terça-feira, 31 de agosto de 2021

Trilha Antirracista / Sociologia: MEMÓRIAS DA PLANTAÇÃO, de Grada Kilomba

A escritora e psicóloga portuguesa Grada Kilomba – com origens em Angola e São Tomé e Príncipe – é militante do feminismo negro e autora de Memórias da Plantação: Episódios do Racismo Cotidiano, livro publicado originalmente em inglês em 2008, que avalia o racismo e seus impactos sobre raça, gênero e classe. "Descolonizar o conhecimento" é a ideia que move esta obra, sabendo que, ainda hoje, todos os "conceitos de conhecimento, erudição e ciência estão intrinsicamente ligados ao poder e à autoridade racial", relegando o pensamento negro a discursos marginais, fora do contexto acadêmico.

Grada Kilomba aborda questões importantes sobre as formas contemporâneas do racismo que adaptou as antigas concepções do colonialismo, apelativas de uma falsa "superioridade biológica", para as novas abordagens que, em vez disso, falam de "diferença cultural" ou de "religiões" e suas incompatibilidades com as culturas nacionais, principalmente nos países europeus. Portanto, ocorre uma mudança no conceito de "biologia" para "cultura" e, apesar da ideia de superioridade não estar implícita, é disso que se trata novamente. As diferenças sendo interpretadas como "inferioridade" e gerando o preconceito, apoiado pelo poder.

"Há uma máscara da qual eu ouvi falar muitas vezes durante minha infância. A máscara que 'Anastácia' era obrigada a usar. Os vários relatos e descrições minuciosas pareciam me advertir que aqueles não eram meramente fatos do passado, mas memórias vivas enterradas em nossa psique, prontas para serem contadas. Hoje quero recontá-las. Quero falar sobre a máscara do silenciamento. Tal máscara foi uma peça muito concreta, um instrumento real que se tornou parte do projeto colonial europeu por mais de trezentos anos. Ela era composta por um pedaço de metal colocado no interior da boca do 'sujeito negro', instalado entre a língua e o maxilar e fixado por detrás da cabeça por duas cordas, uma em torno do queixo e a outra em torno do nariz e da testa. Oficialmente, a máscara era usada pelos senhores 'brancos' para evitar que africanas/os escravizadas/os comessem cana-de açúcar ou cacau enquanto trabalhavam nas plantações, mas sua principal função era implementar um senso de mudez e de medo, visto que a boca era um lugar de silenciamento e de tortura. Neste sentido, a máscara representa o colonialismo como um todo. Ela simboliza políticas sádicas de conquista e dominação e seus regimes brutais de silenciamento das/os chamadas/os 'Outras/os': Quem pode falar? O que acontece quando falamos? E sobre o que podemos falar?" (p.33)

Na linha de outros grandes pensadores da descolonização e sistemas de opressão e dominação de classes, como Frantz Fanon (1925-1961) e Gloria Jean Watkins (bell hooks), a obra é decorrente do doutoramento de Grada Kilomba na Alemanha que obteve a mais alta distinção acadêmica, a summa cum laude. Um livro que demonstra como o racismo não se limita a um passado colonial, mas representa uma realidade traumática em muitas sociedades, inclusive naquelas que se intitulam como uma "democracia racial", como a nossa.

Os mecanismos do racismo atuam de forma mais cruel contra as mulheres negras, tornando-as invisíveis e formando o "racismo genderizado": "Mulheres negras têm sido, portanto, incluídas em diversos discursos que mal interpretam nossa própria realidade: um debate sobre racismo no qual o 'sujeito' é o homem 'negro'; um discurso genderizado no qual o 'sujeito' é a mulher 'branca'; e um discurso de classe no qual 'raça' não tem nem lugar. Nós ocupamos um lugar muito crítico dentro da teoria" (p. 97) [...]

(Fonte: KOVACS, Alexandre. Grada Kilomba – Memórias da Plantação. Disponível em mundodek.com / https://bit.ly/3DG9gl4)

PARA SER LIDO COM CALMA E HUMILDADE
Em memórias da plantação, a Grada traz exemplos cotidianos e análises do racismo, contextualizando o trauma que o colonialismo impões a pessoas pretas. Na análise atenta e sem a pretensão de ser impessoal, a autora traz relatos do que é viver na pele de uma mulher negra num mundo ainda marcado pelo colonialismo e repleto de fantasias a respeito do papel social, cultural e econômico de indivíduos negros no mundo.
Segundo a própria autora, amparada pelo corpo teórico da psicanálise, existem 5 mecanismos diferentes de defesa do ego frente ao trauma imposto pelo racismo: negação, frustração, ambivalência, identificação e descolonização. Para mim, esse livro, assim como todos os outros autores negros que tenho lido, são parte de um processo de transição entre ambivalência e identificação, que eu espero sinceramente que culmine na descolonização. Que culmine no meu estabelecimento pleno como um sujeito no mundo, independentemente do imaginário cruel que é tão sinceramente descrito pela Grada nesse livro.
É um livro pesado e dolorido, para ser lido com calma e humildade. A edição brasileira conta ainda com uma carta da autora que mostra com que cuidado, delicadeza e atenção a obra foi traduzida para o português brasileiro, levando em consideração a história, as peculiaridades e os significados subjetivos da língua. Com certeza, uma leitura que vale a pena.

