O fato de José de Alencar ter sido um leitor assíduo de
Walter Scott, escritor inglês do século XIX e criador do gênero romance histórico, fez com que sua obra
sempre misturasse ficção com realidade, baseada em documentos históricos e desenvolvendo
o enredo com base nesses fatos. O contexto em que se desenvolve a trama de
Iracema ocorre num período em que duas etnias indígenas diferentes apoiavam
dominadores europeus também diferentes. Enquanto os índios potiguaras, que habitavam as praias cearenses, eram aliados dos
portugueses, os tabajaras,
habitantes das serras cearenses, eram aliados dos franceses. Estabelecia-se aí,
então, outra polaridade. Para criar um enredo de amor romântico nos moldes dos romances europeus, José de Alencar
constrói a personagem de Iracema com alguns comportamentos e crenças de uma mulher
europeia cristã, e aqui, pode-se citar, por exemplo, o fato de ela se manter virgem para o amado, princípio
esse que não existe e nem é valorizado nas sociedades indígenas, já que isso é
um dogma do cristianismo.
A personagem Moacir,
fruto do amor entre Iracema e Martin e cujo nome significa “nascido da dor”, mediante todos os
sofrimentos que sua mãe enfrentou para
tê-lo, inclusive durante o parto, acaba por ser usada como um recurso
para justificar vários fatos, tais como a união de dois povos diferentes, a necessidade
do choque, do embate e do sofrimento para o nascimento de algo melhor, que seria uma nova nação (justificando a violência dos colonizadores em relação aos povos indígenas) e
nesse tipo de raciocínio podemos fazer várias outras afirmações onde o autor
vai justificando todos os crimes cometidos pelos colonizadores contra a cultura
indígena.
Iracema foi publicado em 1865, e faz parte
da tríade dos romances indianistas juntamente com O Guarani e Ubirajara. Naquela época o Brasil vivia
uma euforia nacionalista motivado pelo movimento de independência, ocorrido em
1822. Esses fatos influenciaram os escritores da época que se inspiravam no
romantismo europeu, o qual também tinha ideais nacionalistas. Assim, os autores brasileiros adaptavam suas obras à
realidade local. Portanto, Iracema pertence à primeira fase do
romantismo brasileiro, no qual, tanto na prosa como na poesia, dava-se muito
destaque à “língua brasileira”, um português impregnado com dialetos africanos bem como com palavras e expressões indígenas e também construiu-se uma imagem artificial do
índio, na tentativa de torná-lo semelhante a um cavaleiro medieval, transformando-o em um verdadeiro
herói nacional. Tudo muito idealizado e distante da realidade. Tudo muito "romantizado", como se diz.
(Texto: André Luiz Gattás)
O Romantismo no Brasil
A despeito de possuir
características semelhantes dessa fase, o romantismo é dividido em três
fases.
A primeira geração romântica
(1836 a 1852) está pautada no nacionalismo-indianismo, visto como a fase
inicial para a busca de uma identidade nacional.
A segunda geração romântica (1853 a
1869), denominada de “mal do século” ou “ultrarromântica”, destacou-se pela
abordagem de temas como a morte, a dor, o amor não correspondido.
A terceira geração romântica, chamada de
“geração condoreira” (1870 a 1880), ressalta a importância da liberdade.
(Fonte: todamateria.com.br / https://bit.ly/2OgbhQ9)
Características
A Primeira Geração
Romântica tem como principais características:
·
Exaltação da natureza e da liberdade
·
Religiosidade
·
Figura do índio ou indianismo
·
Sentimentalismo, emoções
·
Nacionalismo-ufanista
·
Brasileirismo (linguagem)
(Fonte: todamateria.com.br / https://bit.ly/2OgbhQ9)
Era
filho do padre, depois senador, José Martiniano de Alencar e de sua prima Ana
Josefina de Alencar, com quem formara uma união socialmente bem aceita,
desligando-se bem cedo de qualquer atividade sacerdotal. É neto, pelo lado
paterno, do comerciante português José Gonçalves dos Santos e de D. Bárbara de
Alencar, matrona pernambucana que se consagraria heroína da revolução de 1817.
Ela e o filho José Martiniano, então seminarista no Crato, passaram quatro anos
presos na Bahia, pela adesão ao movimento revolucionário irrompido em Pernambuco.
