAS SOBRE A OBRA:
Curta! Livros | O que é lugar
de fala? (Fonte: canal Curta! - YouTube / https://bit.ly/3zwwTcp)
O
QUE É LUGAR DE FALA? - Djamila Ribeiro | RESENHA
Djamila Ribeiro: "Lugar
de fala não é impedir alguém de falar, é dizer que outra voz precisa
falar" (Fonte: canal Carta Capital - YouTube / https://bit.ly/3u0xx0P)
Djamila Ribeiro: "O que é lugar de fala?"
(Fonte: canal Oficinas Culturais do Estado de São Paulo - YouTube / https://bit.ly/3AvCssY)
Lugar de fala desconstrói a
possibilidade de diálogo? - Luiz Felipe Pondé
Djamila Taís Ribeiro dos Santos, nasceu em 01 de agosto de 1980, em Santos, São Paulo. Ela iniciou o contato com a militância ainda na infância. Uma das grandes influências foi o pai, estivador, militante e comunista, um homem que mesmo com pouco estudo formal, era culto. “Desde muito cedo, eu e meus dois irmãos vivemos nesse meio. Com seis anos, já íamos para atos. A gente debatia esses temas em casa, e meu pai nos fazia estudar a história do nosso povo”, relembra.
O movimento feminista entrou na vida da filósofa aos 19 anos, quando conheceu a ONG Casa de Cultura da Mulher Negra, em Santos, onde trabalhou por cerca de quatro anos. Lá teve contato com obras de feministas e de mulheres negras e passou a estudar temas relacionados a gênero e raça.[2] Graduou-se em Filosofia pela Unifesp, em 2012, e tornou-se mestre em Filosofia Política na mesma instituição, em 2015, com ênfase em teoria feminista. Em 2005, interrompeu uma graduação em Jornalismo. Suas principais atuações são nos seguintes temas: relações raciais e de gênero e feminismo.
É colunista online da CartaCapital, Blogueiras Negras e Revista Azmina e possui forte presença no ambiente digital, pois acredita que é importante apropriar a internet como uma ferramenta na militância das mulheres negras, já que, segundo Djamila, a “mídia hegemônica” costuma invisibilizá-las.
Em maio de 2016, foi nomeada secretária-adjunta de Direitos Humanos e Cidadania da cidade de São Paulo durante a gestão do prefeito Fernando Haddad. Escreveu o prefácio do livro “Mulheres, raça e classe” da filósofa negra e feminista Angela Davis, obra inédita no Brasil e que foi traduzida e lançada em setembro de 2015. Participa constantemente de eventos, documentários e outras ações que envolvam debates de raça e gênero. Escreveu os livros: “O que é um lugar de fala?”( o livro aborda a urgência pela quebra dos silêncios instituídos, trazendo também ao conhecimento do público produções intelectuais de mulheres negras ao longo da história), “Quem tem medo do feminismo negro?. E também a “revista observatório itaú cultural”.
(Fonte: ABREU, Carolina. MULHERES EM TODAS AS CORES – DJAMILA RIBEIRO. Disponível em: mulheresnaciencia.com.br / https://bit.ly/3Ab57TY)