(Fonte: skoob.com.br / https://bit.ly/3sXHU4X)

OUTRAS RESENHAS DESTA OBRA: 
Memórias de Plantação: episódios de racismo cotidiano – KILOMBA (S-RH). Disponível em resenhacritica.com.br / https://bit.ly/2V2lx1G
- RIBEIRO, Djamila. “O racismo é uma problemática branca”, diz Grada Kilomba. Disponível em: geledes.org.br / https://bit.ly/3kE9257

VÍDEO-RESENHAS DESTA OBRA:

Live com Grada Kilomba

(Fonte: canal Colégio Equipe - YouTube / https://bit.ly/38pxRvN)
 
Roda de Conversa com Grada Kilomba e Djamila Ribeiro
(Fonte: canal Pinacoteca de São Paulo - YouTube / https://bit.ly/3jt56F2)

Memórias de plantação: episódios de racismo cotidiano

(Fonte: canal Letras Pretas - YouTube / https://bit.ly/3gNUjn8)


Memórias da Plantação, de Grada Kilomba
(Fonte: canal Literapia e uns Buquês de Etceteras - YouTube / https://bit.ly/3BtJf6m)

Memórias da Plantação, de Grada Kilomba
(Fonte: canal Alguém Viu Meus Óculos? - YouTube / https://bit.ly/2V4dZLS)

Memórias da Plantação, de Grada Kilomba
(Fonte: canal Aline Aimee - YouTube / https://bit.ly/3kVCWlJ)

Memórias da Plantação, de Grada Kilomba
(Fonte: canal Biblioteca da Letras da UFRJ - YouTube / https://bit.ly/3zyuAGH)

(Foto: geledes.org.br)
QUEM É GRADA KILOMBA?

1968, Lisboa, Portugal. Vive em Berlim, Alemanha
Grada Kilomba é uma escritora, teórica e artista que ativa e produz saber "descolonial" ao tecer relações entre gênero, raça e classe. Sua obra dispõe de formatos e registros distintos, como publicações, leituras encenadas, performances-palestras, videoinstalações e textos teóricos, criando um espaço híbrido entre conhecimento acadêmico e prática artística. É partindo do gesto duplo de descolonização do pensamento e de performatização do conhecimento que Kilomba salta do texto à performance e dá corpo, voz e imagem a seus escritos. Na 32a Bienal, a artista mostra dois projetos diferentes. The Desire Project [O projeto desejo] (2015-2016) é uma videoinstalação dividida em três momentos: While I Speak, While I Write e While I Walk [Enquanto falo, enquanto escrevo, enquanto ando], vídeos cujo principal elemento visual é a palavra e que indicam a aparição de um sujeito enunciador historicamente silenciado por narrativas coloniais. Já Illusions [Ilusões] (2016) é uma performance que usa a tradição africana de contar histórias em narrações e projeções de vídeo. A leitura evoca os mitos de Narciso e Eco como metáforas de um passado colonial e políticas de representação que só espelham a si mesmas.
(Fonte: bienal.org.br / https://bit.ly/3kEdUap)

(Foto: wikipedia.org)
Com raízes em São Tomé e Príncipe e Angola, reside desde 2008 em Berlim (Alemanha) e a experiência de crescer, estudar e trabalhar num país com fortes traços colonialistas marca profundamente o seu trabalho.
Conhecida principalmente pelo espaço híbrido que o seu trabalho cria, onde as fronteiras entre as linguagens acadêmicas e artísticas se confinam. A multidisciplinaridade da sua obra expande-se desde à escrita, à leitura encenada dos seus textos, assim como instalações de vídeo e performance, criando o que ela chama de “Performing Knowledge”.
Leciona em várias universidades internacionais e recentemente na Universidade de Humboldt, em Berlim, nas áreas de Estudos de Género e Estudos Pós-coloniais.
(Foto: flip.org.br)
As suas obras têm sido apresentadas em várias instituições artísticas renomadas da América, África e Europa, nomeadamente no Art Basel, The Power Plant em Toronto, Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (Maat) Lisboa, Maxim Gorki Theater (Berlim), Ballhaus Naunynstrasse (Berlim), Universidade do Rio de Janeiro, University of Accra (Gana), entre outros.
A Pinacoteca de São Paulo apresentou a primeira exposição individual de Grada Kilomba no Brasil, titulada "Grada Kilomba: Desobediências poéticas" com curadoria assinada por Valéria Piccoli. A exposição provoca a reflexão sobre a coleção de arte dos séculos XIX e XX do próprio museu, e por extensão toda História da Arte, criticando sobretudo suas raízes eurocêntricas e segredadoras.
(Fonte: wikipedia.org)

UM POUCO DA ARTE DE GRADA KILOMBA

[...]"Eu acho que a arte pode transformar. Que a arte e a literatura transformam sociedades. E acho que por uma razão muito simples: o que é mais fascinante na arte é que ela pode ser e deve ser política, mas, no meu entender, não é moral. Acho que é muito importante criar um diálogo com o teu público sem um senso de moralismo."[...]
(Fonte: LIMA, Juliana. A Desmantelar o Poder. Disponível em: uol.com.br/ecoa /  https://bit.ly/3mNKt8z)

-  Exposição no Bildmuseet, Suécia:  wsimag.com / https://bit.ly/3yzRUSW

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Trilha Antirracista / Sociologia, História: MULHERES, RAÇA E CLASSE, de Angela Davies

Quando se pensa na luta contra o racismo nos EUA, geralmente o que nos vem à mente são as histórias de mártires como Martin Luther King e Malcolm X que souberam, cada à sua maneira, fazer história na luta contra a segregação. Mas um detalhe que geralmente passa desapercebido nas aulas de História de modo geral é a omissão das mulheres neste contexto. É sabido que muitas, na mesma época, travavam batalhas tão heroicas quanto, mas não receberam a devida visibilidade. E para fazer justiça a elas, Angela Davis lançou em 1981 Mulheres, Raça e Classe, obra lançada pela editora Boitempo aqui no Brasil em 2016.

