terça-feira, 30 de novembro de 2021

Livro da Semana: O MULATO, de Aluísio Azevedo

Raimundo: homem de olhos azuis, no auge dos seus 26 anos de idade. Cabelos muito pretos e lustrosos. Pele morena e amulatada, mas fina. Dentes claros que reluziam a negrura de seu bigode. Pescoço largo e estatura alta, elegante, com sobrancelhas muito desenhadas no rosto. Gestos nobres, educados, sóbrios, despidos de pretensão. Falava em voz baixa. Vestia-se de bom gosto e amava as artes, em especial, a literatura. Essas são as características do protagonista de um dos primeiros romances naturalistas da literatura brasileira, O Mulato, publicado pelo maranhense Aluísio de Azevedo em 1881.

Quando lançado, o Brasil passava por reajustes em sua “ordem social”, contexto bem delineado nesta obra dividida em 19 capítulos. Nos romances de Aluísio de Azevedo, encontramos uma radiografia sociológica de cenas do cotidiano brasileiro em meados do Segundo Reinado e nos primeiros momentos de uma nação republicana, mergulhadas em suas contradições desde que era colônia europeia, saqueada cotidianamente. Graças ao seu posto de escritor, dramaturgo, ilustrador e cronista, o autor circulou por diversos espaços da sociedade e com a experiência, adquiriu a destreza ideal para flertar com as temáticas presentes em sua obra.

[...]

Com ressonâncias de Émile Zola¹, Aluísio de Azevedo deixa minar em seu enredo tópicos como a abolição da escravatura, os papeis desempenhados pela igreja na política e no bojo da sociedade, as manifestações naturalistas/realistas nas artes, reflexo dos assuntos cotidianos, o declínio da economia açucareira e a vertiginosa urbanização, tema este que desagua posteriormente em O Cortiço. Parte integrante de uma nação tomada pelo analfabetismo, Aluísio de Azevedo foi um dos poucos escritores que “viveu” por conta da sua produção, tendo se dedicado ao campo da diplomacia depois que já havia considerado suficiente o tempo de dedicação ao terreno pouco fértil da ficção, algo que lhe traria apenas reconhecimento póstumo.

[...]

São Luís, por sinal, é mais que um espaço cênico, pois de tão viva, se impõe como personagem. Por suas ruas, homens e mulheres negros cumprem as suas tarefas. No interior das casas, as pessoas brancas gozam de seus privilégios. Sobre as mulheres, as que não estão recolhidas em seus afazeres domésticos, ocupam um posto pouco respeitado por circular em sociedade. Com narração atmosférica, imersiva, O Mulato apresenta ao leitor um clima fúnebre em diversas passagens, até mesmo nos momentos de descontração. É a prévia da tragédia que se estabelecerá na vida de Raimundo, um homem que para alguns recalcados, não merecia prover de tanta pompa, afinal, era “um negro e deveria se pôr em seu devido lugar”.

De uma atualidade hedionda, todas as características descritas sobre Raimundo, como percebemos, não o torna um privilegiado. Ele sofre as agruras do racismo velado, estruturado e espalho como um rizoma pela sociedade, já naquela época. Imagina, então, a vida dos mulatos da contemporaneidade? Um caos, não é mesmo? Só não acha isso quem vive em torno do mito da democracia racial brasileira, história tão cabulosa quanto o tal “sonho americano”. O cinema, o teatro, a televisão, a publicidade, e atualmente, as redes sociais, demonstram diariamente histórias semelhantes ao destino de Raimundo e Ana Rosa, personagens moldados no âmbito literário, criados com base em tensões da realidade.

Ademais, O Mulato é uma publicação que fez um ousado projeto de divulgação, algo pouco comum na época. Aluísio de Azevedo preparou o terreno de São Luís para o seu lançamento, tendo em vista algumas estratégias incomuns até mesmo no Rio de Janeiro, o “centro de todas as coisas” no Brasil em caminhada para o final do século XIX. Cartazes, panfletos e outros recursos na imprensa tornaram o romance uma sensação antes mesmo de sua disponibilidade para os poucos leitores que naquele momento, detinha a possibilidade de acompanhá-lo. A recepção não foi calorosa e teve até crítico mandando o escritor fazer trabalhos braçais e abandonar a escrita, haja vista a vulgaridade de sua temática, desrespeitosa com elementos políticos e religiosos da sociedade maranhense.

