sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Trilha Antirracista / Sociologia: O FEMINISMO É PARA TODO MUNDO, de Bell Hooks

"O Feminismo É Para Todo Mundo" foi mais um dos livros que li para a maratona literária #PRETATONA. Seguindo a ideia do título, Bell Hooks tenta nos dar uma narrativa mais acessível sobre o que é feminismo e a importância de levarmos suas políticas a sério. A obra foi originalmente publicada em 2000 e depois relançada em 2018, aqui no Brasil o livro é traduzido pela Ana Luiza Libânio e lançado pela Editora Rosa dos Tempos.

A autora fala sobre cada ponto em que o feminismo toca em nossas vidas. A proposta é clara: todos precisam entender o verdadeiro feminismo para que se juntem ao movimento. Mas como fazer a mensagem chegar em todos? Ela inicia o livro dizendo que uma revolução feminista não se faz sozinha e pontua a necessidade de acabar com o racismo, elitismo e o imperialismo. Dessa forma, homens e mulheres poderão criar um espaço unido.

Nos primeiros parágrafos, Bell fala sobre a confusão das pessoas ao definirem o feminismo. Tudo o que diziam era uma reprodução do discurso da mídia patriarcal, principalmente a falsa mensagem de que o feminismo é um movimento anti-homem. O apagamento de mulheres não brancas dentro do movimento também é bastante colocado durante a narrativa. Mesmo mulheres negras atuando como revolucionárias e aliadas da luta, elas não eram vistas como líderes.

"Estava claro para as mulheres negras que jamais alcançariam a igualdade dentro do patriarcado capitalista de supremacia branca existente"

O livro foi se desenrolando de forma fácil durante a minha leitura, Hooks cita suas vivências para exemplificar grande parte da teoria feminista que ela expõe na obra. Isso para mim é fantástico, pois deixa evidente que ela sabe do que está falando, pois vivenciou grande parte dessas experiências.

Ainda no primeiro capítulo, Bell Hooks faz uma diferenciação entre pensamento revolucionário e o pensamento reformista. O pensamento revolucionário se tornou popular no meio acadêmico e por causa da linguagem difícil não saiu da bolha dos letrados. Uma pena na época, pois esses trabalhos ofereciam uma visão libertadora da transformação feminista e não recebia tanta atenção da imprensa, pois a mesma focou suas energias em falar apenas de igualdade de gênero no mercado de trabalho, esquecendo de dialogar sobre a desigualdade de classe.

Por outro lado, o feminismo na academia permitiu que pensadoras e escritoras ganhassem nota, como por exemplo, Toni Morrison, que não era muito lida na época, mas Bell pôde usá-la como referência em seus trabalhos. O problema mesmo, como já disse ali em cima, foi quando a linguagem da teoria começou a ficar restrita ao grupo acadêmico. As ideias eram visionárias, porém, não alcançavam as pessoas  do lado de fora, o que, de certa forma, enfraquecia o movimento.

"Ensinar pensamento e teoria feminista para todo mundo significa que precisamos alcançar além da palavra acadêmica e até mesmo da palavra escrita"

Bell Hooks também reforça que o feminismo precisa ser presente em nosso dia a dia, para que essas práticas sejam naturalizadas. É preciso ter mais estudos feministas nas coisas que lemos, ouvimos e assistimos. Principalmente na educação infantil, escola e faculdade. Mas não pense que a autora ficou só nisso, ela escreveu com profundidade ao falar que uma pessoa feminista precisa entender o direito reprodutivo da mulher. Mais do que pedir a legalização do aborto, Bell explica o porque precisamos dar condições para mulheres escolherem se querem ou não ter filhos.

"Se educação sexual, medicina preventiva e fácil acesso a métodos contraceptivos forem oferecidos para todas as mulheres, menos de nós teremos gravidez indesejada", ou seja, se a educação sexual de mulheres, ricas ou pobres, fossem uma das prioridades de nossos governantes, menos mulheres ficariam grávidas e menos abortos aconteceriam. É simples. Direito reprodutivo é uma questão de saúde pública, é necessário criar mais políticas que visam proteger a mulher de riscos.

