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VOCÊ JÁ FEZ UM TESTE VOCACIONAL? O teste vocacional é uma ferramenta que pode nos ajudar a fazer uma escolha melhor sobre qual graduação universitária seguir com base na análise de seus resultados. Existem vários tipos de testes vocacionais, disponíveis online, gratuitos e pagos. Muitos psicólogos e orientadores educacionais se utilizam dessa ferramenta para que seus pacientes/alunos/clientes possam fazer escolhas acadêmicas e profissionais mais adequadas de acordo com suas características pessoais. Alguns testes mesclam 8 áreas de conhecimento em suas questões, sendo elas:
Linguística: aborda
a habilidade de comunicação oral, escrita e gestual;
Lógico-Matemática: destaca
se a pessoa tem facilidade para solucionar problemas matemáticos e
raciocínio lógico;
Espacial: verifica
se a pessoa é detalhista e tem uma boa interpretação visual de situações e
objetos ao redor;
Musical: interpreta
se a pessoa tem interesse e habilidades musicais;
Corporal-Cinestésica: se
a pessoa tem habilidade motora para expressar ideias e sentimentos;
Intrapessoal: se
a pessoa avaliada tem ou busca o autoconhecimento;
Interpessoal:
avalia a capacidade de interação com outras pessoas e se as habilidades interpessoais, como a empatia;
Naturalista: verifica
se a pessoa gosta de temas que envolve ciências naturais tais como
geografia e animais.
O ideal é que esse teste seja interpretado com a ajuda de um profissional, psicólogo ou orientador educacional, para que ele lhe ajude a desenvolver seu autoconhecimento e também a escolher a melhor opção de carreira acadêmica e profissional de acordo com suas habilidades e necessidades.
QUAL É A DIFERENÇA ENTRE UM TESTE VOCACIONAL E UMA PROVA?
Em um teste vocacional não existem respostas certas ou erradas, mas as mais adequadas à sua personalidade, ao seu momento de vida e, por isso, é muito importante que ele seja realizado com o máximo de sinceridade. Esse tipo de teste, portanto, pode mudar sua visão sobre quais carreiras profissionais podem ser as mais adequadas à você.
Nos links abaixo você pode realizar um teste vocacional:
“Campo Geral” é um caminho sem
volta para o leitor de Guimarães Rosa
O professor da USP Luiz
Roncari recomenda ao vestibulando ler a obra sem pressa e com a imaginação
aberta
“Um certo Miguilim morava com
sua mãe, seu pai e seus irmãos, longe, longe daqui, muito depois da
Vereda-do-Frango-d'Água e de outras veredas sem nome ou pouco conhecidas, em
ponto remoto, no Mutúm. No meio dos Campos Gerais, mas num covoão em trecho de matas,
terra preta, pé de serra. Miguilim tinha oito anos.”
Campo Geral começa assim, no
aconchego familiar. Guimarães Rosa vai guiando o leitor pelo cenário encantado
das matas. Se o leitor se deixar levar pelas descobertas de Miguilim, vai
perceber que a leitura é uma oportunidade de conhecer o melhor da literatura
brasileira. O livro integra a lista de leituras exigidas para o vestibular da
Fuvest (Fundação Universitária para o Vestibular), que seleciona os candidatos
a ingressar nos cursos da USP.
Prof. Luiz Roncari (FFLCH/USP) - Foto: Reprodução
“O que mais recomendo para o
leitor de Guimarães Rosa é atenção, como todos os livros dele. Essa novela deve
ser lida com todo cuidado, sem pressa e, junto ao entendimento, com a
imaginação aberta”, orienta o professor Luiz Dagobert de Aguirra Roncari, da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. “Por isso ela
parece mágica. É que muitos sentidos outros, inesperados, se revelam com
aqueles dados à primeira vista, como se abríssemos uma caixa de bolachas e ela
nos trouxesse bombons e outras surpresas que satisfazem muito a nossa
inteligência. É esse o milagre.”
O professor explica que, em
Guimarães Rosa, cada palavra é pensada e tem a sua devida importância. “O autor
usa as palavras e as explora em todas as suas possíveis conotações, étimos
perdidos e outros possíveis ainda não explorados. Ele é um escritor culto e
recusa a escrita fácil, aquela que pretende só passar um recado; para ele a
escrita tem também que ser saboreada, como uma fruta. É um momento de gosto,
reflexão e descobertas.”