Angela Davis é ativista política, escritora e professora universitária. Com carreira iniciada no final dos anos 60, Davis fez parte dos Panteras Negras, do movimento de contracultura e dos direitos civis. Tamanha militância acabou por colocá-la como “inimiga pública número 1” dos EUA, acabou por resultar numa errônea prisão na época. Ela só foi solta meses depois devido a grande pressão popular. Para quem não conhece sua história é recomendado o documentário Free Angela Davis and All Political Prisioners.

No livro, Davis retoma a história dos EUA na época da escravidão, para trazer à tona a história de dezenas de mulheres que desde lá já enfrentavam as agruras ligadas ao racismo, ao sexismo e a luta de classes. E é aqui que reside o grande trunfo deste tratado acadêmico criado pela autora já que ela perpetua um olhar aguçado, multilateral, que ajuda a compreender as agruras daqueles tempos em que o Norte (liberal) e Sul (escravocrata) do país travavam batalhas ideológicas homéricas quando o assunto era o negro e a sua condição de vida.

Como marxista que é, Davis critica o capitalismo em defesa da classe trabalhadora que tanto foi (e ainda é) explorada nos primórdios da era industrial pós-escravidão com cargas horárias elevadas e baixos salários.

Por mais que hoje o feminismo esteja em voga (com algumas batalhas vencidas e outras tantas ainda pela frente), no século XIX o cenário era caótico, pois além da escravidão sulista, ao negro eram oferecidas as piores condições possíveis de sobrevivência ligadas à empregabilidade e a má remuneração (principalmente das mulheres), a segregação escolar e do direito ao voto, a cultura do estupro da mulher negra, o absurdo controle de natalidade imposto. Cansados desta sub-humana condição de vida, a partir dali se iniciou um longo embate visando a igualdade.

Outro ponto interessante é o fato de que grande parte das causas enfrentadas por mais que tivessem um viés feminista por grande parte da sociedade, as mesmas, de fato, diziam a respeito do modus operandi de um mundo mais justo e igualitário. E, aos poucos, os brancos (as mulheres essencialmente) compreenderam isto, uniram forças e conquistaram muitas das demandas solicitadas.

Utopias à parte, se almejamos uma sociedade mais justa, igualitária, independente do sexo, raça ou classe é preciso readequar o pensamento individual que, geralmente, atende a interesses próprios ou de um grupo e exclui todo o resto. Se você não acredita nisto, a leitura de Mulheres, raça e classe mostra o caminho.

(Fonte: LISBOA, Bruno. Resenha - Mulheres, Raça e Classe. Disponível em: opoderosoresumao.com.br / https://bit.ly/3sR2SCk)

Outras resenhas: 

- CYRINO, Rafaela. [Resenha a:] DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016. Disponível em: outubrorevista.com.br / https://bit.ly/3mE86Ay

- NATANSOHN, Graciela. Resenha: Mulheres, Raça e Classe, de Angela Davis. Disponível em: gigaufba.com.br / https://bit.ly/3sYZLbB

- BRETAS, Alexia. DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. Tradução de Heci Regina Candiani. São Paulo: Boitempo, 2016, 244p. Disponíevel em: scielo.br / https://bit.ly/3sRaB3m

Vídeo-resenhas

Mulher, Raça e Classe, com Marielle Franco
(Fonte: canal Mulheres de LUta - YouTube / https://bit.ly/3gzgpcQ)

Marielle Franco e Karina Vieira discutem Angela Davis no Brasil
(Fonte: canal TV Boitempo - YouTube / https://bit.ly/3kxPNKo)

Djamila Ribeiro fala sobre "Mulheres, Raça e Classe", de Angela Davis no Metropolis/TV Cultura
(Fonte: canal TV Boitempo - YouTube / https://bit.ly/3mEht3c)

Resenha #198 Mulheres, raça e classe, de Angela Davis
(Fonte: canal B de Barbárie - YouTube / https://bit.ly/3BjhLk0)

Livro: Mulheres, Raça e Classe
(Fonte: canal Letras Pretas - YouTube / https://bit.ly/3sU16jL)

Livro: Mulheres, Raça e Classe
(Fonte: canal Natasha - Redemunhando - YouTube / https://bit.ly/2XRA5lF)

QUEM É ANGELA DAVIS?
(Foto: commonwikimedia.org)
A militante, ativista e professora Angela Davis é uma mulher negra norte-americana que carrega uma importante trajetória de resistência contra a opressão, sobretudo contra o racismo e o sistema patriarcal.
Participante do coletivo Black Panthers no final da década de 60, Angela é um nome muito importante na luta por igualdade, tornando-se um ícone para o povo negro, principalmente para as mulheres.
Através de sua prática, ela nos mostra como é possível conciliar o pensamento acadêmico com a luta coletiva.

A trajetória de Angela Davis

Os primeiros anos
Angela Yvonne Davis nasceu em Birmingham, no Alabama (EUA) em 26 de janeiro de 1944. Filha de uma família de classe média baixa, tinha mais três irmãs.
A época e local onde ela cresceu contribuíram enormemente para que tenha se tornado uma mulher combativa e referência na luta pela emancipação do povo negro. Isso porque naquele tempo o estado do Alabama tinha a política de segregação racial, que só foi criminalizada vinte anos depois de seu nascimento.
Na cidade de Birmingham esses contrastes e tensões estavam bastante explícitos e no bairro em que Angela residia a violência era intensa, com ataques racistas constantes por membros da Ku Klux Klan. Tanto que houve diversos episódios de explosões de bombas contra a população negra.
Em um desses ataques foram colocados explosivos dentro de uma igreja frequentada pelo povo afro-americano. Nessa ocasião, quatro garotas foram mortas. Essas jovens eram bem próximas de Angela e de sua família.
Todo esse ambiente hostil em sua infância e adolescência fez crescer em Davis o sentimento de revolta e vontade de transformação da sociedade, lhe dando a certeza de que faria o possível para lutar pelo fim da opressão.