No capitulo "Beleza por dentro e por fora", Bell inicia lembrando de que as mulheres, jovens ou mais velhas, são socializadas para acreditarem que o nosso valor está na aparência, e esse é mais um pensamento sexista.

"A revolução do vestuário e do corpo criada pelas intervenções feministas fez com que mulheres aprendessem  que nossa carne merecia amor e adoração em seu estado natural"

A revolução na indústria da moda, saúde e beleza se deu a partir da luta feminista. No movimento existem mulheres de todos os estilos e gosto, o capitalismo precisou se adequar a isso. Grandes marcas precisam se adequar a essas mudanças ou podem perder para as mulheres que criam seus próprios produtos. É nesta parte que entendemos que as mulheres feministas precisam ocupar todos os espaços, para que sempre tenhamos alternativas. Assim, o movimento se fortifica e mulheres podem continuar consumindo produtos sem praticar o auto-ódio.

"Criticar imagens sexistas sem oferecer alternativas é uma intervenção incompleta"

Há assuntos neste livro que ainda não foram explorados de forma correta dentro da mídia de massa e que seria bastante interessante que mais pessoas falassem sobre. Como por exemplo, os relacionamentos abusivos entre pais e filhos. Quando Bell fala que mulheres também podem ser sexistas e abusivas, é algo certeiro, pois a mídia sempre menciona a desigualdade de gênero e/ou coloca a mulher como sexo frágil, sendo que há muitas mulheres que praticam atos de violência e são sexistas com outras mulheres. Abrir essa discussão nas rodas de conversa abre caminhos para criarmos uma comunidade mais amorosa e mais ciente de seus direitos e deveres.

O progresso no movimento feminista permitiu que as pessoas se atentassem ao fato de que violência doméstica também acontecia em relacionamentos homoafetivos e contra crianças. Focar apenas na violência contra mulher não ajuda o movimento a progredir porque é preciso acabar com TODAS as estruturas de violência. Mulheres também podem ser violentas e perpetuar esses comportamentos através de seus filhos. A partir do momento em que aceitamos o nosso papel dentro desses problemas, conseguimos acabar com eles.

"A violência patriarcal em casa é baseada na crença de que só é aceitável que um indivíduo mais poderoso controle outros por meio de várias formas de força coercitiva"

Aqui nesta resenha eu digitei e digitei, mas ainda não falei nem metade da mensagem de Bell Hooks em "O feminismo é para todo mundo". Recomendo que vocês leiam também para espalhar a mensagem de forma ainda mais acessível. A autora recomenda que façamos como as pessoas que saem batendo nas portas para falar de religião, que possamos dar essa mesma importância ao movimento para que a convivência entre nós melhore.

Ainda que a intenção da autora seja trazer uma linguagem fácil para o seu livro, acredito que ele ainda não é o ideal para alcançar as pessoas de todas as classes. O trabalho ainda é longo. Façam resenhas nos blogs, espalhem folhetos, discuta em seu canal no YouTube e reflita suas atitudes no dia a dia. Deixe que as pessoas perguntem sobre essas perspectivas.

E isso não é só para as mulheres CIS, é para homens CIS e LGBTQI+ também, apesar da Bell Hooks não falar de pessoas TRANS no livro (é algo para se discutir), a proposta serve para todos. Desde o início, o movimento feminista deveria ter trabalhado com alternativas que incluísse o papel do homem na luta contra o sexismo, porém a mídia focou no pequeno grupo anti-homem e só enfraqueceu os ideais revolucionários que beneficiaria todo mundo. Precisamos reverter essa situação!

Assim como ficou claro para mim, eu espero que também fique para vocês: O FEMINISMO É PARA TODO MUNDO.