¹ Émile Zola foi um consagrado escritor francês, considerado criador e representante mais expressivo da escola literária naturalista além de uma importante figura libertária da França

(Fonte: CAMPOS, Eduardo. Crítica / O Mulato, de Aluísio de Azevedo. Disponível em: pontocritico.com / https://bit.ly/3G5N7gt)

OUTRAS RESENHAS SOBRE ESTA OBRA

- Resenha - O Mulato. Disponível em: interesses-sutis.blogspot.com / https://bit.ly/3lmlh7A

O Mulato - Aluísio Azevedo (Resumo). Disponível em: mundovestibular.com.br / https://bit.ly/3limxsw

PARKER, Pedro. Resenha sobre o livro O Mulato. Disponível em: pedro-parker.medium.com / https://bit.ly/318a9UB

VÍDEO-RESENHAS SOBRE ESTA OBRA

O Mulato, de Aluísio Azevedo

(Fonte: canal Ler Antes de Morrer - YouTube / https://bit.ly/3ljzimk)

O Mulato, de Aluísio Azevedo
(Fonte: canal Diego Cardoso - Cultura e Ação - YouTube / https://bit.ly/3ljA4Qg)

O Mulato: um negro não poderia se dar bem no século 19
(Fonte: canal Lendo com o Leão - YouTube / https://bit.ly/3ljA4Qg)

O Mulato, de Aluísio Azevedo

(Fonte: canal Guia de Linguagens - YouTube / https://bit.ly/3llqP2m)

QUEM FOI ALUÍSIO AZEVEDO?

Aluísio Azevedo (1857-1913) foi um escritor brasileiro. "O Mulato" foi o romance que iniciou o Movimento Naturalista no Brasil. Foi também caricaturista, jornalista e diplomata. É membro fundador da cadeira nº. 4 da Academia Brasileira de Letras.

Aluísio Azevedo (Aluísio Tancredo Gonçalves de Azevedo) nasceu em São Luís, Maranhão, no dia 14 de abril de 1857. Em 1871 matriculou-se no Liceu Maranhense e dedicou-se ao estudo da Pintura.

Com 19 anos foi levado pelo irmão, o teatrólogo e jornalista Artur Azevedo, para o Rio de Janeiro. Começou a estudar na Academia Imperial de Belas-Artes, onde revelou seus dons para o desenho. Logo passou a colaborar, com caricaturas para os jornais "O Mequetrefe", "Fígaro" e "Zig-Zag".

Escola Literária

Com a morte do pai, em 1879, Aluísio volta para São Luís e começa a carreira literária para ganhar a vida. Publica seu primeiro "Romance Romântico", Uma Lágrima de Mulher (1879), onde se mostra exageradamente sentimental para satisfazer um público ávido pelo romantismo.

Em 1881, publica O Mulato, romance que iniciou o “Movimento Naturalista no Brasil”. A obra denunciava o preconceito racial existente na burguesia maranhense e provocou uma reação indignada da sociedade, que se viu retratada nos personagens, mas o livro foi um sucesso de vendas.

No dia 7 de setembro de 1881, Aluísio Azevedo volta para o Rio de Janeiro decidido a se dedicar à vida de escritor. Publicou inúmeros contos, crônicas, romances e peças de teatro, nos folhetos dos jornais da época, na maioria obras de feição romântica, cujos enredos conduziam ora a tragédia ora ao desenlace feliz, entre eles: Memórias de Um Infeliz (1882) e Mistério da Tijuca (1882).

Durante os intervalos da sua intensa produção literária, Aluísio Azevedo procurava escrever livros sérios e mais trabalhados. Surgem suas obras mais importantes, que pertencem à fase “Naturalista” do escritor, entre elas: O Homem, Livro de Uma Sogra, O Cortiço e Casa de Pensão.

Preocupado com a realidade cotidiana, seus temas prediletos foram: a luta contra o preconceito de cor, o adultério, os vícios e o povo humilde. Na obra O Cortiço, Aluísio retrata o aumento da população no Rio de Janeiro e o aparecimento de núcleos habitacionais, denominados cortiços, onde se aglomeravam trabalhadores e gente de atividades incertas. O grande personagem do romance é o próprio cortiço.

Carreira diplomática

Em 1895, com quase quarenta anos, Aluísio vence um concurso para cônsul e ingressa na carreira diplomática, servindo na cidade de Vigo, na Espanha, no Japão, na Inglaterra, Itália, Uruguai, Paraguai e Argentina. Durante todo esse período não mais se dedicou a produção literária. Vivia com a argentina Pastora Luquez, junto com os dois filhos, Pastor e Zulema, por ele adotados.

Aluísio Azevedo faleceu em Buenos Aires, Argentina, no dia 21 de Janeiro de 1913. Seis anos depois, no governo de Coelho Neto, a urna funerária de Aluísio Azevedo foi transferida para São Luís, sua terra natal.