(Foto: arte de Lari Arantes sobre foto de arquivo)
Os anos de formação
Curiosa, Angela lia muito e se destacava na escola. Então, ainda jovem, em 1959, recebeu uma bolsa para estudar em Nova York, onde teve aulas com Herbert Marcuse (intelectual de esquerda ligado à Escola de Frankfurt), que lhe sugere estudar na Alemanha.
Assim, no ano seguinte dá continuidade aos estudos em solo alemão e lá tem aulas com outras figuras importantes como Theodor Adorno e Oskar Negt.
Quando retorna ao seu país de origem, ingressa no curso de filosofia na Universidade Brandeis, no estado de Massachusetts e em 1968 conclui mestrado na Universidade da Califórnia, sendo chamada mais tarde para ser professora assistente em aulas na instituição.
É nos anos 60 ainda - e em plena Guerra Fria - que Angela Davis filia-se ao Partido Comunista norte-americano. Por conta disso, ela acaba sendo perseguida e impedida de ministrar aulas na faculdade.

(Foto: arte Bernard Gotfryd)
Angela Davis e os Panteras Negras
Davis aproxima-se ainda mais da luta antirracista e conhece o partido Black Panthers (Panteras Negras, em português) entrando para o coletivo.
Essa era uma organização urbana de cunho socialista e marxista que pregava a auto-defesa do povo negro, o fim da violência policial e racista, realizando, entre outras coisas, ações de patrulhamento em bairros negros para evitar genocídios.
Aos poucos o partido começou a crescer e ramificar-se no país, tornando-se uma "ameaça" para os racistas.
Assim, em uma clara tentativa de desarmar os panteras negras, o governador da época, Ronald Reagan, aprova junto à Assembleia Legislativa da Califórnia uma lei que proibiria o porte de armas nas ruas.

A perseguição e o movimento Free Angela
Durante o julgamento de três jovens negros, acusados do assassinato de um policial, o tribunal foi invadido por ativistas do Panteras Negras. A ação terminou em confronto e morte de cinco pessoas, entre elas o juiz.
Davis não estava presente nesse episódio, mas a arma utilizada estava em seu nome. Assim, ela foi considerada uma personalidade perigosa e entrou para a lista das dez pessoas mais procuradas pelo FBI.
A ativista conseguiu fugir por dois meses, sendo capturada em Nova York em 1971. Seu julgamento demorou 17 meses, período em que Angela permaneceu encarcerada. As acusações eram graves e havia a possibilidade inclusive de pena de morte.
Por conta de sua projeção, relevância e inocência, ela tem o apoio de grande parte da sociedade. É criado um movimento em prol da sua liberdade que recebe o nome de Free Angela.
Em 1972 foram criadas músicas em sua defesa. A banda Rolling Stones lançou a canção Sweet black angel no álbum Exile on Main St. John Lennon e Yoko Ono produziram Angela, que integra o disco Some Time in New York City. Essas foram atitudes importantes vindas do meio cultural que deram visibilidade para o caso.
Então em junho 1972, a ativista e professora foi libertada e inocentada.

(Foto: dw.com)
Angela Davis em 1972
Angela Davis em 1972, pouco depois de ser inocentada, se encontra com Valentina Tereshkova, do comitê soviético de mulheres
A luta de Angela atualmente
A militância de Angela Davis ficou conhecida por envolver a resistência antirracista, o combate ao machismo e a luta contra as injustiças no sistema prisional.
Entretanto, sua postura ativista abarca muitas outras questões, na verdade seu posicionamento é a favor da liberdade de todos os seres. Tanto que, quando esteve encarcerada, tornou-se vegetariana. Hoje, vegana, uma de suas bandeiras é pelos direitos dos animais, pois entende a vida no planeta de forma integral.
Além disso, Davis também fala sobre problemas como a homofobia, transfobia, xenofobia, causas indígenas, aquecimento global e desigualdades causadas pelo capitalismo.
Uma de suas falas que pode representar seu pensamento resumidamente é:
Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela, porque tudo é desestabilizado a partir da base da pirâmide social onde se encontram as mulheres negras, muda-se isso, muda-se a base do capitalismo.
Com essa afirmação, Davis nos mostra como é importante mexer nas bases que fundam a sociedade, transformando a realidade com luta constante contra o racismo e o machismo estrutural.
Atualmente, ela é uma reconhecida professora na Universidade da Califórnia, integrando o departamento de estudos feministas e dedicando-se também a pesquisas sobre o sistema carcerário dos EUA.
Angela é uma mulher que fez de sua vida e sua história uma ferramenta de transformação social, tornando-se um exemplo e inspiração para os movimentos sociais e revolucionários em todo o mundo.

Confira abaixo sua fala durante a Marcha das Mulheres, realizada em Whashington,  em 2017.

(Fonte: canal Brasil de Fato - YouTube / https://bit.ly/3zozMNe)

(Foto: cut.org.br)
Angela Davis no Brasil
A professora e ativista continua atuando em várias partes do mundo e em 2019 esteve no Brasil participando de um ciclo de palestras no evento intitulado "Democracia em colapso?", organizado pela editora Boitempo e pelo Sesc São Paulo.
Angela veio ao país também para lançar seu livro Uma autobiografia.
Mesmo tendo visitado o Brasil anteriormente, na maioria das vezes foi à Bahia, essa foi a primeira vez que ela esteve em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Livros importantes de Angela Davis
São quatro as obras literárias de Angela Davis que chegaram ao Brasil. A editora responsável pelos lançamentos é a Boitempo.