Se o vestibulando sentir
dificuldade na leitura do texto, o professor observa que é preciso deixar a
escrita aparentemente obscura se revelar no seu tempo e com os caprichos que o
autor lhe embutiu. “Quando a sua escrita parece obscura, se temos o cuidado de
deixar que se nos revele no seu tempo e com todos os caprichos que o autor lhe
embutiu, ela se torna uma coisa viva, que pode nos dar muita alegria
intelectual e satisfação.”
A leitura de 'Campo Geral' nos
permite apreciar nos seus liames mais cerrados os afetos e as agonias da
família média brasileira, que procura imitar o modelo, com seus preconceitos e
vícios, da nossa família patriarcal.”"
Importante lembrar que Campo
Geral, segundo análise de Roncari, é a primeira das novelas incluídas em Corpo
de Baile, um dos livros mais importantes de Guimarães Rosa e da literatura
brasileira, daí justificar a sua leitura para o vestibular da Fuvest. “Na
primeira edição, de 1956, em dois volumes, o autor as chamava ainda de poemas,
e depois passou a considerá-las todas as novelas. Cada uma delas, ao mesmo
tempo em que tem a sua autonomia, pode ser lida separadamente e não depende das
demais para o seu entendimento, compõe com as outras um todo com certa
organicidade. Enquanto tal é que esse livro precisa ainda ser mais estudado, no
seu todo. Existem muitos trabalhos sobre cada uma das estórias, mas ainda ficam
muitas dúvidas sobre as suas articulações, do que temos só algumas pistas.”
Máquina de datilografar de Guimarães Rosa/Foto: Atillio Avancini
Para integrar o estudante na
literatura de Guimarães, o professor faz uma breve síntese de outras estórias.
“É possível ver no livro um movimento que reproduz o ciclo de um dia, da manhã
à noite. Campo Geral faria parte das estórias matinais, que teriam seu ápice
com outras mais solares, como A Estória de Lélio e Lina, que seria o pico do
meio-dia, e fecharia com a noturna, Buriti, a novela das noites eróticas entre
Lalinha e Iô Liodoro, passando pelas crepusculares Lão-dalalão (Dão-lalalão) e
Cara-de-Bronze. Os fios tênues que amarram o conjunto delas são algumas
personagens de Campo Geral que voltam a aparecer em outras, como a principal
delas, o menino Miguilim, que ressurge na última, Buriti, agora já adulto, como
Miguel, para dar-lhe um final radioso, simbolizando o ressurgimento de uma
família que havia se desagregado e traz a promessa de ressurreição.”
Na avaliação de Roncari, “a
leitura de Campo Geral permite apreciar nos seus liames mais cerrados os afetos
e as agonias da família média brasileira, que procura imitar o modelo, com seus
preconceitos e vícios, da nossa família patriarcal”.
“O autor, falando de uma
família particular, a de Miguilim, no ninho de afetos e rancores do Mutum,
capta as ameaças e riscos que, de certa forma, ela vive na sua generalidade”,
observa o professor.
"O narrador acompanha muito de perto o menino
Miguilim, as suas dores, alegrias e descobertas do mundo.”
Campo Geral revela para o
leitor muitas emoções sensíveis e intelectuais. “O narrador acompanha muito de
perto o menino Miguilim, as suas dores, alegrias e descobertas do mundo. Por
isso ela é também uma novela de formação, de um menino vivendo, sofrendo e
descobrindo o mundo e os homens, mas também reagindo a eles”, esclarece
Roncari.
Apesar da inocência, da
ingenuidade, Miguilim não é passivo. “Por isso, o final da novela tem um
sentido alegórico: quando o médico percebe que ele é míope e lhe empresta os
seus óculos e o herói descobre um outro mundo, mais claro e definido do que
tinha percebido até o momento, o vê agora nas suas verdades ou pelo menos que
ele era muito diferente do que tinha visto. Significa que ele mudou, cresceu ou
houve para ele um ganho na percepção do mundo. Esse esclarecimento da visão tem
também o significado de que ele aprendeu, não apenas sofreu o mundo, mas deu um
passo além no seu conhecimento do que viveu.”
Difícil resumir Campo Geral
para uma rápida leitura. O leitor, como bem diz Roncari, terá que ser
atencioso. “De uma literatura como a de Guimarães, por tudo o que já disse, é
muito difícil de fazer uma síntese. Seria quase a sua negação, já que a sua verdade
maior está mais, como ele próprio diz, na sua travessia, quer dizer, na
passagem de cada uma das suas palavras, frases e acontecimentos, do que na
chegada ao final. Este é quase nada sem passar por elas, o como é tão ou mais
importante do que disse. Isso já é um lugar comum sobre a escrita do autor.”