(Fonte: ebiografia.com / https://bit.ly/3pbVdgG)

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

Livro da Semana 2: QUISSAMA - O IMPÉRIO DOS CAPOEIRAS, de Maicon Tenfen

Sinopse:

Rio de Janeiro, dezembro de 1868.

O moleque Vitorino Quissama foge da senzala para procurar a mãe desaparecida. Recorre ao viajante Daniel Woodruff, ex‑agente da Scotland Yard que pode ajudá‑lo em sua missão. Transitando entre os salões da corte e as precárias moradias dos cortiços, a dupla terá de enfrentar os perigos e as injustiças de uma sociedade sustentada pelo trabalho escravo.

Baseado nos manuscritos de Daniel Woodruff (1832-1910), O Império dos Capoeiras reconstitui a saga de uma cidade dividida pela guerra secreta dos Nagoas e Guaiamuns, duas das maiores e mais temidas maltas do século XIX. Numa época em que o escritor José de Alencar era Ministro da Justiça e o Império do Brasil destinava todos os seus recursos à Guerra do Paraguai, Woodruff mal podia imaginar que, por trás da busca pessoal de Vitorino, insinuava‑se uma conspiração que mudaria os rumos da nossa História.

Análise:

Uma conspiração. Um herói injustiçado com um forte senso de justiça. Uma quadrilha que não mede forças para atingir seus sórdidos objetivos. Parece clichê de filme hollywoodiano, ou coisa que o valha, mas… Não! Quissama – O Império dos Capoeiras, trata de todos esses assuntos, mas ao invés de uma quadrilha de gângsteres, temos escravocratas e burocratas, metidos em dramas a níveis tão absurdos que parece ficção – e é! Mas nem por isso, a obra de Maicon Tenfen perde em originalidade e realismo. Mesclando ficção e realidade, Maicon Tenfen consegue criar uma trama criativa – e imaginativa! –, bem elaborada nos mínimos detalhes e sem muitas pontas soltas.

O livro é dividido em duas partes, sem contar com a atenção do autor em logo após o Epílogo (p. 291) presentear o leitor com uma parte exclusiva às notas (p. 293) que conta com exatamente 20 explicações muito úteis, por sinal. O livro é todo narrado em primeira pessoa, pelo próprio protagonista e herói do livro, Daniel Woodruff.

A história começa com Daniel Woodruff sendo confrontado por Vitorino Quissama – um moleque, para utilizar a palavra usada pelo próprio narrador – que pede a ajuda de Daniel para encontrar a sua mãe há muito desaparecida. As primeiras páginas não chegam a convencer, mas tão logo somos iniciados no mistério que Maicon Tenfen nos envolve e já nos vemos impelidos a não largar mais o livro. Ao longo do enredo muita coisa acontece e muitos outros personagens interessantes aparecem. Somos colocados no meio de 1868, no meio de crises escravocratas, joguetes políticos, guerras regionais, injustiças, traições e dissabores amorosos. O mistério criado pelo autor é digno das histórias de Arthur Conan Doyle e em pouco tempo, já estamos lado a lado de Daniel Woodruff tentando decifrar o quebra-cabeça por trás do sumiço da mãe de Vitorino Quissama e da morte de Amâncio Tavares, personagem que aparece na trama para confundir ainda mais a mente do leitor. A partir daí o livro é tomado por uma aura de suspense e ação a todo o momento, chegando a ser eletrizante em certas partes. Maicon Tenfen convence o leitor a se maravilhar com a arte da capoeira, beirando o exagero algumas vezes – alguns confrontos entre mocinhos e bandidos –, em cenas deveras cinematográficas.

No entanto, o que pesa para o realismo do livro são os fatos históricos muito bem expostos, sendo habilmente colocados na hora certa, muitas vezes na boca dos próprios personagens – de forma sutil –, como evidenciado em:

NA APARÊNCIA, TALVEZ. NA PRÁTICA, PERGUNTO: O QUE ACONTECERÁ A ESSES MOLEQUES LIVRES QUE, NO BEM DA VERDADE, CONTINUARÃO SENDO FILHOS DE ESCRAVOS? QUEM CUIDARÁ DELES? HAVERÁ TRABALHO E ESCOLA PARA TODOS? VOU AINDA MAIS LONGE: NO CASO DE UMA ALFORRIA TOTAL, QUE DESTINO SERIA RESERVADO AOS NEGROS REPENTINAMENTE EMANCIPADOS? ESTARIAM FORA DAS SENZALAS, É FATO, MAS TERIAM CASAS PARA MORAR, TERRAS PARA CULTIVAR, COMIDA PARA COMER? É LÓGICO QUE NÃO. ASSIM COMO NOSSO IMPERADOR, OS ABOLICIONISTAS ESTÃO PREOCUPADOS DEMAIS COM OS FOGOS DE ARTIFÍCIO PARA PENSAR NAS CONSEQUÊNCIAS DOS SEUS SONHOS IRRESPONSÁVEIS. NÃO PENSE QUE DOM PEDRO DESEJA ACABAR COM A ESCRAVIDÃO POR CAUSA DE SUAS ASPIRAÇÕES HUMANITÁRIAS. ESTÁ SENDO PRESSIONADO POR ENTIDADES INTERNACIONAIS. SENTE VERGONHA DE COMANDAR UM PAÍS QUE CONTINUA COM A ECONOMIA ATRELADA AO ELEMENTO SERVIL. EMBRIAGADO DE VAIDADE, O QUE QUER É SER RECONHECIDO AO REDOR DO MUNDO COMO UM GOVERNANTE JUSTO E ILUMINADO, MESMO QUE ISSO CUSTE A SAÚDE POLÍTICA E FINANCEIRA DO BRASIL. (PÁG. 173)

O mais novo livro (primeiro de uma trilogia) de Maicon Tenfen cumpre o que se propõe a fazer, que é entreter o público jovem com uma história divertida, cheia de ação e mistério, mas sem deixar de cumprir seu papel educacional, uma vez que o livro serve de fortes bases para a compreensão de nossa própria história e cultura – claro, tendo a noção de que a obra é uma ficção, pedindo atenção para aquilo que é fato e o que é ficcional. A linguagem do autor é condizente com a época, evidenciando a atenção do autor com a veracidade da sua obra.

Os personagens são carismáticos, destaque para Miguel, e para o antagonista Herr Müller. O autor também brinca com nossa própria cultura e coloca não só um, mas vários personagens históricos, como personagens do seu livro, como a princesa Isabel e o próprio Dom Pedro (mesmo que a níveis secundários) e até o escritor e político José de Alencar (esse já como um personagem de maior ação).

Acho que as ilustrações de Rubens Belli caíram como uma luva, e apesar de simples, conseguem expressar bem o que o livro quer nos passar. Quanto à edição da Biruta, o livro foi todo ornamentado como se de fato pertencesse ao tempo a que se remete a história, sendo que tiveram atenção até para as letras de título e aos adornos nas páginas! Salvo alguns erros ortográficos, o resultado final está de parabéns.

Considerações finais…

Quissama – O Império dos Capoeiras, foi um livro que me surpreendeu de modo tão positivo, que recomendo a leitura fortemente não só para jovens, mas para todos aqueles que apreciam uma boa leitura e que gostem de ação e de um bom mistério. Salvo algumas incongruências que confesso terem me chocado bastante, não tenho do que reclamar. Mesmo um livro muito revisado muitas vezes, alguns equívocos acabam por ficar, mas nem por isso a obra deixa de ser boa, pelo contrário; se torna mais humana! Não obstante, o protagonista foi um dos personagens que não me convenceu. Apesar da insistência do autor de tentar criar um modelo de herói, Daniel Woodruff me pareceu ficcional demais, “perfeito” demais para ser palpável e de certa forma, passível de empatia. O que mais me agradou, no entanto, foi o fato de Maicon Tenfen não subestimar o seu leitor em momento algum; como pude notar: até mesmo a informação mais banal, mais tarde provava ser de extrema importância para o entendimento da história.

Nota: O nome “Quissama” faz alusão a uma tribo angolana de onde saíram os primeiros escravos.

(Fonte: PESSOA, Jefferson. [Resenha] Quissama: O Império dos Capoeiras do Maicon Tenfen. Disponível em: leitorcabuloso.com.br / https://bit.ly/3CO06kA)

OUTRAS RESENHAS SOBRE ESTA OBRA

- MARTINS, Samantha. Resenha de Quissama – O Império dos Capoeiras, de Maicon Tenfen. Disponível em: meteoropole.com.br / https://bit.ly/3r6nNT3 
Observação: aqui você também fica sabendo sobre o jogo de tabuleiro baseado no livro.