(Fonte: DOMINGOS, Bruna. Resenha: o feminismo é para todo mundo. Disponível em: leiapop.com / https://bit.ly/3jE8YTL)

Alguns depoimentos sobre esta obra:

Manual simples e necessário
O livro é realmente um manual. Básico, direto, linguagem fácil; como a própria autora diz que gostaria que fosse no início do livro.
bell hooks perpassa o feminismo por diversos outros temas como relação sexual, política e até espiritualidade evidenciando a juventude do movimentos, o quanto ainda temos que aprimora-lo.
A leitura é ótima tanto pra quem já tem noção do assunto quanto pra quem quer começar a aprender sobre ele. (Fonte: beatrizsamogim 19/08/2021 - skoob.com.br / https://bit.ly/38xpu1w)

Didático e completo
"Se qualquer mulher sentir que precisa de qualquer coisa além de si para legitimar e validar sua existência, ela já estará abrindo mão de seu poder de se autodefinir, de seu protagonismo." 
Um livro a se recomendar pra todo mundo que se interesse sobre feminismo. A autora consegue abordar diversos aspectos relacionados ao assunto de uma forma bem clara e didática. Mesmo não sendo tão aprofundado, é muito completo e excelente tanto pra quem quer começar a entender sobre feminismo, quanto pra quem já é bastante engajado. (Fonte: Rebeca Vilela 23/08/2021 - skoob.com.br / https://bit.ly/38xpu1w)

Outras resenhas sobre esta obra:

- O Feminismo É Para Todos: políticas arrebatadoras - Bell Hooks. Disponível em: impressoesdemaria.com.br / https://bit.ly/3kRHE3w

- MIRANDA, Júlia. O feminismo é para todo mundo, ainda bem! Disponível em: azmina.com.br / https://bit.ly/3Bye1es

Um artigo interessante sobre este livro de Bell Hooks. Veja abaixo os tópicos: 

[...]
1. A importância de construir um movimento feminista de massa
2. Quando escrever, partir sempre de uma experiência concreta
3. É um movimento para acabar com o sexismo, a exploração sexista e a opressão
4. Uma revolução feminista sozinha não acabará com a opressão sem acabar com o racismo, o elitismo e o imperialismo
5. Feministas são formadas, não nascem feministas
6. Sem ter homens aliados à luta, o movimento feminista não vai progredir
7. O foco na pauta dos direitos reprodutivos como um todo
8. A maioria das pessoas ainda socializa só com pessoas do seu próprio grupo
9. O fim de todas as formas de violência
10. Não há amor onde há dominação
[...]

- FILGUEIRAS, Mariana. 10 lições do livro "O Feminismo É Para Todo Mundo". Disponível em: hysteria.etc.br / https://bit.ly/3BA03c3

Vídeo-resenhas sobre a obra e entrevista com a escritora:

VLOG e RESENHA "O FEMINISMO é para todo mundo", Bell Hooks
(Fonte: canal Impressões de Maria - YouTube / https://bit.ly/2YhebIN)

RESENHA: O feminismo é para todo mundo, de Bell Hooks
(Fonte: canal Ana Lis Soares - YouTube / https://bit.ly/2WJ5irf)

O Feminismo É Para Todo Mundo, políticas arrebatadoras, Bell Hooks
(Fonte: canal Trama Literária - YouTube /https://bit.ly/3yMjxIt)

NÃO É FICÇÃO: O feminismo é para todo mundo, de Bell Hooks
(Fonte: canal Litera Tamy - YouTube / https://bit.ly/3kV3xiH)

O feminismo negro de Bell Hooks e seus diálogos com o Brasil
(Fonte: canal Fundação Rosa Luxemburgo Brasil e Paraguai - YouTube / https://bit.ly/3n1uKmq)

Livros da Bell Hooks - Como enxergar o opressor dentro de nós
(Fonte: canal Senhor dos Livros - YouTube /  https://bit.ly/2YfkY5K)

Entrevista completa com Bell Hooks legendada em português
(Fonte: canal Gabriela Manna - YouTube / https://bit.ly/3BFSQXS)

QUEM É bell hooks?

(Foto: geledes.org.br)
Gloria Jean Watkins (nascida em Hopkinsville, Kentucky/EUA, em 25 de setembro de 1952), mais conhecida pelo pseudônimo bell hooks (escrito em minúsculas) é uma autora, professora, teórica feminista, artista e ativista antirracista estadunidense.