Difícil resumir Campo Geral
para uma rápida leitura. O leitor, como bem diz Roncari, terá que ser
atencioso. “De uma literatura como a de Guimarães, por tudo o que já disse, é
muito difícil de fazer uma síntese. Seria quase a sua negação, já que a sua verdade
maior está mais, como ele próprio diz, na sua travessia, quer dizer, na
passagem de cada uma das suas palavras, frases e acontecimentos, do que na
chegada ao final. Este é quase nada sem passar por elas, o como é tão ou mais
importante do que disse. Isso já é um lugar comum sobre a escrita do autor.”
“O sítio era um ninho de
afetos e recalques familiares vivendo as suas ameaças: externas, simbolizadas
pela selvageria dos macacos e antas; e internas, simbolizadas pelos porcos do
Patori.”
Certo é que o leitor vai se
deixar envolver pela imaginação infantil. “A estória é sobre uma família
camponesa média, de pequenos arrendatários de terras, endividados, sendo eles
próprios que trabalhavam com alguns ajudantes, no Mutum. Ele ficava na fronteira
entre o conhecido e o desconhecido, tanto que os lugares próximos ainda não
eram nem nominados”, conta o professor. “O sítio era um ninho de afetos e
recalques familiares vivendo as suas ameaças: externas, simbolizadas pela
selvageria dos macacos e antas; e internas, simbolizadas pelos porcos do
Patori. Elas eram as possibilidades de traição, como as da mãe com o tio Terêz
e o Luisaltino, e do incesto, como a inclinação de Miguilim, que dizia a si
mesmo que ‘era ele quem ia se casar com a Drelina’, uma de suas irmãs. Era
contra essas ameaças que a Vovó Izidra, na verdade uma tia-avó da mãe, uma
espécie de portadora da ordem familiar patriarcal, como Hera, irmã de Zeus,
praguejava e lutava. Ela temia que a mãe, Nhanina, seguisse os impulsos
desorganizadores da sua mãe, Vó Benvinda, que tinha sido, como dizia um
vaqueiro, ‘quando moça mulher-à-toa’. O curso da novela são os episódios
vividos por Miguilim, das suas perdas, como a expulsão do lugar de tio Terêz, a
da cachorrinha Pingo-de-ouro, a morte do irmão mais próximo, Dito, que ele
ouvia muito, lhe ensinava coisas sábias sobre a vida e de quem ele gostava
tanto, o assassinato de Luisaltino pelo pai e o seu suicídio.”
A novela de João Guimarães Rosa é ilustrada com desenhos de grande apelo visual de Djanira, desenhista acolhida pela comunidade artística brasileira entre as décadas de 1950 e 1980 – Foto: Ilustrações do livro Campo Geral feitas pela artista Djanira
A novela de João Guimarães
Rosa é ilustrada com desenhos de grande apelo visual de Djanira, desenhista
acolhida pela comunidade artística brasileira entre as décadas de 1950 e 1980
Segundo o professor, “tudo se
passa a partir do ângulo de visão de Miguilim, que o narrador acompanha de
muito perto, como pelas costas, mas todos têm também um significado extra,
mítico-simbólico – tio Terêz, vó Izidra, Mãetina, Nhanina, Dito, o Patori, seo
Aristeu –, acrescido pelo autor, que faz o narrador combiná-lo com as
percepções agudas dos sentimentos do menino. Por isso, cada personagem tem um
composto empírico, dado pela sua experiência com o herói, Miguilim, e um
elemento simbólico, que só o autor com sua intervenção poderia acrescentar à
exposição do narrador, aquele sujeito invisível que nos conta a estória”.
O professor afirma que “é
importante o leitor saber distinguir o que é da experiência do herói, o menino
no seu embate com o mundo e os homens, o que é do autor, senhor de um
conhecimento que só um sujeito muito culto poderia ter e sutilmente acrescentar,
e o que é do narrador, aquele que reúne os saberes dos mais diferentes campos,
coisas do sertão e dos livros, e conta tudo para nós”.
Para os interessados em saber
mais detalhes ou pesquisar a obra de Guimarães Rosa, há dois livros escritos
pelo professor Luiz Roncari: O Brasil de Rosa: o Amor e o Poder e Lutas e
Auroras: os Avessos do Grande Sertão: Veredas, ambos publicados pela Editora da
Unesp.