"Mulheres, raça e classe"
Publicado no Brasil em 2016, Mulheres, raça e classe é um livro que traça um panorama sobre situação das mulheres na história e as relações com a questão racial e de classe social.
Na obra, a autora defende a importância de se pensar esses problemas de forma interseccional, ou seja, analisando de que maneira as opressões se combinam e se sobrepõem.

"Mulheres, cultura e política"
Essa é uma obra que reúne diversos artigos, nos quais a professora apresenta um levantamento com dados históricos e estatísticos sobre a situação das mulheres nos EUA durante as últimas décadas.
No livro, Angela também discorre sobre as relações políticas e econômicas norte-americanas em países da América Central, África e Oriente Médio e seus impactos nos movimentos sociais, enfraquecendo grupos oprimidos.

"Uma autobiografia"
Uma autobiografia é o relato de Angela Davis sobre sua vida e a situação norte-americana nos anos 60 e 70.
Publicado pela primeira vez em 1974, quando a ativista tinha apenas 28 anos e havia acabado de deixar a prisão, a obra conta sua trajetória pessoal ao mesmo tempo que apresenta o contexto racista e violento que sufocava a população negra dos EUA.

"A liberdade é uma luta constante"
Esse é um livro que traz uma compilação de artigos recentes da professora e ativista. São textos escritos entre 2013 e 2015 que carregam importantes reflexões sobre a liberdade.
A autora nos mostra como o movimento negro e feminista norte-americano se relaciona historicamente com outras lutas por emancipação humana, como o fim de um sistema prisional injusto e a luta palestina.

(Fonte: AIDAR, Laura. Angela Davies: biografia e principais livros. Disponível em: culturagenial.com / https://bit.ly/3yrki9Q)

Outras Biografias da Escritora e Ativista
- PAIVA, Vitor. A vida e a luta de Angela Davis, desde os anos 1960 até o discurso na Marcha das Mulheres nos EUA. Disponível em: hypeness.com.br / https://bit.ly/38gdKQD)
- ALEIXO, Isabela. O que a autobiografia de Angela Davis nos ensina sobre racismo epistêmico no Brasil. Disponível em: portalgeledes.org / https://bit.ly/3kB2Cnw)

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Trilha Antirracista / História: RASTROS DE RESISTÊNCIA, de Ale Santos

"
Este livro é um mapa que nos conduz por uma trilha em que os fragmentos da história nos levam a encontrar o tesouro escondido. E esse tesouro é tudo o que nos foi usurpado pós-colonização. Obrigado, Ale, graças a Oxalá (e para o terror de quem nos roubou). Este é apenas o primeiro livro. Que os orixás o acompanhem, apenas continue.” (parte do prefácio do livro escrito pelo rapper, cantor, letrista e compositor brasileiro Emicida)

O livro Rastros de Resistência, do pesquisador e influenciador digital Ale Santos, lançado pela Panda Books, traz vinte histórias inéditas sobre heróis e heroínas do povo negro. O objetivo da obra é apresentar ao público fatos e personagens que foram apagados e silenciados ao longo dos anos de colonialismo e pós-colonialismo.

O leitor irá conhecer o poderio do reino de Whydah, atual Benim, um dos grupos étnicos mais fortes e que se transformou no segundo maior exportador de escravos do mundo; as ideias que circularam sobre racismo científico no século XIX, culminando na criação de zoológicos humanos; o genocídio no Congo executado por belgas; e a chacina dos lanceiros negros no Rio Grande do Sul.

Para além do histórico de opressão, a obra presta uma homenagem aos grandes líderes que lutaram pela libertação de seu povo, como Benedito Meia-Légua e Dragão do Mar, no Nordeste brasileiro; Chico Rei, em Minas Gerais; Benkos Biohó, na Colômbia e outros. Há o relato de corajosas mulheres que são hoje ícones do poder negro feminino, como Nanny, na Jamaica; María Remédios Del Valle, na Argentina; Zacimba, em Angola.

O livro de Ale Santos é um marco na historiografia da cultura africana e afro-brasileira ao reunir fatos e personagens de diferentes períodos do Brasil e de países da África, sendo uma leitura indispensável na luta constante contra o racismo e o preconceito.

(Fonte: travessa.com.br / https://bit.ly/2Wt2Pkr)

Leia esta resenha da obra:
- NASCIMENTO, Sílvia. "Rastros de Resistência": com prefácio de Emicida, Ale Santos lança livro sobre história ancestral africana para leigos. Disponível em: mundonegro.inf.br / https://bit.ly/38datBT

Vídeo-resenhas da obra:

Marcelo Tas entrevista o escritor Ale Santos em seu programa "Provocações", na TV Cultura
(Fonte: canal Provoca - YouTube / https://bit.ly/3sQqo2q)

A importância das histórias pro povo negro
(Fonte: canal Um Bookaholic - YouTube / https://bit.ly/3BfgRVv

Rastros de Resistência
(Fonte: canal Meteoro Brasil - YouTube / https://bit.ly/38gYaEI)

QUEM É ALE SANTOS?

(Foto: ponte.org / divulgação)
De Cruzeiro, interior de São Paulo, para o mundo. Foi pelo Twitter que Ale Santos, 33 anos, ampliou a sua voz e as suas vivências. Foi pelo Twitter que ele criou pontes geográficas e sociais. Twitteiro desde 2009, o escritor e publicitário tem mais de 130 mil seguidores na plataforma. A partir desta quarta-feira (24/6) ele passa a integrar o time da Ponte Jornalismo como colunista.

