quinta-feira, 24 de agosto de 2023

Livro da Semana: PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM, de Clarice Lispector

Nascida no Império Russo, em uma família de judeus-russos que vivia em uma região que hoje pertence à Ucrânia, Clarice Lispector, filha mais nova de três irmãs, emigrou com a família para o Brasil aos 2 anos de idade, em 1922. Perto do Coração Selvagem, publicado em 1943, logo após a escritora se casar e terminar seu curso de Direito, 
foi seu primeiro romance, o qual ganhou o Prêmio Graça Aranha como melhor romance do ano. Clarice agregou muita cultura e conhecimento a seu talento como escritora, pois teve oportunidade de viver em vários países do mundo (Itália, Suiça, Inglaterra, EUA) acompanhando seu marido, que era cônsul. Pôs-se a escrever, talvez para tirar da alma aquilo que povoava seus sonhos, seus mais profundos desejos e questionamentos, aquilo que não se pode explicar com simples frases ou mera racionalidade, aquilo que, mesmo oculto, anseia por ser expresso de alguma maneira e ganhar vida. Muitos estudos acadêmicos comparam Clarice a escritores como Fiódor Dostoiévski, Franz Kafka, James Joyce, Wirginia Wolf, Herman Hesse, Guimarães Rosa, Julio Cortázar, Gabriel Garcia Márquez, Machado de Assis, Honoré de Balzac, Augusto dos Anjos, Jean Genet, Simone de Beauvoir entre tantos outros que seguem a mesma linha de investigação e exposição da alma humana em sua essência e profundidade, em sua sombra e luz e, também, em sua sensatez e seu delírio, em sua leveza e densidade, em sua feiura e beleza. Como sempre, as obras de Clarice impõem certa dificuldade aos críticos e estudiosos da literatura em classificá-las. Este romance, por exemplo, pode ser classificado como romance de formação, romance psicológico, romance de aproximação com o narrador, e muitas outras classificações. Na verdade, Clarice Lispector nunca gostou dessas classificações e pouco se importava com isso. O que realmente importava era dar voz aos pensamentos, alegrias e angústias, aos sonhos e pesadêlos, na viagem do auto-conhecimento, que nunca termina. 
(Texto: André Luiz Gattás)

Abaixo, trechos de uma ótima resenha sobre esta obra

"Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome.” (pág. 60)
“E ela, solitária como o tique-taque de um relógio numa casa vazia. […] Sozinha no mundo, esmagada pelo excesso de vida, sentindo a música vibrar alta demais para um corpo.” (pág. 116)
"Clarice Lispector no seu romance de estreia “Perto do Coração Selvagem” alcança o que mais nenhum autor de sua época almejou: a descoberta das particularidades do sentir e do ser. Ao revelar-nos o pulsar das necessidades aprisionadas e desnudar os pensamentos e os desejos de um coração selvagem, pela voz da personagem Joana, mostra a força do seu romance psicológico, explorando os cantos mais obscuros do coração e da mente humana."
[...]
(Fonte: gotasdeepifania.wordpress.com / https://snip.ly/abnbwo)

Outras Resenhas Sobre "PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM"

- HOLANDA, Gabriela. Perto do Coração Selvagem: Clarice, Joana e a sede de liberdade. Disponível em: Delirium Nerd (25/06/2020) / https://snip.ly/41i3ku

- NASCIMENTO, Adriana R. do. Perto do Coração Selvagem - Clarice Lispector. Disponível em: Leitor Cabuloso (17/06/2019) / https://snip.ly/iojdlp 

- BENGOZI, Bruna. Cem anos de Clarice Lispector: estamos perto do coração selvagem da vida? Disponível em: Livro&Café / https://snip.ly/krotjg

- ZASSO, Bianca. Perto do Coração Selvagem - Somos Todas Joanas! Disponível em: Formiga Elétrica (30/07/2019) / https://snip.ly/9spt6e

Vídeo-Resenhas Sobre "PERTO DO CORAÇÃO SELVAGEM"