Quissama: O Império dos Capoeiras Board Game. Disponível em: ovelhinhodorpg.com.br / https://bit.ly/3l5r2qh

- BITTENCOURT, Fabricio. Quissama é o começo de uma trilogia histórica em ritmo de capoeira. Disponível em: homoliteratus.com / https://bit.ly/3CMpSWv

- Entrevista com Maicon Tenfen. Disponível em: cmc.com.br / https://bit.ly/3l7NA9Q

VÍDEO-RESENHAS SOBRE ESTA OBRA

Quissama vol. 1 e 2 de Maicon Tenfen
(Fonte: canal Ler Antes de Morrer - YouTube / https://bit.ly/3COmXN4)

Quissama - O Império dos Capoeiras
(Fonte: canal tatianagfeltrin - YouTube / https://bit.ly/3xiLeto)

Memórias de um Brasil IMPERIIAL // QUISSAMA, leitura sensacional!
(Fonte: canal Palavras Radioativas - YouTube / https://bit.ly/30T5J4m)

Maicon Tenfen fala sobre pesquisa e escrita do livro Quissama - Império dos Capoeiras

(Fonte: canal Literatus TV - YouTube / https://bit.ly/3CMIHc7)

QUEM É MAICON TENFEN?
Maicon Tenfen nasceu em Ituporanga, interior de Santa Catarina, no último dia de 1975. Formou-se em Letras em 1998. Entre 2000 e 2006, concluiu os cursos de mestrado e doutorado em Teoria Literária na Universidade Federal de Santa Catarina. A partir da publicação do primeiro livro, em 1996, lançou duas dezenas de títulos entre crônicas, contos, ensaios e romances. Destacam-se Um Cadáver na Banheira (romance, 1997), O Impostor (contos, 1999), Mistérios, Mentiras e Trovões (contos, 2002), A Culpa é do Mordomo (crônicas, 2006), Breve Estudo sobre o Foco Narrativo (ensaio, 2008), A Galeria Wilson (romance, 2010) e Ler É Uma Droga: Crônicas Sobre Livros e Leitura (2012). Por mais de dez anos escreveu crônicas semanais para o Diário Catarinense. Também colaborou com o Jornal de Santa Catarina, assinando uma coluna diária entre 2007 e 2011. É professor de Literatura Brasileira na FURB (Universidade de Blumenau), ministra oficinas de redação criativa e já realizou mais de 400 palestras em escolas de ensino fundamental, médio e superior.
(Fonte: escritoresaltovale.wordpress.com / https://bit.ly/3xmcuHn)

- Para saber mais sobre o autor: Maicon Tenfen: "Quero contar uma boa história, mas não apenas uma boa história" / https://bit.ly/3DS6bhc (entrevista concedida ao site Sarau Eletrônico)

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Livro da Semana: O SOL É PARA TODOS, de Harper Lee

O SOL É PARA TODOS”, um livro escrito por Harper Lee, e que rendeu uma série de prêmios à autora, entre eles o Pulitzer¹ de Ficção em 1961. Uma obra que se mantém atual e é uma das mais populares dos últimos 50 anos, com mais de 30 milhões de cópias vendidas.

Curiosamente, após a publicação do livro, Lee se tornou reclusa, por opção, diante de tanto sucesso em seu romance de estreia. A escritora sempre foi muito próxima de Truman Capote, autor de clássicos como “Bonequinha de Luxo” e “A Sangue Frio”, e que serviu de inspiração para alguns de seus personagens, como o personagem Dill e sua mente extremamente fértil, neste livro.

O enredo que traz uma dura crítica à sociedade americana nos anos 1930, período em que se passa a história, também é válida para os dias de hoje, pois trata injustiças em um julgamento de um negro, acusado de estuprar uma jovem branca, e que vê sua condenação ser levada pelo clamor público e o preconceito enraizado na sociedade.

Quem narra a história é a garota Scout, uma menina de apenas 10 anos, mas muito inteligente e questionadora. Ela é filha de Atticus Finch, o advogado que defende o réu e sofre com o preconceito da população da pequena cidade de Maycomb, por buscar provar a inocência de um negro, diante de provas claras, mas que são desconsideradas principalmente pela cor da pele do acusado. A menina acompanha de perto todos os desdobramentos desse caso que vai impactar diretamente na vida de sua família, mas sem deixar abalar ou perder os princípios que seu pai sempre ensinou aos filhos.

“O rouxinol não faz nada além de cantar para o nosso deleite. Não destrói jardins, não faz ninho nos milharais, ele só canta. Por isso é um pecado matar um rouxinol”. Um ponto forte do livro é a metáfora do rouxinol, que ao final chega para amarrar a história e tocar o leitor de forma profunda nesse romance que nos questiona e nos faz refletir sobre a sociedade atual e suas diversas injustiças, diante da inocência das crianças que muitas vezes incorporam o preconceito de seus pais e mantém ainda de forma presente, esse grande mal da humanidade.