Ale é autor do livro “Rastros de resistência: Histórias de luta e liberdade do povo negro”, lançado em 2019. A obra resgata o passado de grandes reinos que tiveram sua história apagada ou silenciada ao longo dos anos de colonialismo e pós-colonialismo, registrando as lutas e a resistência do povo negro. [...]

(FAUSTINE e VASCONCELOS. Escritor Ale Santos é o novo colunista da Ponte Jornalismo. Disponível em: ponte.org / https://bit.ly/3Dmd8Y7)

segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Trilha Antirracista / Literatura: NA MINHA PELE, de Lázaro Ramos

Na Minha Pele, 
de Lázaro Ramos

Sinopse:

“Movido pelo desejo de viver num mundo em que as pluralidades cultural, racial, étnica e social sejam vistas como um valor positivo, e não uma ameaça, Lázaro Ramos divide com o leitor suas reflexões sobre temas como ações afirmativas, respeito, gênero, família, libertação, afetividade e discriminação…”

Resenha:

O livro Na Minha Pele, do escritor/ator Lázaro Ramos, foi minha última leitura de 2017 e uma grata surpresa, por desconhecer a trajetória desse artista. Narrado de forma muito pessoal, em pouco menos de 150 páginas, o autor nos convida a refletir sobre temas muito atuais do nosso dia a dia, como: preconceito, identidade, conscientização social, cultura, raça, entre outros; na esperança de construirmos um mundo mais igualitário.

Mesclando passagens – que vão desde a sua infância humilde até a fase adulta – Lázaro constrói um relato pessoal e por vezes emotivo, no qual nos apresenta toda sua intensa inquietação sobre o mundo, por vezes, debatida no programa Espelho (Canal Brasil) e reflete sobre a sociedade de forma corajosa e lúcida.

Na Minha Pele desponta como uma obra de valor histórico pela relevância dos temas discutidos e, ainda, como memorial por apresentar costumes de lugares vividos pelo autor.

(Fonte: SILVA, Vanderson. Resenha | Na Minha Pele – Lázaro Ramos. Disponível em: O Capacitor / https://bit.ly/3jbhj0S)

Outras resenhas desta obra:

- SANTOS, Glauciane. Reflexões de um jovem escritor sobre as relações raciais no Brasil. Disponível em: Literafro (letras.ufmg.br) / https://bit.ly/3D7N42S

MELLONE, Maurício. Na Minha Pele: livro de Lázaro Ramos provoca reflexão sobre racismo. Disponível em: favodomellone.com.br / https://bit.ly/3B8hUX8)

VÍDEO-RESENHAS:

Resenha / Na Minha Pele, de Lázaro Ramos
(Fonte: canal Nove3 Quartos - YouTube / https://bit.ly/3goleFG)

Na Minha Pele [Resenha]
(Fonte: canal Paulo Nascimento - YouTube / https://bit.ly/3gqpzbo)

Na Minha Pele #livro
(Fonte: canal Rosajorosa - YouTube / https://bit.ly/3gsSImC)

Resenha do livro Na Minha Pele 
(Fonte: canal Voz de Crioula - YouTube / https://tinyurl.com/55f7ykuz)

Na Minha Pele: entrevista com Lázaro Ramos
(Fonte: canal Nexo Jornal - YouTube / https://bit.ly/3B77iYC)

QUEM É LÁZARO RAMOS?

(Foto: Bob Wolfenson)
O soteropolitano¹ nasceu em 01 de novembro de 1978 e cresceu em meio ao cenário pobre, porém, rico em cultura na periferia de Salvador. Foi justamente ali que o ator descobriria seu talento e chegaria a ocupar seu lugar no meio artístico.

Com apenas 10 anos de idade Lázaro Ramos aprendeu teatro na escola e já se apresentava como ator mirim em eventos escolares. Não demorou muito e engajou-se no projeto Bando do Teatro Olodum que integrava jovens às artes cênicas através do teatro e cinema. Biografia de Lázaro Ramos

O grupo teatral formado por atores negros era dirigido por Márcio Meirelles que sempre notou o talento nato de Lázaro Ramos.

Neste tempo o aprendiz de artes cênicas e futuro ator global se dividia entre um laboratório de análises clínicas onde trabalhava para ajudar a sustentar a casa, haja vista, ser filho único e sua mãe estar doente.

o passar em testes pela Rede Globo para o papel de Foguinho na novela Cobras e Lagartos o ator ganhou a simpatia nacional e se tornou um fenômeno. A novela levada ao ar em 2007 garantiu a Lázaro Ramos uma indicação ao Emmy por sua excelente interpretação.

Mas para chegar até o ano de 2007 e a uma novela da Globo o ator teve que fazer diversas peças desde 1993 quando na peça “A Máquina” ganhou notoriedade no eixo Rio – São Paulo. Foi justamente desta época que ele se aproximou de grandes atores e diretores.

(Foto: Manuela Scarpa / Brazil News)

Antes de chegar à novela Cobras e Lagartos a estreia de Lázaro Ramos foi na microssérie Pastores da Noite que lhe rendeu elogios dos principais diretores globais. Ao juntar-se a Wagner Moura, Lúcio Mauro Filho e outros atores da emissora Lázaro participou da série Sexo Frágil.

O papel de Lázaro Ramos assim como os demais se dividia em interpretar um homem e uma mulher.

O ator é um ativista dos direitos humanos e de conscientização contra o racismo. Casado com a atriz Taís Araújo tem dois filhos João Vicente de Araújo Ramos e Maria Antônia.