(Fonte: KYOMURA, Leila. “Campo Geral” é um caminho sem
volta para o leitor de Guimarães Rosa Disponível em: Jornal da USP - Livros FUVEST / https://bit.ly/3TDoUar)
OUTRAS RESENHAS SOBRE CAMPO GERAL
- ZINDACTA, Vitor. Resenha:
Campo Geral de Guimarães Rosa. Disponível em: postliteral.com.br / https://bit.ly/3zuJh2I
- ILHÉU, Taís. Campo geral:
resumo e análise da obra. Disponível em: Guia do Estudante / https://bit.ly/3TIJru2
- QUINELATO, Rosangela. Análise
do livro Campo Geral. Disponível em:Vestibulando https://bit.ly/4eUEgj9
João Guimarães Rosa, mais
conhecido por Guimarães Rosa, nasceu no dia 27 de junho de 1908, na cidade de
Cordisburgo, Minas Gerais. Viveu nessa região interiorana, onde o pai era juiz
de paz, vereador e comerciante, até 1918, período que cursou os estudos primários.
Posteriormente, aos 9 anos de idade, mudou-se para a casa de seus avós
maternos, situada em Belo Horizonte. Nesse novo lar, teve a forte influência de
seu avô, que era médico, escritor, filósofo e professor, o que contribuiu para
que o então menino se encantasse pelas letras e pelo conhecimento.
Na capital mineira, cursou
Medicina na Faculdade de Minas Gerais (atual UFMG), formando-se em 1930. Nessa
fase, foram publicados seus primeiros contos na revista O Cruzeiro. Depois de
formado, exerceu a profissão em Itaguara, município de Itaúna, interior
mineiro, onde permaneceu por dois anos, sendo motivo de apreço na região, pois
atendia seus doentes a cavalo pelas fazendas e sítios da zona rural.
Falante fluente de várias
línguas, Guimarães Rosa tornou-se diplomata.
Durante a Revolução
Constitucionalista, em 1932, voltou a Belo Horizonte para servir como médico
voluntário da Força Pública. Em seguida, atuou como oficial médico no 9º
Batalhão de Infantaria na cidade de Barbacena.
Enquanto exercia a medicina,
iniciou o processo de escrita literária, sendo agraciado em 1936 com o Prêmio
de Poesia da Academia Brasileira de Letras pela coletânea de poemas Magma. Essa
obra, que ganhou a premiação em primeiro lugar, só foi publicada postumamente,
em 1997.
Guimarães Rosa, em razão do
enorme apreço que tinha por línguas estrangeiras, o que lhe conferiu o domínio
de nove idiomas, deixou a medicina e optou pela carreira diplomática, o que
também lhe proporcionou maior contato com o mundo das letras. Em 1934, foi
morar no Rio de Janeiro e, em seguida, foi nomeado vice-cônsul em Hamburgo, na
Alemanha. Nesse período, como o país germânico estava sob o domínio nazista,
Rosa, exercendo sua influência como diplomata, ajudou, como evidenciam
documentos históricos, inúmeras vítimas do nazismo a fugirem, assinando, como
vice-cônsul, o visto em seus passaportes. Em 1942, quando o Brasil rompeu
aliança com a Alemanha, Guimarães Rosa foi preso, assim como outros brasileiros
que viviam naquele país.
Após ser liberto da prisão, o que
ocorreu no fim de 1942, foi nomeado secretário da Embaixada Brasileira em
Bogotá, na Colômbia. Posteriormente, entre 1946 e 1951, residiu em Paris, onde
consolidou sua carreira diplomática. Faleceu em 19 de novembro de 1967, na
cidade do Rio de Janeiro.
“ANGÚSTIA”, DE GRACILIANO
RAMOS, UNE INTROSPECÇÃO E CRÍTICA SOCIAL
Obra faz amálgama entre tomada
de consciência do País nos anos 30 e subjetivismo do escritor
Apesar de Vidas Secas (1938) ser
considerada a obra emblemática do escritor alagoano Graciliano Ramos, o romance
Angústia é uma de suas obras-primas, mesmo que ignorado pela crítica na época
de sua publicação, em 1936. Lançado pela José Olympio Editora, com ilustrações
de Santa Rosa, o livro está atualmente na 77ª edição pela Record. Segundo o
professor Fabio Cesar Alves, do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas
da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, Angústia é
o terceiro romance do autor – os dois anteriores são Caetés (1933) e São
Bernardo (1934) – e foi lançado quando Graciliano Ramos ainda se encontrava
preso, sem processo nem acusação formal, pela polícia política de Getúlio
Vargas.