Aliás, Atticus tenta criar seus filhos sempre de forma diferente, com princípios morais e de maneira descomplicada, o que em certo momento da história incomoda a pequena garota, que vê seu pai muito diferente dos demais, mas que ao longo do tempo vai aprendendo e percebendo o grande valor desse homem, que planta a semente da bondade e igualdade na alma de todos que o rodeiam.

A história conta com a pureza de uma criança, sem preconceitos, que acredita que o Sol realmente deve ser para todos, e se vê indignada quando percebe que somente alguns têm o direito à essa luz, julgados por conta de sua raça ou posição social.

Um livro maravilhoso e muito recomendado, que deve ser compartilhado, pois ninguém sairá o mesmo após refletir com uma história como essa.

1. O Prêmio Pulitzer é um prêmio estadunidense outorgado a pessoas que realizem trabalhos de excelência na área do jornalismo, literatura e composição musical. É administrado pela Universidade de Colúmbia, em Nova Iorque. A primeira cerimônia aconteceu em 1917 .

(Fonte: PRADO, Joel. Dica de Livro: O Sol é para todos – Harper Lee (Resenha). Disponível em: sitedosgeeks.com / https://bit.ly/3klkW4K)

MAIS RESENHAS SOBRE ESTA OBRA
- SILVA, Malu. Resenha: O Sol É Para Todos (Harper Lee). Disponível em: janelaliteraria.com.br / https://bit.ly/2Yvwlal

- Meyre-Ellen. O Sol É Para Todos - Harper Lee. Disponível em: literalmenteuai.com.br / https://bit.ly/3CHTpR0

- BEAUREPAIRE, Luiz Guilherme de. O sol é para todos. Disponível em: bonslivrosparaler.com.br / https://bit.ly/3cDTzP4


VÍDEO-RESENHAS SOBRE ESTA OBRA
O Sol É Para Todos, de Harper Lee
(Fonte: canal Ler Antes de Morrer - YouTube / https://bit.ly/3HIDt52)

O SOL É PARA TODOS, DE HARPER LEE
(Fonte: canal Rodrigo Villela - Leia Para Viver - YouTube / https://bit.ly/30JBOvq)

O SOL É PARA TODOS, DE HARPER LEE
(Fonte: canal tatianagfeltrin - YouTube / https://bit.ly/3cz0Rn2)

O SOL É PARA TODOS, DE HARPER LEE
(Fonte: canal Ju Cirqueira - YouTube / https://bit.ly/3nAPuBj)

O SOL É PARA TODOS, DE HARPER LEE
(Fonte: canal Lucas Bitencourt - YouTube / https://bit.ly/2Z9f2vU)


Assista à adaptação para o cinema sobre esta obra. O filme foi estrelado por Gregory Peck, em 1962, e ganhou 9 prêmios até hoje, entre eles dois OSCARS em 1963, nas categorias de "melhor roteiro adaptado" e "melhor ator". DUBLADO EM PORTUGUÊS.
(Fonte: canal Dubly Tube - YouTube / https://rb.gy/kdkpcs)

QUEM FOI HARPER LEE?

(Foto: Diário de Notícias, Portugal)
Harper Lee (1926-2016) foi uma escritora norte-americana, autora do livro “O Sol É Para Todos”, Prêmio Pulitzer de Ficção em 1961.
Nelle Harper Lee nasceu em Monroeville, Estado do Alabama, Estados Unidos, no dia 28 de abril de 1926, onde passou a infância e a adolescência.
Harper Lee chegou a cursar Direito para agradar a família, mas em 1949, com 23 anos, mudou-se para Nova Iorque, onde trabalhou em uma companhia aérea, época em que já escrevia os seus textos.
 
O Sol É Para Todos
Em 1957, Lee apresentou o manuscrito de um romance sobre o racismo no sul dos Estados Unidos para a editora americana J.B. Lippincott & Co., mas foi aconselhada a refazer aquela história.
Lee trabalhou por dois anos na mudança e em 1960 foi lançado “O Sol é Para Todos” que logo conquistou um sucesso comercial e de crítica. Vendeu mais de 40 milhões de cópias.
A obra é narrada por uma menina de 6 anos, “Scout”, filha de “Atticus Finch”, um advogado de 52 anos que desafia o racismo visceral de sua cidadezinha no Alabama na década de 30 ao defender um negro falsamente acusado de estuprar uma menina branca.
Atticus é um homem irretocável: íntegro, corajoso, sábio e tolerante e foi adorado desde o primeiro momento. O livro recebeu o Prêmio Pulitzer de Ficção em 1961.
 