Perto do Coração Selvagem - Clarice Lispector
(Fonte: canal Julia Leal - YouTube / https://snip.ly/zyb28o

O primeiro romance de Clarice Lispector
(Fonte: canal Página 99 - YouTube / https://snip.ly/2l4btb)

Perto do Coração Selvagem - Clarice Lispector
(Fonte: canal Junior Costa - YouTube / https://snip.ly/xd8pmm)

Perto do Coração Selvagem - Clarice Lispector
(Fonte: canal Diego Cardoso - Di Cultura / YouTube / https://snip.ly/katoeu)

Perto do Coração Selvagem - Clarice Lispector
(Fonte: canal Ana Lis Soares - YouTube /https://snip.ly/yax2ow)

Perto do Coração Selvagem - Clarice Lispector
(Fonte: canal Lidos e Curtidos - YouTube /https://snip.ly/boqimo)

QUEM FOI CLARICE LISPECTOR?

[...]

Infância e Adolescência
Clarice Lispector nasceu na aldeia de Tchetchelnik, na Ucrânia, no dia 10 de dezembro de 1920. Era filha de Pinkouss e Mania Lispector, casal de origem judaica que fugiu de seu país diante da perseguição aos judeus durante a Guerra Civil Russa.
Ao chegarem ao Brasil, fixaram residência em Maceió, Alagoas, onde morava Zaina, irmã de sua mãe. Clarice tinha apenas dois meses de idade. Por iniciativa de seu pai, todos mudaram o nome. Nascida Haya Pinkhasovna Lispector, passou a se chamar Clarice.
Depois, a família mudou-se para a cidade do Recife, onde Clarice passou sua infância no Bairro da Boa Vista.
Aprendeu a ler e escrever muito nova e logo começou a escrever pequenos contos.
Foi aluna do grupo escolar João Barbalho, onde fez o curso primário. Estudou inglês e francês e cresceu ouvindo o idioma dos seus pais, o iídiche. Ingressou no Ginásio Pernambucano, o melhor colégio público da cidade.
Com 12 anos, Clarice mudou-se com a família para o Rio de Janeiro indo morar no Bairro da Tijuca. Ingressou no Colégio Sílvio Leite onde terminou o ginasial. Era frequentadora assídua da biblioteca.
Em 1941, Clarice ingressou na Faculdade Nacional de Direito e empregou-se como redatora da "Agência Nacional". Depois, passou para o jornal "A Noite". Em 1943 casou-se com o amigo de turma, Maury Gurgel Valente. Em 1944 formou-se em direito.

Primeiro livro
Em 1944, Clarice publicou seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem, que retrata uma visão interiorizada do mundo da adolescência, que abriu uma nova tendência na literatura brasileira.
O romance provocou verdadeiro espanto na crítica e no público da época. Sua narrativa quebra a sequência de começo, meio e fim, assim como a ordem cronológica, e funde a prosa à poesia.
A obra Perto do Coração Selvagem teve calorosa acolhida da crítica e, no mesmo ano, recebeu o Prêmio Graça Aranha.

Viagens e novas publicaçõe

Clarice Lispetcor e seu marido,
o diplomata Maury Gurgel Valente, em Berna, Suíça, 1946
(Foto: acervo Clarice Lispector / Instituto Moreira Salles)
Ainda em 1944, Clarice Lispector acompanhou seu marido – diplomata de carreira, em viagens fora do Brasil. Sua primeira viagem foi para Nápoles, na Itália. Com a Europa em guerra, Clarice ingressou, como voluntária, na equipe de assistentes de enfermagem do hospital da Força Expedicionária Brasileira.
Em 1946, morando em Berna, Suíça, publicou O Lustre. Em 1949 publicou A Cidade Sitiada. Nesse mesmo ano, nasceu seu primeiro filho, Pedro. Dedicou-se a escrever contos e em 1952 lançou Alguns Contos.
Depois de seis meses na Inglaterra, em 1954, o casal foi para Washington, Estados Unidos, onde nasceu seu segundo filho, Paulo. Nesse mesmo ano, seu livro Perto do Coração é publicado em francês.