Angústia integra a lista de
leituras exigidas para o vestibular da Fuvest (Fundação Universitária para o
Vestibular), que seleciona os candidatos a ingressar nos cursos da USP.
“A contragosto do próprio
Graciliano, o romance sai com ele ainda na prisão. Inclusive os companheiros de
cela fazem uma festa para comemorar dentro do presídio a publicação de
Angústia, e ele autografa vários exemplares para seus companheiros, que eram pessoas
como Eneida de Moraes, Olga Benário e Aparício Torelly”, conta o professor. “De
certo modo é um livro que vem à tona num momento muito crítico da vida
brasileira”, acrescenta.
Segundo Alves, “a questão
fundamental é que nesse romance, em particular, Graciliano Ramos, que já é
autor de uma obra bastante introspectiva, consegue unir essa introspecção à
crítica social, que é própria da geração de 30”. Para o professor, Angústia é
um romance que promove uma espécie de amálgama entre a tomada de consciência do
País nos anos 30 e a introspecção e o subjetivismo próprios dos romances
anteriores.
“Penso que esse livro dá conta
dessas contradições que estavam em jogo nos anos 30 e, ao mesmo tempo, mostra
uma espécie de falta de horizonte do Brasil e desse personagem-narrador, que é
o Luís da Silva, funcionário público de 35 anos, solitário, desgostoso da vida,
num momento de modernização acelerada do País.” E nesse sentido, segundo o
professor, é bastante atual, porque procura mostrar também o que permanece de
patriarcal, de escravista e de atrasado na nossa estrutura e na nossa vida
social. “O saldo é extremamente amargo. É uma denúncia daquilo que permanece
insuperável.”
(...)
(Fonte: COSTA, Cláudia. “ANGÚSTIA”, DE
GRACILIANO RAMOS, UNE INTROSPECÇÃO E CRÍTICA SOCIAL. Disponível em: Jornal
da USP/publicado em 2019 e atualizado em 2023 / https://bit.ly/47AhcUc)
(...) Angústia é o substantivo que
define a vida de Luís da Silva. Funcionário público, vive de aluguel, tem uma
empregada e reclama diariamente da vida. Na verdade, ele reclama de tudo. Ele
não consegue ver mais alegria em nada do que faz, é aquele tipo que empurra a
vida e vive por viver. Apesar de inteligente, ele sempre acha ruim de não ter
nada e não ter conquistado nada, mas o incrível é que você nunca o vê lutando
para conseguir alguma coisa. Parece que tudo o que ele faz é somente para
“passar o tempo” e não ter de pensar em si mesmo. Vive seguindo uma rotina, se
culpa muito por isso e acaba sendo um homem angustiado (olha o título de novo). (...) (Fonte: RUBIA, Priscilla. [Resenha]
Angústia do Graciliano Ramos. Disponível em: Leitor Cabuloso / https://bit.ly/3MV12ve
OUTRAS RESENHAS SOBRE "ANGÚSTIA"
- BRANDINO, Luiza. Angústia: romance de Graciliano Ramos. Disponível em: Brasil Escola UOL / https://bit.ly/3zoZFSk)
Membro do Modernismo, livros do escritor são alguns dos principais assuntos do ENEM e de outros vestibulares (Foto: Arquivo público do estado de São Paulo)
Graciliano Ramos de Oliveira nasceu em 27 de
outubro de 1892, no município de Quebrangulo, no Alagoas. Filho de
comerciantes, ele teve uma vida confortável durante a infância e pôde se dedicar aos estudos. Não por
acaso, seu assunto de maior interesse eram as línguas — principalmente a portuguesa.
Ramos começou a escrever cedo e chegou a publicar seu
primeiro conto aos 11 anos. Anos depois, ele passaria a produzir textos para
periódicos brasileiros, os quais assinava com o pseudônimo Feliciano Olivença
devido à sua pouca idade. Na juventude, trabalhou em jornais e
publicações literárias. Além disso, fez parte do Exército,
ajudou seus pais na loja da família e deu aulas de português.
Anos depois, o rapaz se fixou na cidade de Palmeira dos
Índios, a cerca de 136 quilômetros de Maceió. Por lá, se envolveu com política
e acabou se tornando o prefeito da cidade, em 1927. Alguns especialistas contam
que, por conta de seus dotes literários, Ramos impressionava outros
profissionais com seus relatórios bem escritos.