1. soteropolitano (adjetivo/substantivo masculino): relativo a Salvador - BA ou o que é seu natural ou habitante; salvadorense.
(Fonte: biografiaresumida.com.br / https://tinyurl.com/yn5k8ppw)

Outra biografia: 
- A Vida e a Carreira de Lázaro Ramos contada em Nove Tópicos. Disponível em: bol.uol.com.br / https://tinyurl.com/2zxad73p

Trilha Antirracista / Literatura: O CAÇADOR CIBERNÉTICO DA RUA 13, de Fábio Kabral

Em O Caçador Cibernético da Rua 13, Fábio Kabral apresenta elementos da mitologia lorubá em uma aventura futurista de tirar o fôlego. Com uma linguagem contemporânea, o autor cria um universo fantástico rico em detalhes, onde vivem um povo melaninado, com visual arrojado e usuário de uma tecnologia avançada. Neste universo, chamado Ketu 3, vive João Arolê, um jovem negro, caçador de aluguel de espíritos malignos. Um personagem complexo, que assim como os deuses africanos é suscetível a incerteza e arca com as consequências de viver em um mundo em que bem e mal não pertencem a dimensões distintas. João tem crises de consciência, dúvidas e insônias. Tenta compensar as mortes que causou como forma de se livrar das consequências dos seus atos. Uma oportunidade de redenção surge quando uma série de assassinatos envolvendo celebridades de Ketu Três faz seu povo precisar de um herói que possa solucionar esta questão. O que João não sabe é que sua tentativa de redenção o colocará frente a frente com questões mal resolvidas do seu passado, personificadas em um caçador vingativo, que o reencontra para um derradeiro acerto de contas.
A narrativa de O Caçador Cibernético da Rua 13 faz uso de elementos da cultura afrofuturista, surgida na década de 1960 e que ganhou força como movimento cultural na década de 1990, mesclando mitologia e cosmologia africana, fantasia, pós colonialismo, ciência, tecnologia e a arte de contar histórias com protagonismo de autores e personagens negros. O que Fábio Kabral nos sugere neste inventivo livro é um pouco mais que pensar um futuro para as populações negras, ele inspira reflexões sobre o cotidiano destas populações no presente, ao mirar nas possibilidades do que o povo negro já poderia viver, e que, percebemos refletido neste espelhamento de futuro, ainda não vive, em sua maioria.
Ao apropriar-se dos códigos do Afrofuturismo para narrar a emocionante trajetória de João Arolê, Fábio Kabral nos ensina sobre a cultura negra, os deuses e a ancestralidade, e nos oferece uma ótima história, daquelas que continuam nos acompanhando após a leitura. Um livro de aventura personalíssimo, de deuses, heróis e monstros, que todo leitor apaixonado por aventura e fantasia merece conhecer.
(Fonte: nota de orelha do livro escrita por Vagner Amaro - editor da Editora Malê)

Outras resenhas sobre esta obra:
- KABRAL, Fábio. [Afrofuturismo] O Cavaleiro Cibernético da Rua 13. Disponível em: medium.com / https://bit.ly/3y40MjD
- SYBYLLA, Lady. Resenha: O Cavaleiro Cibernético da Rua 13 de Fábio Kabral. Disponível em: momentumsaga.com / https://bit.ly/3j4pgoI

Vídeo-resenhas sobre esta obra:

Lançamento do livro - entrevista com o autor, Fábio Kabral

(Fonte: canal Editora Malê - YouTube /https://bit.ly/3zbSWWw


O Caçador Cibernético da Rua 13
(Fonte: canal Livros por Lívia - YouTube /  https://bit.ly/2UDYhqC)

O Caçador Cibernético da Rua 13 - Afrofuturismo
(Fonte: canal Rod Zandonadi - YouTube / https://bit.ly/2W9SXft)

Ler heróis negros me salvou - Nathália Braga
(Fonte: canal Nath Braga - YouTube / https://bit.ly/3j94yno)

QUEM É FÁBIO KABRAL?

Fábio nasceu no Rio de Janeiro, em 1980. Formou-se em Artes Cênicas na Casa das Artes de Laranjeiras. Em 1995 teve contato pela primeira vez com a saga de O Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien, que por muitos anos foi sua saga favorita. Ávido leitor de quadrinhos, em especial X-Men, os jogos da série Final Fantasy também serviram de inspiração para seu início na literatura.
Seu primeiro personagem, foi criado em 1996 em um poema épico transformado em livro e publicado em um fórum de discussão sobre O Senhor dos Anéis, mas ele nunca foi publicado. Sua segunda personagem, Kinemara, surgiu em 2003, que teve várias versões. Em 2007, depois de uma aula em uma oficina de criação literária, surgiu o personagem Numumba, em 2007. Juntando todas as partes que já estavam escritas, mais os personagens já prontos, eles foram mixados em uma nova obra chamada Ritos de Passagem. O livro conta a história de Gulungo, um guerreiro que se torna escravo e se apaixona por Kinemara, princesa de uma linhagem de feiticeiras.
Em 2007, lançou O Caçador Cibernético da Rua 13, um romance afrofuturista, que conta a história de João Arolê, um ciborgue caçador de espíritos malignos numa cidade com carros voadores e elementos da mitologia iorubá, inspirado nos orixás e na região de Queto. Em 2019 veio a sequência, A Cientista Guerreira do Facão Furioso, onde o autor contra a história da jovem cientista Jamila Olabamiji.
(Fonte: wikipedia.org)

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Trilha Antirracista / Literatura: TE PEGO LÁ FORA, de Rodrigo Ciríaco

A leitura dos contos de
"Te Pego Lá Fora!", do escritor e educador Rodrigo Ciríaco, traduz a crônica diária (ou seria diário crônico?), de um território por onde transito com certa frequência: a sala de aula. Temos nos textos as contradições que fazem parte desse mundo complexo que é a escola. Uma escola heterogênea, múltipla, pública, juvenil.

