“ANGÚSTIA”, DE GRACILIANO RAMOS, UNE INTROSPECÇÃO E CRÍTICA SOCIAL
Obra faz amálgama entre tomada de consciência do País nos anos 30 e subjetivismo do escritor
Apesar de Vidas Secas (1938) ser
considerada a obra emblemática do escritor alagoano Graciliano Ramos, o romance
Angústia é uma de suas obras-primas, mesmo que ignorado pela crítica na época
de sua publicação, em 1936. Lançado pela José Olympio Editora, com ilustrações
de Santa Rosa, o livro está atualmente na 77ª edição pela Record. Segundo o
professor Fabio Cesar Alves, do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas
da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, Angústia é
o terceiro romance do autor – os dois anteriores são Caetés (1933) e São
Bernardo (1934) – e foi lançado quando Graciliano Ramos ainda se encontrava
preso, sem processo nem acusação formal, pela polícia política de Getúlio
Vargas.
Angústia integra a lista de
leituras exigidas para o vestibular da Fuvest (Fundação Universitária para o
Vestibular), que seleciona os candidatos a ingressar nos cursos da USP.
“A contragosto do próprio
Graciliano, o romance sai com ele ainda na prisão. Inclusive os companheiros de
cela fazem uma festa para comemorar dentro do presídio a publicação de
Angústia, e ele autografa vários exemplares para seus companheiros, que eram pessoas
como Eneida de Moraes, Olga Benário e Aparício Torelly”, conta o professor. “De
certo modo é um livro que vem à tona num momento muito crítico da vida
brasileira”, acrescenta.
Segundo Alves, “a questão
fundamental é que nesse romance, em particular, Graciliano Ramos, que já é
autor de uma obra bastante introspectiva, consegue unir essa introspecção à
crítica social, que é própria da geração de 30”. Para o professor, Angústia é
um romance que promove uma espécie de amálgama entre a tomada de consciência do
País nos anos 30 e a introspecção e o subjetivismo próprios dos romances
anteriores.
“Penso que esse livro dá conta
dessas contradições que estavam em jogo nos anos 30 e, ao mesmo tempo, mostra
uma espécie de falta de horizonte do Brasil e desse personagem-narrador, que é
o Luís da Silva, funcionário público de 35 anos, solitário, desgostoso da vida,
num momento de modernização acelerada do País.” E nesse sentido, segundo o
professor, é bastante atual, porque procura mostrar também o que permanece de
patriarcal, de escravista e de atrasado na nossa estrutura e na nossa vida
social. “O saldo é extremamente amargo. É uma denúncia daquilo que permanece
insuperável.”
(...)
(Fonte: COSTA, Cláudia. “ANGÚSTIA”, DE GRACILIANO RAMOS, UNE INTROSPECÇÃO E CRÍTICA SOCIAL. Disponível em: Jornal da USP/publicado em 2019 e atualizado em 2023 / https://bit.ly/47AhcUc)
Angústia é o substantivo que define a vida de Luís da Silva. Funcionário público, vive de aluguel, tem uma empregada e reclama diariamente da vida. Na verdade, ele reclama de tudo. Ele não consegue ver mais alegria em nada do que faz, é aquele tipo que empurra a vida e vive por viver. Apesar de inteligente, ele sempre acha ruim de não ter nada e não ter conquistado nada, mas o incrível é que você nunca o vê lutando para conseguir alguma coisa. Parece que tudo o que ele faz é somente para “passar o tempo” e não ter de pensar em si mesmo. Vive seguindo uma rotina, se culpa muito por isso e acaba sendo um homem angustiado (olha o título de novo).
(...)
(Fonte: RUBIA, Priscilla. [Resenha] Angústia do Graciliano Ramos. Disponível em: Leitor Cabuloso / https://bit.ly/3MV12ve
OUTRAS RESENHAS SOBRE "ANGÚSTIA"
- BRANDINO, Luiza. Angústia: romance de Graciliano Ramos. Disponível em: Brasil Escola UOL / https://bit.ly/3zoZFSk)
- Angustia - Graciliano Ramos. Disponível em: Blog Roendo Livros / https://bit.ly/3XTYDHt
VÍDEO-RESENHAS SOBRE "ANGÚSTIA"
(Fonte: canal Ler Antes de Morrer - YouTube / https://bit.ly/3XRTeR5)
(Fonte: canal tatianagfeltrin - YouTube / https://bit.ly/3ZD61YT)
(Fonte: canal LíteraBrasil - YouTube / https://bit.ly/4dl3upo)
(Fonte: canal Literature-se - YouTube / https://bit.ly/4gzQoYg)
(Fonte: canal Literatura com Alencar - YouTube / https://bit.ly/3ZSnCMP)
(Fonte: canal Leia para Viver / Rodrigo Villela - YouTube / https://bit.ly/4eyL0Tr)
(Fonte: canal O Magriço Cibernético - YouTube / https://bit.ly/4eBKiVH)
QUEM FOI GRACILIANO RAMOS
Membro do Modernismo, livros do escritor são alguns dos principais assuntos do ENEM e de outros vestibulares (Foto: Arquivo público do estado de São Paulo) |
Graciliano Ramos de Oliveira nasceu em 27 de outubro de 1892, no município de Quebrangulo, no Alagoas. Filho de comerciantes, ele teve uma vida confortável durante a infância e pôde se dedicar aos estudos. Não por acaso, seu assunto de maior interesse eram as línguas — principalmente a portuguesa.