As
mais distantes reminiscências da infância do pequeno José mostram-no lendo
velhos romances para a mãe e as tias, em contato com as cenas da vida sertaneja
e da natureza brasileira e sob a influência do sentimento nativista que lhe
passava o pai revolucionário. Entre 1837-38, em companhia dos pais, viajou do
Ceará à Bahia, pelo interior, e as impressões dessa viagem refletir-se-iam mais
tarde em sua obra de ficção. Transferiu-se com a família para o Rio de Janeiro,
onde o pai desenvolveria carreira política e onde frequentou o Colégio de
Instrução Elementar. Em 1844 vai para São Paulo, onde permanece até 1850,
terminando os preparatórios e cursando Direito, salvo o ano de 1847, em que faz
o 3º ano na Faculdade de Olinda. Formado, começa a advogar no Rio e passa a
colaborar no Correio Mercantil, convidado por Francisco Otaviano de
Almeida Rosa, seu colega de Faculdade, e a escrever para o Jornal do
Comércio os folhetins que, em 1874, reuniu sob o título de Ao
correr da pena. Redator-chefe do Diário do Rio de Janeiro em
1855. Filiado ao Partido Conservador, foi eleito várias vezes deputado geral
pelo Ceará; de 1868 a 1870, foi ministro da Justiça. Não conseguiu realizar a
ambição de ser senador, devendo contentar-se com o título do Conselho.
Desgostoso com a política, passou a dedicar-se exclusivamente à literatura.
A sua notoriedade começou com as Cartas sobre A Confederação dos Tamoios, publicadas em 1856, com o pseudônimo de Ig, no Diário do Rio de Janeiro, nas quais critica veementemente o poema épico de Domingos Gonçalves de Magalhães, favorito do Imperador e considerado então o chefe da literatura brasileira. Estabeleceu-se, entre ele e os amigos do poeta, apaixonada polêmica de que participou, sob pseudônimo, o próprio D. Pedro II. A crítica por ele feita ao poema denota o grau de seus estudos de teoria literária e suas concepções do que devia caracterizar a literatura brasileira, para a qual, a seu ver, era inadequado o gênero épico, incompatível à expressão dos sentimentos e anseios da gente americana e à forma de uma literatura nascente. Optou, ele próprio, pela ficção, por ser um gênero moderno e livre.
Ainda
em 1856, publicou o seu primeiro romance conhecido: Cinco minutos.
Em 1857, revelou-se um escritor mais maduro com a publicação, em folhetins,
de O Guarani, que lhe granjeou grande popularidade. Daí para frente
escreveu romances indianistas, urbanos, regionais, históricos, romances-poemas
de natureza lendária, obras teatrais, poesias, crônicas, ensaios e polêmicas
literárias, escritos políticos e estudos filológicos. A parte de ficção
histórica, testemunho da sua busca de tema nacional para o romance,
concretizou-se em duas direções: os romances de temas propriamente históricos e
os de lendas indígenas. Por estes últimos, José de Alencar incorporou-se no
movimento do Indianismo na literatura brasileira do século XIX, em que a
fórmula nacionalista consistia na apropriação da tradição indígena na ficção, a
exemplo do que fez Gonçalves Dias na poesia. Em 1866, Machado de Assis, em
artigo no Diário do Rio de Janeiro, elogiou calorosamente o
romance Iracema, publicado no ano anterior. José de Alencar
confessou a alegria que lhe proporcionou essa crítica em Como e por que
sou romancista, onde apresentou também a sua doutrina estética e poética,
dando um testemunho de quão consciente era a sua atitude em face do fenômeno
literário. Machado de Assis sempre teve José de Alencar na mais alta conta e,
ao fundar-se a Academia Brasileira de Letras, em 1897, escolheu-o como patrono
de sua cadeira.
Sua obra é da mais alta significação nas letras brasileiras, não só pela seriedade, ciência e consciência técnica e artesanal com que a escreveu, mas também pelas sugestões e soluções que ofereceu, facilitando a tarefa da nacionalização da literatura no Brasil e da consolidação do romance brasileiro, do qual foi o verdadeiro criador. Sendo a primeira figura das nossas letras, foi chamado “o patriarca da literatura brasileira”. Sua imensa obra causa admiração não só pela qualidade, como pelo volume, se considerarmos o pouco tempo que José de Alencar pôde dedicar-lhe numa vida curta. Faleceu no Rio de Janeiro, de tuberculose, aos 48 anos de idade.
(Fonte: academia.org.br / https://bit.ly/2PTZ3gh)