Dividido em quatro partes (estações), os textos atestam a assinatura humana, demasiadamente humana, do autor. A nova edição, agora pela editora DSOP (a primeira era um edição independente de 2009), ganhou o reforço de quatro textos adicionais: "Pratos Limpos" (no capítulo Verão), "Sem Volta" (Outono), "Boas-vindas" (Inverno) e "Poeta" (Primavera).

Todos os textos refletem a escola que temos nesse início de século. Chama a atenção em "Te Pego Lá Fora" a polifonia de vozes que Ciríaco traz à tona: alunos, diretores, professores, funcionários em geral, todos são convocados para dar suas versões. Então, como não se surpreender com a menina que desmaia de fome mas mesmo assim não come a merenda, por vergonha ("Bia Não Quer Merendar", p. 19)? Ou o giro apocalíptico que nos é ofertado na leitura de "Pratos Limpos" (p. 29)? Ou o desconcerto corporativista, "oficialesco" e medieval da hierarquia escolar em "Papo Reto" (p. 49)? A viagem pelos contos do livro também nos traz humor, mesmo que seja meio ¹blasé, no divertido diálogo de "Boi na Linha" (p. 89), onde  os dialetos diferentes da aluna e do professor não permitem que o segundo não entenda o recado da primeira. Ou o irônico  "Aprendiz" (p. 17), enredo com cara de crônica que deságua num desfecho dolorido e escatológico. [...]

1. blasé (adjetivo): que exprime completa indiferença pela novidade, pelo que deve comover, chocar etc.

(Fonte: escobarfranelas.blogspot.com / https://bit.ly/3miEvfv)

Outras resenhas:

(Foto: arquivo novaescola.org.br)
A frase tatuada no braço de Rodrigo: "O estudo é o escudo."
[...] Rodrigo Ciríaco, professor de escolas da periferia, escreve com sangue a vida que se esvai entre tudo o que poderia ser. O que poderia ser aparece nas propagandas do governo, quando mostra prédios arrumadinhos, limpinhos e equipadinhos. A realidade é outra, evidenciam fotos publicadas ao final do livro. Isto não é um lamento vazio de quem não tem vontades. O autor mostra que há desejo, sim. Mas, a desesperança dos alunos parece ser muito maior. E o descaso da hierarquia já nos núcleos educativos (secretárias, diretoria das escolas) dá mostras da ineficiência da superestrutura. [...]
(Fonte: resumos.netsaber.com.br / https://bit.ly/37YJCJt)

Imagem: Junior Lago, UOL
“Eu entrei na universidade já com esse objetivo: me formar como professor e trabalhar na rede pública de ensino. Achava que tinha aptidão e queria devolver para a sociedade esse investimento que foi feito em mim, na minha formação”, afirma Ciríaco. Depois de 14 anos como professor, atuando nas redes municipal e estadual, ele deixou a sala de aula para se dedicar aos livros, aos projetos de formação literária (que também realiza em parceira com escolas) e saraus na periferia. Foi agredido diariamente pela dureza da sua realidade, mas diz que continua acreditando na escola pública.   “A educação tem que ser pública e gratuita, para todos, para a inclusão (...) Sou fruto da escola pública”, diz. “Não saio [da sala de aula] frustrado, porque sempre trabalhei da melhor forma dentro das condições que eu tinha, mas saio com um sentimento de derrota porque não consegui ver a escola mudar e melhorar como eu gostaria. Como um soldado que tem que se aposentar sabendo que fez o que pode com as armas que tinha em mãos”
(Fonte: educacao.uol.com.br / https://bit.ly/3swUOqa)

VÍDEO-RESENHA:

Rodrigo Ciríaco - Te Pego Lá Fora
(Fonte: canal Du Livros - YouTube / https://bit.ly/3zgTMRC)

Lançamento do livro "Te Pego Lá Fora"
(Fonte: canal Editora DSOP - YouTube / https://bit.ly/3miUJFz)


Quem é Rodrigo Ciríaco?
(Foto: arquivo Editora Nós)
Rodrigo Ciríaco é educador e escritor, autor dos livros “Te Pego Lá Fora”, “100 Mágoas” e “Vendo Pó…esia”. Participa há mais de 10 anos do movimento de saraus da periferia. É idealizador do projeto “Literatura (é) Possível”, que desde 2006 desenvolve ações de incentivo a leitura, produção escrita e difusão literária em escolas públicas estaduais e municipais, com o “Sarauzim – Sarau dos Mesquiteiros”. Foi autor convidado do Salão de Paris (2015 e 2013), FELIV – Festival do Livro e Literatura Infanto-Juvenil da Argelia (2014), 40ª Feira Internacional do Livro de Buenos Aires (2014), FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty (2011), entre outros.
(Fonte: editoranos.com.br / https://bit.ly/3D1n7lr)

MAIS SOBRE RODRIGO CIRÍACO E SUA LITERATURA

Sobre literatura e "periafricania"
(Fonte: canal Rodrigo Ciríaco - YouTube / https://bitlybr.com/PsdAyO)

Notícias Univesp - Sarau dos Mesquiteiros - Rodrigo Ciríaco
(Fonte: canal UNIVESP - YouTube / https://bitlybr.com/EDsXya)

O espaço onde a literatura acontece
(Fonte: canal SisEB - YouTube / https://bitlybr.com/LuNCtPUY)

Poeta Rodrigo Ciríaco no programa Manos e Minas, da TV Cultura 
(Fonte: canal Manos e Minas - YouTube / https://bit.ly/37ZxrMx)

ANO 2024 - Bem-vindos!

CARDÁPIO DO MÊS - Abril 2024

O projeto CARDÁPIO DO MÊS tem por objetivo chamar a atenção dos usuários da Sala de Leitura para determinadas obras que a cada mês são sel...