Ramos começou a escrever cedo e chegou a publicar seu
primeiro conto aos 11 anos. Anos depois, ele passaria a produzir textos para
periódicos brasileiros, os quais assinava com o pseudônimo Feliciano Olivença
devido à sua pouca idade. Na juventude, trabalhou em jornais e
publicações literárias. Além disso, fez parte do Exército,
ajudou seus pais na loja da família e deu aulas de português.
Anos depois, o rapaz se fixou na cidade de Palmeira dos
Índios, a cerca de 136 quilômetros de Maceió. Por lá, se envolveu com política
e acabou se tornando o prefeito da cidade, em 1927. Alguns especialistas contam
que, por conta de seus dotes literários, Ramos impressionava outros
profissionais com seus relatórios bem escritos.
Mas, mesmo com o reconhecimento pelos “belos” documentos
redigidos, esse mundo não era para o alagoano. Para ele a política era
conturbada, pois envolvia muitos conflitos de interesse e burocracias. Isso fez
com que ele renunciasse do cargo dois anos após a posse.
A política, contudo, não desapareceu de sua vida. Até sua
morte, em março de 1953, Ramos atuou em diversos outros cargos públicos,
principalmente em posições que envolviam assuntos ligados à educação.
O escritor Graciliano Ramos (Foto: Reprodução) |
Mesmo com todas essas funções, Ramos encontrou tempo para se
casar duas vezes, ter oito filhos e, é claro, escrever. Ele foi um dos
principais expoentes da segunda fase do Modernismo e, por seus mais de dez livros
publicados, ganhou diversos prêmios e se consagrou um dos maiores autores do
Brasil.
Contexto histórico e literário
Na época em que Graciliano Ramos começou a escrever, o país fervilhava com
mudanças, tanto no campo da arte,
quanto na política e economia.
O movimento literário conhecido como Modernismo se consolidava, reforçando a
formação de uma identidade artística nacionalista.
O Modernismo foi fundado por grandes nomes da
arte brasileira, como Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, durante a Semana
de Arte Moderna de 1922, realizada no Theatro Municipal de São Paulo.
Inicialmente, o movimento focou na ruptura da arte do Brasil com as influências
do exterior, principalmente às produções europeias. A ideia dos artistas era o
de criar uma identidade brasileira de forma quase ufanista e revolucionária.
Quando Ramos começou a publicar suas obras, esse estilo já havia mudado.
Participantes da Semana da Arte Moderna, de 1922 (Foto: Reprodução)
Agora, os artistas já haviam amadurecido os ideais do
movimento e podiam focar em outros temas, como o regionalismo, a mistura de
diversos tipos de arte e a construção de algo totalmente brasileiro. Graciliano Ramos, é claro, se enquadra em todas
essas classificações.
Mas, à época, essas ideias nacionalistas não permeavam
apenas as artes. A segunda fase do Modernismo durou de 1930 até 1945, período
em que ocorreu a Revolução de 1930, que colocou o país sob o comando do gaúcho
Getúlio Vargas, responsável por formular reformas trabalhistas e econômicas
para modernizar o Estado brasileiro. Contudo, em 1937 o presidente aplicou
um "autogolpe" que instaurou uma ditadura até 1945 — e rendeu 11
meses de prisão a Ramos.
Em tempos de política anticomunista ditada por Vargas, as
obras e as amizades de Ramos não eram bem vistas. “Ele tinha um lado político
velado, mas, que se analisarmos, está muito presente em sua obra”, afirmou
Celso Cavicchia, professor de literatura formado em letras pela USP, em
entrevista à GALILEU.
O especialista ressalta ainda que o partidarismo de
Graciliano Ramos é perceptível apenas para quem realmente presta atenção em
seus escritos. “Quando você lê as obras, o comunismo está explícito se você quiser
entender. Entretanto, para quem não quer, resta apenas a narrativa, que faz
pensar 'coitadinho dos pobres e miseráveis' e só isso”, explicou.
Ramos foi preso apenas três anos após a publicação de São
Bernardo (1934), que conta a história de amor de um dono de terras com uma mulher de
ideias mais humanistas. “Nessa obra temos um capitalista explorando o trabalho
do povo. Quando conto essa história para meus alunos, ele percebe o quanto a
obra ainda é atual”, disse Cavicchia.
Depois de passar meses encarcerado pelo governo, Graciliano
Ramos foi liberado em 1937. Não muito tempo depois, em 1938, o escritor
publicou o livro que talvez seja sua obra mais famosa: Vidas Secas.
Confira abaixo um resumo de suas principais obras.
(...)
(Fonte: VIGIANNO, Giuliana. Conheça vida e obra de Graciliano Ramos, autor de 'Vidas Secas' e 'Angústia'. Disponível em: revista Galileu / http://glo.bo/4eABQGe)
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