Filme
Em 1962, o livro foi adaptado para o cinema. O filme “O Sol é Para Todos” também foi um sucesso, com Gregory Peck no papel do advogado engajado Atticus Finch.
Harper Lee
Cena do filme "O Sol É Para Todos"
Nomeado a oito estatuetas do Oscar, levou três: Melhor Ator para Gregory Peck, Melhor Roteiro e Melhor Direção de Arte. Foi também adaptado para o teatro em várias cidades e em Londres ganhou uma versão na Broadway.
 
(Foto: portaldaliteratura.com)
Vida reclusa
Ao longo da vida, a escritora deu poucas entrevistas e apareceu publicamente em raras ocasiões. Optou pela vida simples em sua cidade natal.
Quando perguntada sobre a razão de não escrever mais, Lee dizia: “Eu não encararia a pressão e o desgaste da divulgação que tive de aguentar com O Sol é Para Todos. Além disso, o que eu tinha para falar eu já disse e não direi de novo”.
Avessa à fama e ao assédio da imprensa, a escritora vivia longe dos holofotes em seu apartamento em Nova Iorque até sofrer um derrama cerebral em 2007, desde então, passou a viver em uma casa de idosos perto de sua cidade natal, Monroeville, no Alabama.
Em 2007, Harper Lee recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade e em 2010 recebeu a Medalha Nacional de Artes.
[...]
(Fonte: ebiografia.com.br / https://bit.ly/3HNlQ46)

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Livro da Semana: TORTO ARADO, de Itamar Vieira Junior

Talvez você já tenha ouvido falar de Torto Arado na internet nos últimos meses. O livro é uma sensação da literatura nacional e está fazendo muito sucesso a ponto de alguns dizerem que esse livro já nasceu clássico. Existe a #tortoarado, em que muitos leitores demonstram nas redes sociais seus sentimentos ao ler o livro. Ele também está há semanas nas listas dos mais vendidos do Brasil.

Torto Arado é um livro simples (no melhor sentido da palavra) e a genialidade dele é justamente essa, eu com certeza sou do time que acha que ele já é um clássico e, se você quiser saber um pouquinho mais do hype, vem comigo nessa resenha.

A sinopse do livro é: duas irmãs Bibiana e Belonísia vivem em uma fazenda na Chapada Diamantina na Bahia onde nasceram e vivem com sua família. Um acidente acontece envolvendo uma faca da avó delas quando elas ainda são crianças fazendo com que as duas fiquem muito ligadas ao longo da vida. No desenvolvimento da história várias camadas de um Brasil muito recorrente, mas também muito esquecido são apresentadas com maestria pelo Itamar.

Bibiana e Belonísia fazem parte de uma família que assim como outras tantas trabalham na fazenda Água Negra como agricultores produzindo vários tipos de alimentos. Os donos da fazenda são grandes proprietários de terras que lucram com a produção e que sequer moram lá, apenas aproveitam os lucros que a produção dos alimentos gera.

As famílias trabalham na terra dos patrões e em um pequeno pedaço de terra podem morar e produzir seu próprio alimento. Todos os trabalhadores são descendentes de pessoas escravizadas que chegaram naquela região há muito tempo. Assim como na fazenda Água Negra a região é cheia de fazendas em que os trabalhadores têm condições de trabalho e sobrevivência muito parecidas com as que a família das nossas protagonistas tem.

Nos elementos que contam a história vemos a descrição da rotina super puxada de trabalho na terra e as tradições da religião que eles seguem, o Jarê, uma religião de matriz africana que tem elementos do catolicismo, do espiritismo Kardecista e de outros sincretismos. Também vemos como a sabedoria popular daqueles habitantes das fazendas é rica e cheia de camadas.

A ambientação da história é feita de forma magistral narrando elementos da paisagem local, da fauna e da flora, dos costumes e das crenças. O Jarê, por exemplo, é uma religião que só ocorre na região da Chapada Diamantina e por isso são tão fascinantes as passagens em que eles nos explicam como a religião é presente na vida daquelas pessoas. Além do Jarê a gente ainda vai conhecendo vários nomes de plantas e animais da região.

Acho que boa parte do que dá para falar sem spoiler é isso, mas ainda vou dizer algumas coisas que me encantaram nesse livro. A história tem um forte viés político pois viver é um ato político, mas se engana quem acha que a história não tem elementos de ficção que são de deixar o leitor doido de curiosidade em saber o que vai acontecer. Tem e tem muito.

[...]