Mas, mesmo com o reconhecimento pelos “belos” documentos
redigidos, esse mundo não era para o alagoano. Para ele a política era
conturbada, pois envolvia muitos conflitos de interesse e burocracias. Isso fez
com que ele renunciasse do cargo dois anos após a posse.
A política, contudo, não desapareceu de sua vida. Até sua
morte, em março de 1953, Ramos atuou em diversos outros cargos públicos,
principalmente em posições que envolviam assuntos ligados à educação.
O escritor Graciliano Ramos (Foto: Reprodução)
Mesmo com todas essas funções, Ramos encontrou tempo para se
casar duas vezes, ter oito filhos e, é claro, escrever. Ele foi um dos
principais expoentes da segunda fase do Modernismo e, por seus mais de dez livros
publicados, ganhou diversos prêmios e se consagrou um dos maiores autores do
Brasil.
Contexto histórico e literário
Na época em que Graciliano Ramos começou a escrever, o país fervilhava com
mudanças, tanto no campo da arte,
quanto na política e economia.
O movimento literário conhecido como Modernismo se consolidava, reforçando a
formação de uma identidade artística nacionalista.
O Modernismo foi fundado por grandes nomes da
arte brasileira, como Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, durante a Semana
de Arte Moderna de 1922, realizada no Theatro Municipal de São Paulo.
Inicialmente, o movimento focou na ruptura da arte do Brasil com as influências
do exterior, principalmente às produções europeias. A ideia dos artistas era o
de criar uma identidade brasileira de forma quase ufanista e revolucionária.
Quando Ramos começou a publicar suas obras, esse estilo já havia mudado.
Participantes da Semana da Arte Moderna, de 1922 (Foto:
Reprodução)
Agora, os artistas já haviam amadurecido os ideais do
movimento e podiam focar em outros temas, como o regionalismo, a mistura de
diversos tipos de arte e a construção de algo totalmente brasileiro. Graciliano Ramos, é claro, se enquadra em todas
essas classificações.
Mas, à época, essas ideias nacionalistas não permeavam
apenas as artes. A segunda fase do Modernismo durou de 1930 até 1945, período
em que ocorreu a Revolução de 1930, que colocou o país sob o comando do gaúcho
Getúlio Vargas, responsável por formular reformas trabalhistas e econômicas
para modernizar o Estado brasileiro. Contudo, em 1937 o presidente aplicou
um "autogolpe" que instaurou uma ditadura até 1945 — e rendeu 11
meses de prisão a Ramos.
Em tempos de política anticomunista ditada por Vargas, as
obras e as amizades de Ramos não eram bem vistas. “Ele tinha um lado político
velado, mas, que se analisarmos, está muito presente em sua obra”, afirmou
Celso Cavicchia, professor de literatura formado em letras pela USP, em
entrevista à GALILEU.
O especialista ressalta ainda que o partidarismo de
Graciliano Ramos é perceptível apenas para quem realmente presta atenção em
seus escritos. “Quando você lê as obras, o comunismo está explícito se você quiser
entender. Entretanto, para quem não quer, resta apenas a narrativa, que faz
pensar 'coitadinho dos pobres e miseráveis' e só isso”, explicou.
Ramos foi preso apenas três anos após a publicação de São
Bernardo (1934), que conta a história de amor de um dono de terras com uma mulher de
ideias mais humanistas. “Nessa obra temos um capitalista explorando o trabalho
do povo. Quando conto essa história para meus alunos, ele percebe o quanto a
obra ainda é atual”, disse Cavicchia.
Depois de passar meses encarcerado pelo governo, Graciliano
Ramos foi liberado em 1937. Não muito tempo depois, em 1938, o escritor
publicou o livro que talvez seja sua obra mais famosa: Vidas Secas.
Confira abaixo um resumo de suas principais obras.
(...)