Jornalismo e Literatura Infantil
Em 1959, Clarice se separou do marido e retornou ao Rio de Janeiro, acompanhada de seus dois filhos. Logo começou a trabalhar no "Jornal Correio da Manhã", assumindo a coluna "Correio Feminino".
Em 1960 trabalhou no "Diário da Noite" com a coluna "Só Para Mulheres" e nesse mesmo ano lançou Laços de Família, um livro de contos que recebeu o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro.
Em 1967 publicou O Mistério do Coelhinho Pensante, seu primeiro livro infantil, que recebeu o Prêmio Calunga, da Campanha Nacional da Criança.
Nesse mesmo ano, ao dormir com um cigarro aceso, Clarice Lispector sofreu várias queimaduras no corpo e na mão direita. Passou por várias cirurgias e viveu isolada, sempre escrevendo. No ano seguinte publicou crônicas no Jornal do Brasil.
Clarice passou a integrar o Conselho Consultivo do Instituto Nacional do Livro. Era considerada uma “pessoa difícil”. Em 1976, pelo conjunto de sua obra, Clarice ganhou o primeiro prêmio do X Concurso Literário Nacional de Brasília.

Última Publicação em Vida
A versão cinematográfica desse romance, dirigida por Suzana Amaral em 1985, conquistou os maiores prêmios do festival de cinema de Brasília e deu à atriz Marcélia Cartaxo, que fez o papel principal, o troféu Urso de Prata em Berlim em 1986.
Em 1977, Clarice Lispector escreveu Hora da Estrela, sua última obra publicada em vida, no qual conta a história de Macabéa, uma moça do interior em busca de sobreviver na cidade grande.

Características da obra de Clarice Lispector
Clarice Lispector fez parte da “Terceira Geração Modernista” ou “Geração de 45” - época de renovação das formas de expressão literária na prosa e, principalmente, nos gêneros conto e romance.
Em busca de uma linguagem especial para expressar paixões e estado da alma, a escritora utilizou recursos técnicos modernos como a análise psicológica e o monólogo interior.
Clarice Lispector é considerada uma escritora intimista e psicológica, mas sua produção acaba por se envolver também em outros universos, sua obra é também social, filosófica e existencial.
As histórias de Clarice raramente têm um começo meio e fim. Sua ficção transcende o tempo e o espaço, e os personagens, postos em situações limite, são com frequência femininas, quase sempre situadas em centros urbanos.
Clarice Lispector nunca aceitou o rótulo de escritora feminista. Apesar disso, muitas de suas obras, romances e contos têm como protagonistas personagens femininas, entre elas: Joana, de Perto do Coração Selvagem, Virgínia, de O Lustre, Lucrécia Neves, de A Cidade Sitiada e Macabéa, de A Hora da Estrela. 

As cartas de Clarice
Clarice Lispector viveu quase duas décadas fora do Brasil e escreveu muitas cartas aos amigos, e com olhar cosmopolita, fala nas correspondências sobre os absurdos do cotidiano, as agruras da condição humana e as banalidades da vida. Suas cartas foram reunidas na obra Todas as Cartas publicada em 2020.
A amizade que manteve com o escritor Fernando Sabino também foi registrada no livro “Cartas Perto do Coração” (2001), que revela uma profunda ligação entre os dois. As cartas dela foram enviadas de Berna e de Washington, onde morou. Nelas, Clarice revela uma série de frustrações por estar longe de casa.
Clarice Lispector faleceu no Rio de Janeiro, no dia 9 de dezembro de 1977, vítima de um câncer de ovário, um dia antes de seu aniversário. Seu corpo foi sepultado no cemitério Israelita do Caju.
[...]

(Fonte: FRAZÃO, Dilva. Clarice Lispector - Escritora e Jornalista Brasileira. Disponível em: ebiografia.com / https://snip.ly/xf8xaf)

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