(Fonte: SIMIÃO, Izabella. Resenha Torto Arado de Itamar Vieira Junior. Disponível em: deviante.com.br / https://bit.ly/3k6QriH)

Outras resenhas sobre esta obra:

- CAGIANO, Ronaldo. Livro "Torto Arado" revela o drama do interior do país". Disponível em: correiobraziliense.com.br /  https://bit.ly/2ZUxGb9

- TAVARES, Sérgio. Crítica: "Torto Arado" de Itamar Vieira Junior. Disponível em: saopauloreview.com.br / https://bit.ly/3wimfGi 

- LUDMER, Juliana. "Uma viagem à água negra: resenha de Torto Arado, de Itamar Vieira Junior. Disponível em horizontesaosul.com / https://bit.ly/3mLqXsX

Vídeo-resenhas sobre esta obra:

Itamar Vieira no Roda Viva - TV Cultura

(Fonte: canal Roda Viva - YouTube / https://bit.ly/3CLg2F8)

Torto Arado é um acontecimento. Resenha sem spoilers.
(Fonte: canal Ler Antes de Morrer - YouTube / https://bit.ly/3kcisW5)

Torto Arado - discussão final

(Fonte: canal Ler Antes de Morrer - YouTube / https://bit.ly/3GUKxe9)
Leandro Karnal entrevista Itamar Vieira Junior

(Fonte: canal Prazer, Karnal - YouTube / https://bit.ly/304tWEj)
S04E36: Torto arado, de Itamar Vieira Junior
                (Fonte: canal Livrada! - YouTube / https://bit.ly/3GWVlbZ)

Litera Tamy entrevista Itamar Vieira Junior
(Fonte: canal Litera Tamy - YouTube / https://bit.ly/3mLs0cq)

O Brasil de Torto Arado no programa Entrelinhas
(Fonte: canal Silvio Almeida - YouTube / https://bit.ly/3034HC7)

Entrevistas escritas com o autor

- GRILO, Fernanda. Sabia que Itamar Vieira Junior, o escritor mais badalado da atualidade, tem mania de limpeza e queria ser jardineiro? Ao papo! Disponível em: glamura.uol.com.br / https://bit.ly/3wocq9F

- CANDIDO, Marcos. O LAVRADOR - Itamar Vieira Jr. trabalha pela reforma agrária, enquanto colhe louros de ser maior escritor brasileiro hoje. Disponível em: uol.com.br / https://bit.ly/3bN0jd0

QUEM É ITAMAR VIEIRA JUNIOR?

(Foto: Adenor Gondim)
Nasceu em Salvador, em 1979. Na adolescência, residiu no estado de Pernambuco, e mais tarde na cidade de São Luís. Começou os estudos de geografia na graduação na Universidade Federal da Bahia (UFBA), sendo o primeiro aluno receptor da Bolsa Milton Santos, dedicada para jovens negros de baixa renda. Formou-se em geografia e concluiu mestrado. É doutor em estudos étnicos e africanos pela Universidade Federal da Bahia com estudo sobre a formação de comunidades quilombolas no interior do Nordeste.

(Foto: commons.wikimedia.org)
Em 2012, publicou o livro de contos Dias. Em 2017, publicou o livro de contos A oração do carrasco, finalista na mesma categoria do 60.º Prêmio Jabuti (2018).[3] Em 17 de outubro de 2018, o Prémio LeYa foi atribuído ao romance “Torto Arado”, de sua autoria. O júri, presidido pelo poeta Manuel Alegre, justificou a concessão por unanimidade do prêmio “pela solidez da construção, o equilíbrio da narrativa e a forma como aborda o universo rural do Brasil, colocando ênfase nas figuras femininas, na sua liberdade e na violência exercida sobre o corpo num contexto dominado pela sociedade patriarcal. Sendo um romance que parte de uma realidade concreta, em que situações de opressão quer social quer do homem em relação à mulher, a narrativa encontra um plano alegórico, sem entrar num estilo barroco, que ganha contornos universais. Destaca-se a qualidade literária de uma escrita em que se reconhece plenamente o escritor.”

A poeta angolana Ana Paula Tavares, membro do júri, realçou “a capacidade do autor de manter o nível da narrativa” do livro vencedor, exaltando a sua “elegância poética que se mantém do princípio ao fim”. E complementa: “As personagens fortes são as femininas, e ele consegue manter essa firmeza, esse recorte, essa violência, a violência exercida sobre as mulheres e das mulheres, entre elas. Está muito bem visto e escrito”, afirmou.

Itamar também é servidor público do INCRA, órgão estatal responsável pela condução da reforma agrária no Brasil. Como tal, já recebeu ameaças de mortes e outras violências por sua atuação para uma divisão mais equânime da terra e sua proximidade com povos quilombolas.

(Fonte: wikiwand.com / https://bit.ly/2ZVpKqw)

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