(Fonte: VIGIANNO, Giuliana. Conheça vida e obra de Graciliano Ramos, autor de 'Vidas
Secas' e 'Angústia'. Disponível em: revista Galileu / http://glo.bo/4eABQGe)
Teodorico, ou Raposão, como era
conhecido, era um jovem que ficou órfão de pai e mãe no primeiro ano de vida e
foi criado por uma tia, D. Patrocínio das Neves, irmã de sua mãe, solteirona, muito
rica e extremamente carola, uma religiosa fanática, cheia de preconceitos e
aversão ao sexo e aos prazeres da vida, que em sua mente distorcida eram sinônimos
de pecado e deviam ser evitados a todo custo. Raposão vivia aparentemente dentro
dos princípios religiosos impostos por sua tia, mas, em verdade, também levava
uma vida amoral e promíscua longe dos olhos da família, tendo inúmeras
aventuras sexuais e amorosas, com prostitutas e outras mulheres - uma vida
dupla, portanto. Tudo o que queria era formar-se na faculdade, receber sua herança
e livrar-se de sua tia, da Igreja, de Portugal, indo viver em Paris, na “cidade
luz”, considerada como o centro do mundo no século XIX. É nessa atmosfera
social e familiar em que Eça de Queiroz, o representante do movimento Realista
em Portugal, usa de muita ironia e sarcasmo através das falas e reflexões de
Raposão, para criticar a sociedade portuguesa da época que estava totalmente manipulada
pela Igreja Católica. Portugal era considerado como um país periférico, pobre e
atrasado em relação aos países ricos da Europa, como França e Inglaterra, onde
outros hábitos e modos de viver se desenvolviam, e onde, também, a influência
da Igreja com suas prisões mentais e sociais já não se fazia tão forte e
presente na vida das pessoas. Essa é uma história muito divertida que através
dos recursos estilísticos da ironia e do sarcasmo levam o leitor, através do
personagem principal, a refletir sobre a sociedade portuguesa daquela época e a
sociedade brasileira atual. Qualquer semelhança NÃO é mera coincidência! "Mas, e a tal relíquia? Do que se trata?" você deve estar se perguntando. Bem... Aí, você terá que ler o livro para saber tudo! (Texto: Prof. André Luiz Gattás)
OBSERVAÇÃO: IRONIA e SARCASMO são recursos
estilísticos da língua.
Ironia É uma figura de linguagem que
consiste em afirmar o oposto do que se pensa, utilizando palavras com sentido
oposto para dar ênfase ao discurso. Pode ser mais leve ou menos óbvia, e mais
sutil no tom de deboche.
Sarcasmo É um recurso estilístico
semelhante à ironia, mas é mais agressivo e provocador, muitas vezes zombando
de algo ou de alguém. Pode ser classificado como maldoso, ferino, malicioso.
A ironia e o sarcasmo são
utilizados para dar maior expressividade ao discurso, em textos orais ou
escritos. A diferença entre eles está no modo como cada um é utilizado,
dependendo do contexto empregado. A palavra ironia tem origem grega
(euroneia) e significa dissimulação, fingimento. Já o sarcasmo vem de
sarkasmós, que significa zombaria e escárnio.
RESENHAS
(...) Eça de Queirós mostra, através da
hipocrisia de Teodorico, bem como através da própria hipocrisia de Dona
Patrocínio das Neves e de outros personagens, representantes do clero católico,
que o discurso irônico tem a função não só de sátira e galhofa, mas de lançar
uma crítica mais profunda a determinados costumes, valores e práticas da
sociedade portuguesas do século XIX. Portanto, a leitura dessa obra requer uma
atenção da narração irônica que abrange a religiosidade medíocre e fanática. A
teologia cristã dará passagem à teologia do riso. Pode ficar tranquilo que você,
leitor, encontrará bons motivos para dar boas risadas, mas vou logo avisando
que não são risadas fáceis. Ao contrário, é o humor como uma forma de reflexão.
Raposão imprime um tom sério, quase científico às suas reflexões, e, ao
fazê-lo, acaba sendo cômico, burlesco. Suas representações são excessivas e o
leitor só será enganado se quiser. O final é simplesmente o máximo.