O nome "bell hooks" foi inspirado na sua bisavó materna, Bell Blair Hooks. A letra minúscula pretende dar enfoque ao conteúdo da sua escrita e não à sua pessoa. O seu objetivo, porém, não é ficar presa a uma identidade em particular, mas estar em permanente movimento.

hooks publicou mais de trinta livros e numerosos artigos acadêmicos, apareceu em vários filmes e documentários, e participou de várias palestras públicas. Sua obra incide principalmente sobre a interseccionalidade de raça, capitalismo e gênero, e aquilo que hooks descreve como a capacidade destes para produzir e perpetuar sistemas de opressão e dominação de classe. hooks tem uma perspectiva pós-moderna e influenciada pela pedagogia crítica de Paulo Freire.

Em 2014, fundou o bell hooks Institute com sede no Berea College, em Berea, Kentucky.

Biografia

Gloria Jean Watkins nasceu em Hopkinsville, numa pequena cidade segregada no Kentucky. Vem de uma família afro e nativa americana de classe trabalhadora: o pai, Veodis Watkins, trabalhava como porteiro e a mãe, Rosa Bell Watkins, como empregada doméstica em casas de famílias brancas. O casal teve seis filhos: 5 raparigas e 1 rapaz.

hooks foi educada em escolas públicas segregadas racialmente, nas quais, segundo ela, foi possível experimentar a educação como a prática de sua liberdade. Aos 10 anos começa a escrever os seus primeiros poemas.

Ao fazer a transição para uma escola integrada, onde professores e alunos eram predominantemente brancos, hooks enfrentou grandes adversidades.

Depois de ter frequentado a Escola Secundária de Hopkinsville, em Hopkinsville, Kentucky, foi-lhe oferecida uma bolsa de estudo para concretizar a sua licenciatura em inglês na Universidade de Stanford em 1973. Começa a escrever Não Serei Eu Mulher? aos 19 anos, ao mesmo tempo em que trabalha como operadora de telefone. Fez mestrado em inglês na Universidade de Wisconsin-Madison, em 1976.

Em 1983, após vários anos de ensino e escrita, concluiu o seu doutoramento em literatura na Universidade da Califórnia, Santa Cruz, com uma dissertação sobre a autora Toni Morrison.

(Foto: wikipedia.org)
Percurso

A sua carreira de professora começou em 1976 como professora de Inglês e professora sénior de Estudos Étnicos na Universidade do Sul da Califórnia, depois de terminado o doutoramento em literatura inglesa. Durante os anos que leccionou nesta Universidade, Golemics, uma editora de Los Angeles, publicou a sua primeira obra, um livro de poemas intitulado "And There We Wept" (1978), escrito sob o pseudónimo de "bell hooks".

Ensinou em várias instituições pós-ensino secundário no início dos anos 80 e 90, incluindo a Universidade da Califórnia, Santa Cruz, Universidade do Estado de São Francisco, Yale, Oberlin College e City College of New York. Em 1981, a South End Press publicou o seu primeiro trabalho principal, "Ain't I a Woman? Black Women and Feminism", escrito anos antes quando era uma estudante universitária. A seguir à publicação de "Ain't I a Woman?" ganhou um reconhecimento generalizado pela contribuição para o pensamento feminista.

Depois de ter ocupado vários cargos na Universidade da Califórnia em Santa Cruz, Califórnia, no início da década de 1980, aceitou o cargo para lecionar Estudos Afro-Americanos na Universidade de Yale em New Haven, Connecticut. Em 1988 entrou para o corpo docente de Oberlin College, em Ohio, para em Estudos sobre as Mulheres.

Quando começou a trabalhar no City College de Nova Iorque em 1995, hooks mudou-se para a editora Henry Holt e saiu da Killing Rage.

(Fonte: wikipedia.org / https://bit.ly/3jERV3V)

Outras biografias sobre a autora:

- Biografia e idéias de bell hooks. Disponível em psicanaliseclinica.com / https://bit.ly/3kTzbgm

- ALMEIDA, Mariléa. bell hooks. Disponível em: Mulheres na Filosofia -  blogs.unicamp.br / https://bit.ly/3zHxKYA

- JACOB, Paula. A importância dos livros de bell hooks nas livrarias brasileiras. Disponível em: casavogue.globo.com / https://glo.bo/38A4kzQ 

- BREDA, Tadeu. Quem é bell hooks? Disponível em: elefanteeditora.com.br / https://bit.ly/3kLR3d4

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