Querem saber qual a relíquia santa trazida por Teodoro de Jerusalém para sua
tia? Uma coroa de espinhos de Jesus Cristo para conquistar de vez o coração de
sua tia? Ou alguma lembrança de Maria Madalena? Não deixem de ler essa
obra-prima. Um livro que merece um lugar especial na sua estante. (Fonte: bonslivrosparaler.com.br
/ https://bit.ly/4e30i2U)
(...) Contexto Histórico O contexto dessa obra se dá no
século XIX. Para Eça de Queirós, era fundamental utilizar a arte como forma de
denunciar certos comportamentos nocivos que permeavam a sociedade. Ou seja: essa foi a maneira
encontrada pelo autor de mostrar ao mundo algumas das características da
sociedade portuguesa daquele período, marcado pelo início de uma marcante crise
na monarquia e no sistema colonial. (...) (Fonte: blog.stoodi.com.br / https://bit.ly/3ZmYsWe)
(...) Lançado em 1887, o livro foi
publicado na cidade do Porto, em Portugal. “É sem dúvida uma obra muito
importante do autor, mas gerou uma grande polêmica, quando a Academia Real de
Ciências de Lisboa abriu um concurso literário no qual o texto de Eça foi preterido”,
conta Garmes. “Grande parte da crítica literária considera que A Relíquia foge
um pouco ao gênero do romance realista, sobretudo por conta do episódio
fantástico que ocorre no meio do livro, quando Teodorico, em sua viagem para
Jerusalém, vive uma espécie de retorno para o passado e assiste pessoalmente a
todo o sofrimento de Jesus Cristo, descobrindo que não ressuscitou, e sim
morreu de fato.” O episódio, no entanto,
instiga e passa. “O restante da trama do romance é marcado por uma linguagem
e ações realistas, com críticas severas à Igreja, à corrupção, à
manipulação da boa-fé dos indivíduos, à desfaçatez do homem capitalista do
século 19, que não valoriza mais nada além de dinheiro e prestígio social,
sem qualquer princípio ético. O autor narra em um tom muito leve e divertido,
que ganha facilmente a simpatia do leitor.”. (...) O professor destaca que o
estudante verá a realidade brasileira refletida na história de Eça. “Tem
relação direta com temas como as fakes news, os processos de
corrupção que temos visto ocorrer no Brasil, onde cada um procura provar
sua verdade, deixando de lado qualquer princípio ético, além do crescimento
exponencial de religiões que manipulam seus fiéis da forma mais abjeta.” (...) (Fonte: KIYOMURA, Leila. Livro da Fuvest, “A
Relíquia” desnuda a construção de verdades. Disponível em: Jornal da USP - publicado
em 25/09/2018 e atualizado em 17/01/2022 / https://bit.ly/3MP3QtC)
Eça de Queirós nasceu em
25 de novembro de 1845, em Póvoa do Varzim, cidade portuguesa. Ele era
filho de José Maria de Almeida Teixeira de Queirós (1820–1901). O pai do
escritor não era casado com sua mãe, a portuguesa Carolina Augusta Pereira de
Eça (1826–1908).
Assim, sua criação foi
responsabilidade de sua ama de leite e madrinha, Ana Joaquina Leal de Barros.
Em 1855, Eça de Queirós passou a estudar no colégio da Lapa, na cidade do
Porto. Em 1861, ingressou na faculdade de Direito, em Coimbra. Quando terminou o
curso universitário, em 1866, decidiu morar em Lisboa, na casa dos pais, que se
casaram quatro anos depois do nascimento do escritor.
Em 1866, passou a escrever para o
jornal Gazeta de Portugal e, no fim do ano, foi para Évora,
onde atuou como advogado e dirigiu o jornal Distrito de Évora.
Mas, em 1867, regressou a Lisboa. Dois anos depois, conheceu a Palestina, Síria
e Egito. Em 1870, recebeu nomeação para o cargo de administrador do concelho de
Leiria.
No ano de 1872, tomou posse do
cargo de cônsul em Havana.No ano seguinte, viajou ao Canadá,
Estados Unidos e América Central, após pedir uma licença ao Ministério dos
Negócios Estrangeiros. Mas, em 1874, passou a atuar no consulado de Newcastle
upon Tyne, na Inglaterra, e, em 1878, no consulado de Bristol. No ano de 1880,
começou a escrever para o jornal Gazeta de Notícias, do Rio de
Janeiro.
Três anos depois, em 1883, se
tornou sócio-correspondente da Academia Real das Ciências. Já em 1885, ficou
noivo de Emília de Castro (1857–1934), e os dois se casaram no ano seguinte.
Dois anos depois, foram morar na França, pois Eça foi nomeado cônsul em
Paris.
Mas o autor continuou escrevendo
e publicando seus textos. Até que, em 1897, por ordem médica, passou um tempo
em Plombières. Mais tarde, em 1900, foi para o sul da França, também por motivo
de saúde. O escritor morreu em 16 de agosto de 1900, em Paris.
O projeto CARDÁPIO DO MÊS tem por objetivo chamar a atenção dos usuários da Sala de Leitura para determinadas obras que a cada mês são selecionadas por diferentes critérios, tais como: gênero literário, escola literária, temas, datas temáticas etc. Esse display fica exposto no revisteiro da SL, logo à entrada da sala.
Neste mês damos destaque aos títulos literários para o Ensino Médio presentes na plataforma LEIA SP e que estão direcionados ao lazer e ao vestibular. Venha conhecê-los!